A saudade é corrosiva e a dúvida é uma gotinha de ácido sulfúrico.
Meu eterno medo de dar meu coração para outra pessoa cuidar faz com que eu mantenha meus pés no degrau da segurança. Mas isso está aos poucos mudando. Aos poucos. Repito que o processo é vagaroso e pouco consciente.
O perigo real de pertencer a outro alguém é a probabilidade certa de fracasso.
Real e certa de fracasso. Repito certamente será um fracasso.
Isso se dá pela desordem da mente humana e nem há adjetivo em nossa língua para explicar o caos dos sentimentos. Então acabamos gostando do que é proibido mais ainda se for proibido e escondido. Muito nos interessa o desconhecido e o que é misterioso é magicamente magnético aos olhos, boca, nariz, mãos todos os sentidos.
Além disso, cuidar de outro alguém é muito difícil, uma vez que quem sente os outros sentimentos, quem vive os outros pensamentos, quem sente fome e sede de algo não somos nós. Como satisfazer um corpo que não me dá dicas fisiológicas marcantes?
Se vejo o outro corpo triste pode ser fome, sede, dor de cabeça, um machucado no pé, muitas coisas. Aí entra a comunicação, falar o que sente pro outro. Dizer estou com sede. Estou com fome. Estou carente.
Mas e quando o outro não sabe explicar o que está sentindo? E se for um sentimento novo e estranho? E se for algo que o outro não queira dizer? Por vergonha, medo ou porque ainda não é a hora certa...
O que acontece?
Você pode adivinhar. Tá doendo? Tá com fome? Tá apertado?
Quer ir no cinema? Quer um Ponstan®? Quer ir ver sua mãe?
Não adianta. A dor não é sua, ou a fome, ou o vazio sem nome. Adivinhar não vai funcionar.
Aí pode vir a fase de "Será que elx não confia em mim?", "Será que não me ama mais?", "Será que conheceu alguém que lhe completa mais que eu?", "Será que fiz algo errado?"...
E o outro corpo pode pensar "Por que não consigo explicar?", "Por que elx não me entende?", "Por que desistiu de me entender?"...
O primeiro corpo não se sente suficiente, o segundo não está satisfeito. Uma crise se instala porque esqueceram-se do princípio básico de que: quem sabe o que é melhor pra mim sou eu mesmo. O maior perigo de pertencer a alguém é não me pertencer mais. É acabar me perdendo...
Não pertencer a alguém, mas doar de mim um pouquinho todo dia é meu processo vagaroso e continuo, pequenas doses de uma parte boa e má. Do meu melhor e pior. De quem sou eu e assim o outro corpo vai me reconhecer em todos os meus dias. Serei um mistério todos os dias a ser desvendado nas próximas vinte e quatro horas. Vai se manter atualizado, por dentro de todos os cataclismos que ocorrem dentro de mim e eu não sei o nome. Um pedacinho do meu coração diariamente, até o dia que meu coração será nosso.
Ninguém melhor do que eu pra sabe o que é melhor pra mim, pra saber que transformar em nosso é ter quatro mãos cuidando antes de duas.
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