domingo, 24 de agosto de 2014

Véspera (de novo)

Ao terminar de preparar minhas malas na véspera da viagem, dia 17 deste mês, eu estava arrependida de ter planejado passar antes no Rio e em Salvador até chegar em Recife. Estava ansiosa, cheia demais de expectativas e com a atitude de quem foi abduzida pelo espírito paulistano para "fazer nova vida" logo. Isso não era eu, não sou assim, eu ESTAVA daquele jeito, descobri com o passar dos dias que a melhor coisa que fiz foi me dar férias.

No Rio eu perdi toda a minha ansiedade. Fiz novos caminhos, tive novas companhias e quem sabe não iniciei uma paixão que tenha continuidade. O Rio me devolveu o amor à arte, processo iniciado em Porto Alegre, me mostrou que sou uma pessoa que pode ser objetiva e sincera sem ser mal educada ou antipática.

Aqui, em Salvador, eu reencontrei a tranquilidade, a calma e fiz amigos. Diferente do Rio, aqui nos tornamos uma família. Se um não pode sair, ninguém sai. Fizemos de tudo juntos, vou sentir muita falta deste grupo, tão distinto e tão humano.

Amanhã eu embarco para Recife, hoje eu estou novamente um pouco preocupada com esta "nova vida", mas é diferente. Estou bem, estou aberta às oportunidades, não tenho ilusões de realizar grandes escolhas definitivas, a vida não é definitiva. A vida não é uma lista de tarefas que você deve ir checando. Estou nostálgica de saudades, mas estou leve, tranquila e feliz.

Obrigada a todos que fizeram estes poucos dias perecer e realmente ser uma vida.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

E a minha casa será a estrada

Passei dez anos em uma grande cidade, com tudo em excesso. Muitas pessoas, muitos carros, muito barulho, muito lixo, muita cultura, muito tudo.

Isso de cidade grande de todo mundo tá correndo pra fazer a vida e ser alguém às vezes martiriza e perturba quem muitas vezes pensou: "e se eu não quiser assim?" ;"E se eu não for deste jeito?"

Então com medo, com coração pequeno, com olhos molhados, com mãos suadas e dor de barriga você reúne algumas roupas numa mochila e as entranhas dentro de você e sai. Pega um ônibus, depois um avião, depois anda a pé e se encontra na estrada depois de bastante tempo sonhando com ela.

Na estrada você conhece outras pessoas que estão nela há um dia, uma semana ou alguns anos e os seus sonhos também são os sonhos de alguns, outros tem planos parecidos, ou até já realizaram a façanha de conhecer 102 países, coisa que você, medíocre e pequeno jamais se permitiu sonhar. Um dia você está tomando café com alguns novos amigos e dar-se conta de que, sim, você é normal, a vida pode ser normal dentro de uma grande cidade, mas também tem total direito de ser normal na estrada, em um lugar diferente constantemente, mas onde você se sente em casa.

Então você percebe que não ser normal é normal. Que o "normal" para algumas pessoas pode não ser sua forma de ser normal, mas tudo bem, porque é assim que você se sente bem, vivo e isso é tudo hoje, amanhã a gente decide o que será normal para nós.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Rio de Janeiro

Uma cidade que todo mundo acha que conhece, seja por novela da globo, por cartão postal ou pelas belas músicas, é difícil encontrar alguém que não tenha uma ideia de como é o Rio. Eu tinha uma ideia e cheguei tímida e cheia de medo. Porém a cidade está ali e você tem de se abrir e ao entrar no Rio e me deixar ser parte de toda sua magia, a cidade transformou minha ideia em fumaça e riu de minha pouca imaginação.

Riu de mim todos os dias ao encher meus olhos de vegetação, água salgada de mar e hospitalidade humana. Riu de mim na floresta da Tijuca, no som de Ipanema e Leblon, nas belas Ruas de Copacabana, no feitiço dos caminhos da Lapa. Riu de mim de tantas formas possíveis e simbólicas que eu acabei rindo de mim também. Um riso bom e solto, uma risada gostosa e bem embalada. Nada de deboche.

Por que sonhei eu uma cidade tão pequena se o Rio cabe todo o mundo?
Pessoa de tantos lugares que o eco de suas línguas ainda estão povoando a minha mente.
Tantas artes que meus olhos ainda estão ofuscados.
Tanto que ainda nem sei, o pouco que conheci já me encheu por dias.
Estou transbordando Rio de Janeiro, estou suspirando Rio de janeiro, estou exalando Rio de Janeiro.

E mesmo sabendo que vou demorar a voltar, quero que essa ressaca, esta barriga cheia da cidade maravilhosa demore o máximo possível.

Porque todos os caminhos levam (de volta) ao Rio.

Ipanema

Arpoador

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Dicas para algum louco que queira fazer o que estou fazendo.

E o que é que eu estou fazendo?

Bem, a alguns anos coloquei em minha cabecinha de Dora que não queria morar onde atualmente e por muitos anos residi, não gostava daqui e decidi ir embora assim que possível.
Assim que possível traduziu-se como: Logo após a conclusão do meu curso universitário, uma vez que portando um diploma poderia eu escolher qualquer lugar que me agradasse para morar.
Sendo assim, fazer o que estou fazendo é ir morar em outro lugar, distante do atual e deixar toda uma vida para trás sozinho(a).
Morei aqui em São Paulo de 2004 a 2014, chegando em julho e saindo em agosto, fechando direitinho 10 anos. Em um ano você faz colegas, em cinco anos você faz amigos, mas em 10... Veja bem, leva-se no peito alguns irmãos de não sangue.
Embarcar numa aventura desta pode ser empolgante, instigante, intrigante, desafiador, mas vai por mim, você vai precisar mais que colhões para executa-la com toda destreza.
Eu ainda estou no processo de, pego o avião depois de amanhã, mas vão algumas dicas desde já para a etapa 1: sair, depois escrevo sobre a etapa 2: chegar ao novo destino.

0. Tenha certeza da sua escolha, blefar sobre algo assim só vai fragilizar emocional e psicologicamente você e as pessoas que te amam.

1. Não compre as passagens com muita antecedência, isso vai deixa-lo(a) ainda mais ansioso(a).

2. Apesar de ir preparando as pessoas que conhece para a sua saída, não diga a todas assim que comprar a sua passagem, conte aos poucos para as pessoas mais chegadas primeiro e depois para os demais colegas, evite ansiedade nas pessoas.

3. Mantenha sua família e seus amigos mais próximos atualizados de todos os seus planos, fazer eles se sentirem participativos ativos de sua aventura faz bem a eles e os deixa mais calmos e preparados para a partida.

4. Aja naturalmente com seus colegas, evite falar sobre assuntos muito pessoais com eles, com o tempo ter com quem falar trivialidades e esquecer um pouco a expectativa de ir embora vai te fazer bem.

5. Não use o fato de estar indo embora como motivo para "chantagem emocional", em nenhuma hipótese.

6. Resolva tudo que estiver pendente no local onde você reside antes de sair, deixar algo pra trás pode trazer dores de cabeça futuras desnecessárias. Fazer uma lista e ir ticando os itens é uma boa maneira de se organizar.

7. Descubra o que pode ser resolvido sobre sua nova vida mesmo antes de chegar e resolva, o que não puder... Esqueça pelo menos enquanto ainda não estiver na sua nova cidade, não fique ansioso(a) a toa.

8. Próximo a sua ida evite ver as pessoas aos poucos, quanto mais despedida você viver, mais você vai sofrer. Tente marcar uma festa ou reunião de despedida centralizada, assim você sente de uma vez e não fica sofrendo aos poucos. E não faça isso no aeroporto, evite tumulto em locais públicos, faça na sua casa, na casa de um amigo ou num bar, são as melhores opções.

9. Escolha um bom horário de chegada, de preferência de dia, por volta da hora do almoço, chegar muito cedo ou muito tarde em qualquer que seja o destino pode trazer inconvenientes desnecessários.

10. Se estiver deixando para trás um emprego e contatos profissionais, mantenha as portas sempre abertas, não saia xingando ninguém, aqui vale o clichê: "do futuro ninguém sabe...".

Viva os seus momentos presentes, aproveite os dias que ainda tiver com seus amigos e sua família, não existe um dia para a vida começar, a sua vida está acontecendo sempre, quer você queira ou não.
Não mude de cidade atrás de utopias ou ilusões, às vezes procurar um psicólogo para te ajudar a ter certeza se a sua saída é pelos motivos certos é uma boa escolha, uma conversa com alguém que estudou para ajudar as pessoas e não é seu amigo, alguém que você não tem que agradar pode ser uma ótima experiência.

Boa sorte!