sexta-feira, 22 de abril de 2016

Dizem que ser sensível é coisa de “mulherzinha”

Quando eu era pequena eu conheci cedo a encheção de saco dos pequenos machistinhas. Nas escolas que visitei apareciam cada vez novas maneiras de humilhação pelo único fato de ter nascido “mulherzinha”. Falavam mal do meu cabelo, crespo; da minha altura, porque eu era maior que eles; do meu sotaque, mistura entre o nordeste e todo o resto do nosso Brasil; da minha inteligência, porque eu era mais esperta; da minha afeição esportiva, porque eu corria mais rápido; do meu jeito de andar e falar, porque eu não era tímida; etc. Ao mesmo tempo eles pegavam no pé das garotas que não eram tão espertas, das que não eram tão esportivas, das que eram tímidas, das que não tinham sotaque além do local, das baixinhas, das gordinhas, das magrinhas, das negrinhas e das branquinhas. Como se qualquer característica fosse motivo para chacota quando você nasce garota.

Isso teve resultados, além de ter deixado algumas pernas alheias roxas pelo caminho, me endureci, me fechei, me blindei totalmente contra essas palavras. Eu me protegi de todo esse ácido e corrosivo veneno que vem sendo destilado a milênios e repetido por gerações, uma após a outra sem muita criatividade. Aprendi a ignorar, a não escutar, a ter ouvidos e coração, mais que seletivos, pedrificados. Passei a julgar as pessoas pelas primeiras palavras que proferiam e a classifica-las em pessoas e sombras, sendo que essas eram mudas para mim como um muro de cemitério. Aprendi a não dar segunda chance. Aprendi a condenar vidas em três minutos.

Os anos foram passando, o machismo não mudou, então eu continuava usando minhas armas de defesa. Fechada na minha fortaleza, quando ouvia o murmúrio de uma garota falando alguma besteira por puro reflexo de repetir palavras vazias, eu me afastava no maior silêncio que podia para que ela não percebesse a minha ausência até o momento que isso não fizesse mais diferença. Se o mundo é machista, se o sistema é machista, se tudo que eu vejo tá errado, então o mais sensato a fazer é criar um mundo só para mim, no meu silêncio, andar na beirada e evitar companhias machistas ácidas, garotos ou garotas, evitar ter contato pessoal e pronto, assim o meu mundo não vai ser machista. Certo?

Bom, é claro que esse método até funcionou por um tempo, como vocês podem imaginar, eu consegui sucesso com alguns momentos de paz na minha vida. Mas toda vez que eu saía na rua à noite, toda vez que eu ligava a tevê no horário do jornal, da novela, do filme, do seriado juvenil, toda vez que ia fazer aula de educação física, de literatura, de química, de matemática, de português, de história, toda vez que eu assistia um filme “americano”, Toda vez que ia ao ponto de ônibus, pegava o trem, o metrô, andando de bicicleta, toda vez que lia um livro “romântico”, de aventura, de suspense, de filosofia, toda vez que ia na balada, no shopping, no parque, na praia, toda vez que pensava no vestibular, na vida, na carreira, toda vez que ouvia música internacional, funck, axé, samba, sertanejo, MPB, rock, toda vez que falava sobre política, sociologia, história, toda vez que ia comprar roupa nova, sapato, carne, pão, toda vez que a família se reunia no natal, no enterro, no aniversário, no casamento, toda vez que um cara queria ficar comigo, com minha amiga, toda vez que eu queria ficar com um cara, toda vez que assistia à um clipe musical de hip hop, ai e o etc?!. 

Toda vez que eu interagia com o mundo exterior alguma coisa não ia bem, eu sabia que algo não estava certo. Sentia algo fervendo dentro de mim, seria isso uma náusea? Uma taquicardia? Uma revolta antiga e genética? Um sentimento? Uma razão? Existe uma palavra para esse negócio horroroso?

Sim, descobri que existe. O nome desse mal-estar é revolta. Provocada por uma injustiça óbvia – leia-se descarada – e por muito tempo perpetuada por falhas culturais, ela é um dos inúmeros sintomas de uma síndrome da moral que afeta todas as vidas femininas diretamente e todas as vidas humanas em mais de um aspecto. Mas ao contrário das doenças do corpo, ela pode salvar uma vida e ao invés de destruí-la. A revolta nasce devagar, ela vem silenciosa, calma, numa tranquilidade de quem sabe a segurança dos seus próprios argumentos, então espera. A revolta é clara como o sol de Pernambuco ao meio dia, ela não precisa de artimanhas para abrir espaço, ela é alimentada por fatos, que infelizmente ocorrem diariamente. Não posso precisar quando ela começou, mas um dia não pude negar sua presença. 

Ela veio silenciosamente para me dar voz. Então eu falei! Gritei! Berrei! Extravasei! Incomodei! Ridicularizei! Ataquei! Vociferei! Argumentei! Desabafei! Rebati! Compreendi. Aprendi que meu silêncio não dava paz, alimentava de forma passiva o sistema do qual eu fingia me proteger. Descobri que minha falta de voz também era uma forma de machismo, uma forma de violência, se eu preciso estar em silêncio para não me encontrar em alguma situação desagradável ou de perigo no dia-a-dia, então isso também é uma repressão. Separar-me do convívio de mulheres que repetem palavras vazias não vai ajuda-las a extinguir este ato, não vai fazer com que eu não escute nunca mais alguma besteira machista vindo de uma mulher. Tratar outras mulheres como inimigas por instinto da natureza não vai me fazer ter a amizade dos homens, aqueles que dominam o poder do nosso sistema atual. Percebi que fechar minha vida contra pessoas que têm opiniões diferentes de mim e criar formas de preconceito para me proteger delas é exatamente o que o machismo faz, tentando me proteger do machismo eu estava me tornando igual a eles. O machismo me isolou e assim eu me sentia exatamente como eles queriam que eu me sentisse: fraca, indefesa e sozinha. (Assim, tipo a Bela Adormecida, só pra ilustrar um pouco.)

Quem nunca se sentiu assim? Quem nunca quis ir embora pra sempre? Quem nunca sonhou em ter nascido num mundo diferente? Um mundo onde todos os seres humanos fossem respeitados e tivessem as mesmas oportunidades na vida. Um mundo onde você fosse valorizado pelo o que é e o que escolhe lutar pra ser, e nada mais fosse tão importante. Um mundo onde não se tivesse medo de ser morta, estuprada, assediada, desrespeitada por toda forma de violência física, psíquica e moral todo dia.

Um dia mulheres sonharam com este mundo antes de mim e você, assim nasceu o FEMINISMO, um movimento que foi criado não por vontade ou por diversão, mas por pura e simples necessidade. O feminismo tem como objetivo a igualdade entre os seres humanos, dizer não a discriminação baseada no gênero. Não podar garotas e garotos de fazerem o que gostam, de exercer atividades com as quais se identificam somente pelo simples fato de serem garotas ou garotos. Poderia viver toda a minha vida como um fantasma que não concorda, não pratica, mas também não combate o machismo. Poderia passar a minha vida dizendo que não preciso do feminismo. Poderia passar a minha vida sem voz. Poderia passar a minha vida toda sem viver. Mas um dia eu preferi gritar, por mim e por todas! Eu prefiro incomodar, dizer “hey! Eu tô aqui e não concordo, isso não está certo e eu não vou ficar calada e só aceitar!” Hoje eu tenho dias ruins, mal humor com o mundo às vezes, desesperança e cansaço. Mas é só às vezes, é melhor às vezes estar desanimada do que todo dia.



Sendo criada num sistema machista aprendi cedo a ser insensível, comigo mesma e com os outros, principalmente com as outras. Dizem que ser sensível é coisa de “mulherzinha”. Pois eu digo que não, sensibilidade é coisa de mulherão!

domingo, 6 de março de 2016

Meu mundo

Eba! Iupi! Uhu! Oba!
Hoje eu ainda não acredito, talvez a ficha só caia quando eles chegarem, mas uma coisa é certa: as passagens estão compradas, meus pais estão vindo me visitar em maio.
Com esse lance de documentação pra realizar o casamento e oficializar minha moradia neste novo mundo eu estou impedida de sair do país, porque se eu for visitar minha família eu não posso voltar antes de  no mínimo quatro meses, uma merda de regras de ida e vinda internacional.
Mas, se eu não posso ir... eles podem vir!!!

A ideia não foi minha, uma vez que minha mentalidade brasileira ainda não se acostumou que as coisas não são impossíveis deste lado do oceano. Eu fico impressionada com as amigas do meu namorado (S.) falando que vão viajar pras Filipinas no final do mês de julho sendo que acabaram de voltar de uma viagem pra Miami e Cancun semana passada. Como assim? Fazer uma viagem pra Miami e Cancun uma vez na vida de alguém que eu conheço no Brasil seria um luxo, imagina fazer uma viagem assim uma vez por trimestre.
Posso contar nos dedos das mãos quantas pessoas conheço que já viajaram pro exterior dos meus conhecidos brasileiros. Temos tantos países vizinhos "baratos" e "fáceis" de visitar, por que os brasileiros da classe economica que eu conheço, ou seja, pessoas que trabalham todo dia por um salário "normal", não viajam? Por que é tão difícil pro brasileiro viajar pro exterior?
Bom, a resposta é simples, o "salário médio" da maioria dos brasileiros é um pouco acima do "salário mínimo", mas mesmo assim não cobre as despesas de uma sobrevivência digna mínima.

Meu irmão tá com o nome sujo por causa de aluguel, meu pai por causa de cartão de crédito, umas colegas de SP por causa das mensalidades atrasadas da faculdade, uma outra amiga por causa dos móveis do quarto do bebê. E assim vai. Ter dívida para o brasileiro se tornou a única opção para continuar se vestindo, comendo e morando sob um teto. Não são dívidas de luxo, não são dívidas que alimentam vícios, essas pessoas que conheço querem pagar seus débitos, elas não pagam porque não podem.

Onde fica então a reserva de dinheiro pra viajar pro exterior quando o cidadão não tem reserva pra comprar um remédio quando fica doente? Como viajar pro exterior quando nós não conhecemos nem o Brasil?

Sonho com o dia cuja desigualdade socio-econômica no Brasil será tão sutil como uma brisa, que a diferença entre a vida econômica de um professor da rede pública e um promotor público seja a escolha entre viajar pra Bali ou Australia, seja comer num restaurante mexicano ou chinês no sábado à noite.
O brasileiro não tem, hoje, direito a comer fora, a se vestir como quer, a ler o que gosta, a ir a um show e não ter que fazer um rombo no orçamento semestral. O brasileiro precisa de oportunidade para descobrir do que gosta. Como alguém pode saber se gosta de jogar tênis se nunca nem pegou numa raquete?
Como alguém pode saber se ama ópera se nunca entrou num teatro?

Temos fome de vida.

Registro aqui que a gente não precisa viver que nem outras pessoas vivem em países ricos pra viver bem, fazer o que eles fazem, pensar como eles pensam, a civilização "importada" não é a melhor forma de se descobrir como ser humano pleno.

Mas eu não quero só sobreviver em um país tropical matando o calor com cerveja gelada e passar o ano todo esperando fevereiro. Quero oportunidade de experimentar tudo que os ricos têm mundo afora e tudo que já temos e amamos tanto. Quero descobrir, assim como já disse o sábio Caetano, o que nós podemos fazer com a tal civilização e criar nossa própria forma de viver.

Porque existe vida no nosso hemisfério "Sul" do mundo, que pra mim não é nem de baixo nem de cima, o mundo é redondo e vive dando volta, se você diz que tá na parte de cima o problema é teu que fala de uma bola solta no espaço como se fosse um quadrado encima de uma mesa. Abestado!   

"O mundo está ao contrário e ninguém reparou [...]" Cássia Eller

terça-feira, 1 de março de 2016

WHAT HAPPENED, MISS SIMONE?

Um documentário pode ser tão emocionante como uma canção?
Uma vida pode ser resumida em menos de duas horas de filme?
O que faz uma pessoa famosa? Qual o valor, o preço e o custo da fama?

Uma vida marcada pela música, paixão pela liberdade e luta pelos direitos civis dos cidadãos negros nos Estados Unidos dos anos sessenta.
Aprender qual a nossa opinião e saber mostra-la ao mundo. O sabor de expressar-se acima dos limites dos padrões sociais vigentes. Luta por voz, por direito á vida e á liberdade. Eu estou tocada pela beleza de sua existência de luz num contexto tão ingrato, sujo e de raso egoísmo. 
Ela foi um gênio, isso não sou eu que digo, mas concordo.
  A emoção da vida ultrapassa nossa existência, num mundo em que cada segundo deprime e cada falha que cometemos mata três amigos. Viver é um eterno ato de sobrevivência. Viver é caçoar da possibilidade de hoje ser o último dia. Todo dia. 

A diretora Liz Garbus mostra neste documentário produzido com o Netflix o lado revolucionário, feminista, genial, forte e fragilizado de uma imagem profunda e inesquecível da música mundial. Nina Simone foi mais que uma cantora de Jazz, mais que uma pianista clássica, mais que uma mulher que sofreu abusos do marido, mais que uma mãe que não teve direito de criar sua filha. Nina Simone foi mais que queria e podia, o mundo tirou e continuou tirando tudo que podia de seu talento e sua vida pessoal.
O mundo coroa e depois cobra com juros a fama que dá.
Tudo tem um preço e o que Nina pagou foi injusto e caro.


Hoje minha humilde emoção e lágrimas brindam à memória desse fenômeno que nós conhecemos por Nina Simone.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Un petit peu de français

Estou estudando a língua francesa vai fazer quatro meses.
Faço o curso todas as manhãs em Lausanne, 25 minutos de casa até lá indo de carro. Geralmente pela manhã eu vou de carona com meu namorado (S.) até o metrô e pego a linha 2 direto até a praça onde se encontra a escola. Meio dia para retornar eu pego o metro até a praça de Sallaz e de lá sai meu ônibus até o "centro de nossa cidade", do centro pra casa é uma caminhada de 40 min ou uma carona de 3 min, quem me salva geralmente é o pai do S. O meu primeiro mês de curso fiz com um professor bem legal que trabalhava bem didaticamente os nossos primeiros passos no tão apavorante francês. Logo após a direção da nossa turma passou para as mãos de uma professora mais enérgica e criativa, com quem estamos até hoje.
Representação da bandeira francesa
A língua francesa é dividida, desde setembro de 2005, em seis níveis: A1, A2, B1, B2, C1 e enfim o C2. Para a prática da minha profissão aqui eu tenho que comprovar o conhecimento da língua até o B2. Porém, se eu manter a ambição de fazer um mestrado preciso do C1. Na escola onde eu estudo cada nível no curso intensivo, ou seja, toda manhã ou toda tarde, dura oito semanas e após você tem direito a um certificado de presença no curso. Isso só comprova, para fins diversos, que você assitiu à todas as aulas daquele devido nível. Mas, se alguém, como é o meu caso, precise comprovar o nível de francês tem que fazer a prova do DELF (Diplôme d'études en langue française) que de acordo com a Aliança Francesa no Brasil: "O DELF e o DALF são os diplomas oficiais expedidos pelo ministério francês da Educação nacional, para certificar as competências em francês dos candidatos estrangeiros e dos Franceses originários de um país não francófono e não titulares de um diploma de ensino secundário ou superior público francês. Criados em 1985, eles estão presentes hoje em 154 países e abrangem mais de 900 centros de exame no mundo".

Hoje eu estou na sexta semana do A2 e já comecei a ler meu primeiro livro em francês. Dois anos de férias é um livro para o público infanto-juvenil de Jules Verne, escritor francês que criou o romance científico de antecipação. Uma empresa muito inteligente fez versões de clássicos da literatura francesa para estudantes estrangeiros dessa língua com CDs de audio e questões de compreensão de texto e gramática após cada capítulo. Eu adorei!!! Para quem ama literatura como eu e se encontra estudando outra língua todo dia ter a oportunidade de ler um livro na nova língua é uma conquista sem preço. Tô tão feliz com isso! Fiquei tão empolgada que passei na livraria hoje e comprei um livro, com um assunto mais interessante para a minha idade, porém ainda com linguagem simples. Não sei se vou conseguir termina-lo antes do próximo nível, mas vou tentar. Nunca imaginei que um dia na minha vida eu iria ler um livro em uma língua que não fosse o português, que eu amo. A gente sempre acaba nos surpreendendo com a capacidade que temos e nem imaginávamos. Livrarias francófonas se preparem, eu estou indo pro B1 e tô que tô! : )   

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Confetes ao Destino

No último dia 20 uma amiga fez aniversário. Comemoraram seus 31 anos e o primeiro mês do seu bebê com uma festinha intimista. O caso é que neste mesmo último dia 20 encerrou-se o horário de verão no Brasil. Sendo assim, ao terminar o dia de sua celebração anual o relógio voltou uma hora. Este fato presentiou-os com mais uma hora de festa e, acredite quem quiser, ainda teve amigo que só desejou felicidades no dia seguinte. Mesmo um dia de 25 horas às vezes não é suficiente.


Confete de fim de festa - foto minha 2016

Ademais, fico pensando no Senhor Destino. Tem muita gente que já me disse que a hora que a gente vem ao mundo, a saída do útero, é o que determina nosso "signo" e isso vai nos influenciar a vida toda, vai ser um guia a reger os passos. Depois disso alguns outros ou alguns mesmos dizem que nosso tempo de vida está predeterminado, nossa história já foi escrita e que não passaremos mais um minuto fazendo "hora extra". Daí minha imaginação fértil e vadia fica refletindo sobre a repartição do "céu" (ou como queiram chamar o "andar de cima") responsável pelas horas do homem na Terra . Depois do avião, controlar todo o vai e vem de fuso horário, computar as idas e as vindas parciais e descontar a diferença dos minutos e horas. Deve ser um trabalho bem exaustivo. Algum tempo atrás deve ter sido um rebuliço só na repartição quando os funcionários tiveram que começar a trabalhar com os nascimentos com data marcada da cirurgia cesariana. Adaptar os destinos e signos à escolha do horário da mãe e fazer o máximo possível pra manter a ideia original de cada destino. Imagina a loucura e quantas demissões devem ter rolado quando foi necessário a criação de almas extra após os cientistas fazerem as primeiras fecundações artificiais, os famosos "bebês de proveta" (que nunca estiveram numa proveta de verdade). As mortes acidentais. A criação dos contraceptivos. As leis da física. As drogas ilícitas. A poesia e depois o cinema. O aborto. O amor. Viagem de férias.  Tantos fatores que podem mudar os destinos. Manter a ordem mundial deve ser uma verdadeira missão impossível. Acho que quando a Teoria da Relatividade for realmente colocada em prática e a máquina do tempo for inventada vai ser o fim do Senhor Destino e seus honrados funcionários da mais trabalhadora repartição que não para dia e noite no "céu", aí eles vão repetir o ato que interrompeu muitas vidas americanas na Guiana - O "suicídio" em massa de Jonestown em 1978. Eita, mas espera aí, como fica o destino de um suicida?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Bobagem

A algum tempo eu me pego pensando na velhice. Algumas vezes penso sobre meus velhos: minhas duas avós, meu pai e minha jovem mãe, outras vezes penso sobre meu próprio envelhecimento. 
Ano passado assisti a um filme que me tocou muito pela doçura de apresentar seus protagonistas cheios de vida após a idade dos setenta anos. Quarteto é um filme que quando acaba você se encontra numa aura de sonho, é belo, é doce e é real. Eles são moradores de uma casa de repouso para antigos músicos e cantores de ópera e música clássica em geral. Quem não assistiu ainda eu recomendo e garanto boas gargalhadas. Ele faz parte da lista de filmes que minha tia está fazendo para assitir quando for velha (hahahahaha, todos temos nossos planos mirabolantes pro futuro).
Ontem eu vi outro filme protagonizado por pessoas de idade. O cinema, longe da televisão, tem se aventurado contar histórias além dos clichês, gosto bastante disso. O Exótico Hotel Marigold é divertido e leve. Uma história suave, pouco dramática, mais preocupada com fazer rir do que fazer chorar.
Gosto de ver pessoas "idosas" atuando e mostrando que mesmo que o nosso corpo envelhece a nossa mente está como sempre esteve: sendo nós mesmos. Lembro que quando eu era criança ficava esperando o dia do meu aniversário como um portal de iluminação pra sabedoria e visão plena do mundo. Como se após o relógio virar a meia noite ou ao apagar as velinhas as portas do paraíso fossem se abrir pra mim e eu seria uma pessoa como nunca fora.
Uma ilusão, os anos iam passando e o dia do meu aniversário se passava tão banal, com ou sem comemoração, que estava começando a ficar frustrada quando parei de me preocupar com a tal iluminação. Acho que isso é muito importante, parar de esperar o dia que vamos começar a viver, ou não determinar o dia que vamos parar.
Apesar de todas as diferenças esses personagens me fazem lembrar meu avô, meus pais, que como já disse, começam gentilmente  a caminhada para o amadurecimento propriamente dito.
Suas formas imperfeitas de pensar e cometer erros tentando agradar os seus queridos. Quantas vezes fazemos isso, nos tornamos intrometidos tentando ajudar aquela amiga que é como uma irmã. O excesso de intimidade de família grande, o sabor de não saber se agradece ou se aborrece com o amor transbordante que se torna intrusão. Tem gente que nunca vai saber o que é isso. Aí falando assim me lembro do Elsa e Fred, um outro filme que vi a uns dois meses atrás e apresenta dois protagonistas lindos e amorosos. Em tom de comédia trata, na minha opinião, o valor de, mais do que ser, se sentir independente na velhice. Como alguns filhos podem ser super protetores do mesmo modo que existem pais super protetores com seus filhos. Aquela velha história de que a gente nasce e morre criança.
Como o Benjamin Button. O Curioso caso de Benjamin Button foge um pouco porque não retrata só a vehice dele, mas a história desde o ínicio, porém, vou coloca-lo mesmo assim na minha lista pois é uma história particular, quem não assistiu ainda vai ter que conferir!

Abaixo uma lista dos meus outros filmes preferidos que retratam a velhice com um olhar doce, algumas vezes com comédia, outras vezes mais dramático, mas sempre cheio de vida, como realmente é!

Conduzindo Miss Daisy
Um clássico que me emociona toda vez que assisto.

Garotas do Calendário
Um olhar feminista de como a beleza não tem idade, especialmente a feminina.

Antes de Partir
Pura aventura e emoção com esses dois que nos surpreendem com classe.

Um amor de vizinha
Um pouco "versão da terceira idade das comédias romanticas americanas", mas apesar de tudo tem o charme da Diane Keaton, pra uma tarde chuvosa... cai bem!

Última viagem a Vegas
Aqui uma versão "besteirol americano da terceira idade", mas, seguindo a regra, tem o charme do Morgan Freeman. Se quiser deixar um pouco de lado a opinião "anti-besteirol"...

Trem Noturno para Lisboa
Esse é uma história um pouco mais profunda, não chamaria de outra coisa que não um romance, é um filme que parece que você está lendo um livro. Bonito!

Something's Gotta Give, outro da querida Diane Keaton, ela é maravilhosa e a quem diga que o Jack Nicholson também, bom. Não é um exemplo de filme no qual a personagem feminina tem uma grande personalidade, mas mostra direitinho como a nossa sociedade faz a beleza feminina ter data de validade, enquanto a masculina... bom. Ele é gordo e careca, mas se usar um terno e um óculos escuros tá tudo certo. Ela é magra, loira e "peituda" (padrão americano), além de tudo que ela tem de natural, ela é maravilhosa, mas mesmo assim... assita o filme!

Isso me fez lembrar de uma canção da Céu, Bobagem:

"Minha beleza não é efêmera
Como o que eu vejo
Em bancas por aí
Minha natureza
É mais que estampa
É um belo samba
Que ainda está por vir 
Bobagem pouca
Besteira
Recíproca nula
A gente espera
Mero incidente
Corriqueiro
Ser mulher
A vida inteira [...]"

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Viva a burro(cracia)

Ah, o belo sabor da burocracia. Aquele momento que você acorda tarde porque está em semana de férias, com muita calma vai até o banheiro fazer aquele xixi quentinho que dá um alívio maravilhoso depois de aproximadamente dez horas de sono ininterrupto. Escova os dentes, lava o rosto com sabonete anti-acne, mesmo estando a meses de completar o vigésimo sexto aniversário, e vai com muita alegria passar um café fresco que enche a cozinha de um aroma delicioso, aroma de saudade de amigos e da família que está longe, aroma de manhã fria, aquele cheiro de que o dia promete!!!
"Hoje nada vai abalar meu bom-humor!" - um pensamento talvez atrevido, mas com certeza precipitado - "Nada!"
Aí você se senta à mesa e o namorado entra em casa (a entrada aqui é pela cozinha, bem em frente à mesa)
"A gente recebeu uma carta do Escritório do Serviço Civil"
Opa!!! Acabamos de enviar semana passada, mais um [...], o último documento para o processo do casamento [pois é, a gente resolveu casar, longa história] só pode ser pra dizer que eles receberam e estão enviando todo o dossier pro Brasil.
"Não!!!" A vida grita, o último documento que você enviou nunca é o último mesmo. Tô pra perder a conta de quantas cartas eles já enviaram desde o 12 do 12 de 2015, ôh céus! Sempre com algum detalhe que não está exatamente como eles querem. AAAAAAAAAAAAAAAAAh!
Por que eles não mandaram na primeira carta todos os "poréns" que impedem o avanço do processo? Pra quê essa brincadeira de um passo pra frente e dois pra trás?
A gente nem quer se casar se casar mesmo, só queremos ficar juntos, o problema é que o Estado não dá outra opção pra permanecer juntos, e ao mesmo tempo,com a única opção que eles oferecem, ficam com essa burocracia gratuita pra cima da gente.

Tô vendo que depois de zuar tanto com a gente... o casal descolado que não tá nem aí pras tradições, vivendo o século XXI e inovando em não fazer festa de casamento na qual gastasse o dinheiro de um ano de bar em sete horas. Esse casal descolado pode chegar ao ponto de revolta tal que comemorar o final da maior burocracia da vida passando três dias bêbados seja maior motivo que comemorar mais um casamento nesse planeta Terra! Viva a burocracia!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Pra começar o ano, um brinde aos "Finais"

Quem não trabalha não tem calo nos dedos. A algum tempo não escrevo, é assim mesmo.
Alguns momentos o silêncio é minha única forma de expressão, juro que não chupei caju travoso pra tá assim, mas bem que não seria uma má ideia.
Vivo uma vida de temporadas, que nem os seriados do Netflix, a diferir que eu garanto sempre a temporada seguinte, com ou sem sucesso. Estou atualmente esperando "nova temporada" de mais de quatro séries, o que uma pessoa faz com isso? Que vida é essa que eu não pedi! Gostaria de desabafar, estou realmente decepcionada com a forma que as séries atuais estão sendo feitas, episódio após outro sem o final de mistério algum, um horror! Ao meu ver seriados e/ou séries diferem das novelas porque possuem episódios com histórias independentes, ou seja, com início, meio e fim, e em uma temporada o fio do desenrolar de uma só história revela também um começo, meio e fim. No máximo um acontecimento chocante para continuar na próxima temporada, mas o que me vi vivendo foi "tricotando" a tarde toda assistindo um episódio após o outro e o fim encontrava-se mais longe do que borda de piscina olímpica quando se tenta atravessar com os olhos fechados. Sem esperanças!!! Qual o problema em fazer um verdadeiro seriado? Se eu gostasse de novela me conectava ao G1, Vale a Pena ver de novo e toda essa merda requentada e batida no liquidificador, mais fácil de por guela abaixo que água e mais indigesta do que sarapatel da feira de Lagedo comido no domingo. Fica aqui registrada a minha revolta com essa moda de continuidade. Eu amo os começos, dou enorme valor aos meios, porém os finais são fundamentais, tenho uma lista enorme de pessoas que sabem começar (em qualquer tipo de assunto e arte), mas bons finais, finais épicos a gente conta nos dedos.
Qual é a dessa galera da trilogia? A primeira trilogia marcante da minha vida foi "O Senhor dos Anéis", e olha que nem sou tão nova assim. Quem viu o lançamento de "Titanic", um filme que quando acaba sua bunda tá quadrada como se você estivesse sentado por uma semana, não consegue entender como uma história do tipo "Jogos Vorazes" teve cena pra encher mais de três filmes. Isso mesmo, depois da moda da trilogia, veio a moda de dividir o final em dois filmes. O que acaba acontecendo é que a história de ir assistir aos filmes da tal "trilogia" (que hoje em dia a gente sabe que são quatro filme, com sorte) com o passar do tempo começa a se misturar a nossa própria história. Por exemplo eu, fui assistir ao primeiro filme dos "Jogos Vorazes" com o ex-namorado de SP, o segundo filme assisti com uma amiga curtindo a solteirice, o terceiro assisti com um ficante (que agora é namorado) e sai tão revoltada que eles cortaram o final em dois filmes que pra protestar a isso ainda não assisti ao quarto filme. Mas, pô, é isso aí… você pode fazer uma retrospectiva de vida (ou de namorados) só tentando lembrar com quem estava no cinema em cada filme da "trilogia"… vai se ferrar!
A vida é tão curta pra ler todos os livros que eu quero e tão cheia de coisas importantes que agora eu só vou ao cinema assistir a um filme quando tenho CERTEZA que não é filme de sequência. Eu fico imaginando isso como, talvez, uma consequência da nossa nova longevidade, afinal, a alguns anos atrás quando as pessoas viviam até os quarenta com sorte, ou no romantismo brasileiro que a tuberculose levava muitos jovens aos vinte e alguns, não ia ser um bom negócio fazer filme de sequencia uma vez que quando o terceiro filme saísse praticamente mais da metade da população que viu o primeiro não se encontrava mais entre nós, imagina o fiasco que ia ser pros bolsos dos produtores de Harry Potter!? É acho que vai mais ou menos por essa linha de pensamento, vivemos mais, podemos seguir uma sequência de filmes com roteiros enchendo linguiça, mas é no final, um luxo da longevidade do século XXI.
Um brinde ao caju verde que eu não comi, mas podia só pra não tá aqui falando besteira… amanhã tem mais!