domingo, 6 de março de 2016

Meu mundo

Eba! Iupi! Uhu! Oba!
Hoje eu ainda não acredito, talvez a ficha só caia quando eles chegarem, mas uma coisa é certa: as passagens estão compradas, meus pais estão vindo me visitar em maio.
Com esse lance de documentação pra realizar o casamento e oficializar minha moradia neste novo mundo eu estou impedida de sair do país, porque se eu for visitar minha família eu não posso voltar antes de  no mínimo quatro meses, uma merda de regras de ida e vinda internacional.
Mas, se eu não posso ir... eles podem vir!!!

A ideia não foi minha, uma vez que minha mentalidade brasileira ainda não se acostumou que as coisas não são impossíveis deste lado do oceano. Eu fico impressionada com as amigas do meu namorado (S.) falando que vão viajar pras Filipinas no final do mês de julho sendo que acabaram de voltar de uma viagem pra Miami e Cancun semana passada. Como assim? Fazer uma viagem pra Miami e Cancun uma vez na vida de alguém que eu conheço no Brasil seria um luxo, imagina fazer uma viagem assim uma vez por trimestre.
Posso contar nos dedos das mãos quantas pessoas conheço que já viajaram pro exterior dos meus conhecidos brasileiros. Temos tantos países vizinhos "baratos" e "fáceis" de visitar, por que os brasileiros da classe economica que eu conheço, ou seja, pessoas que trabalham todo dia por um salário "normal", não viajam? Por que é tão difícil pro brasileiro viajar pro exterior?
Bom, a resposta é simples, o "salário médio" da maioria dos brasileiros é um pouco acima do "salário mínimo", mas mesmo assim não cobre as despesas de uma sobrevivência digna mínima.

Meu irmão tá com o nome sujo por causa de aluguel, meu pai por causa de cartão de crédito, umas colegas de SP por causa das mensalidades atrasadas da faculdade, uma outra amiga por causa dos móveis do quarto do bebê. E assim vai. Ter dívida para o brasileiro se tornou a única opção para continuar se vestindo, comendo e morando sob um teto. Não são dívidas de luxo, não são dívidas que alimentam vícios, essas pessoas que conheço querem pagar seus débitos, elas não pagam porque não podem.

Onde fica então a reserva de dinheiro pra viajar pro exterior quando o cidadão não tem reserva pra comprar um remédio quando fica doente? Como viajar pro exterior quando nós não conhecemos nem o Brasil?

Sonho com o dia cuja desigualdade socio-econômica no Brasil será tão sutil como uma brisa, que a diferença entre a vida econômica de um professor da rede pública e um promotor público seja a escolha entre viajar pra Bali ou Australia, seja comer num restaurante mexicano ou chinês no sábado à noite.
O brasileiro não tem, hoje, direito a comer fora, a se vestir como quer, a ler o que gosta, a ir a um show e não ter que fazer um rombo no orçamento semestral. O brasileiro precisa de oportunidade para descobrir do que gosta. Como alguém pode saber se gosta de jogar tênis se nunca nem pegou numa raquete?
Como alguém pode saber se ama ópera se nunca entrou num teatro?

Temos fome de vida.

Registro aqui que a gente não precisa viver que nem outras pessoas vivem em países ricos pra viver bem, fazer o que eles fazem, pensar como eles pensam, a civilização "importada" não é a melhor forma de se descobrir como ser humano pleno.

Mas eu não quero só sobreviver em um país tropical matando o calor com cerveja gelada e passar o ano todo esperando fevereiro. Quero oportunidade de experimentar tudo que os ricos têm mundo afora e tudo que já temos e amamos tanto. Quero descobrir, assim como já disse o sábio Caetano, o que nós podemos fazer com a tal civilização e criar nossa própria forma de viver.

Porque existe vida no nosso hemisfério "Sul" do mundo, que pra mim não é nem de baixo nem de cima, o mundo é redondo e vive dando volta, se você diz que tá na parte de cima o problema é teu que fala de uma bola solta no espaço como se fosse um quadrado encima de uma mesa. Abestado!   

"O mundo está ao contrário e ninguém reparou [...]" Cássia Eller

terça-feira, 1 de março de 2016

WHAT HAPPENED, MISS SIMONE?

Um documentário pode ser tão emocionante como uma canção?
Uma vida pode ser resumida em menos de duas horas de filme?
O que faz uma pessoa famosa? Qual o valor, o preço e o custo da fama?

Uma vida marcada pela música, paixão pela liberdade e luta pelos direitos civis dos cidadãos negros nos Estados Unidos dos anos sessenta.
Aprender qual a nossa opinião e saber mostra-la ao mundo. O sabor de expressar-se acima dos limites dos padrões sociais vigentes. Luta por voz, por direito á vida e á liberdade. Eu estou tocada pela beleza de sua existência de luz num contexto tão ingrato, sujo e de raso egoísmo. 
Ela foi um gênio, isso não sou eu que digo, mas concordo.
  A emoção da vida ultrapassa nossa existência, num mundo em que cada segundo deprime e cada falha que cometemos mata três amigos. Viver é um eterno ato de sobrevivência. Viver é caçoar da possibilidade de hoje ser o último dia. Todo dia. 

A diretora Liz Garbus mostra neste documentário produzido com o Netflix o lado revolucionário, feminista, genial, forte e fragilizado de uma imagem profunda e inesquecível da música mundial. Nina Simone foi mais que uma cantora de Jazz, mais que uma pianista clássica, mais que uma mulher que sofreu abusos do marido, mais que uma mãe que não teve direito de criar sua filha. Nina Simone foi mais que queria e podia, o mundo tirou e continuou tirando tudo que podia de seu talento e sua vida pessoal.
O mundo coroa e depois cobra com juros a fama que dá.
Tudo tem um preço e o que Nina pagou foi injusto e caro.


Hoje minha humilde emoção e lágrimas brindam à memória desse fenômeno que nós conhecemos por Nina Simone.