domingo, 14 de outubro de 2012

Chorona

Um dia visitando um casal de idosos simpáticos e contadores de histórias e duas coisas que amo:
Ouvir histórias;
ficar perto da natureza.

Adorei estar perto de avós, mesmo que não sejam os meus.
Fui criada visitando os avós (um vô e duas vós) todas as férias, uma, duas vezes ao ano.
Este ano meu avô morreu e para dar força pra minha mãe eu me mantive forte e não chorei, não sei se era o que ela precisava naquele momento, não sei dizer ao certo, mas bloqueei meu choro na hora, no correr do dia, e em todo o mês que acabou por ser substituído por outro, e mais outro, não lembro mais que mês foi, talvez em abril ou maio.

Porém, este final de semana, na casa daqueles adoráveis velhinhos, com todo o jeito e as peculiaridades, mesmo eles sendo tão diferentes dos meus avós, eu me senti tão perto deles, especialmente do meu vô, que algo se mexeu dentro do peito.

E vim para casa à tarde com um rebuliço dentro de mim inconsciente ainda do que se tratava.
Cheguei e aos poucos como uma represa que a algum tempo estava sentindo nas fundações a pressão de muitas águas, rachaduras de alguns dias, não sei ao certo, mas explodi. Chorei, lamentei e senti uma imensa saudade que parecia que não caberia no peito.

Eu chorei hoje a morte do meu avô.
Não aceitei sua ausência ainda, mas hoje eu não precisei mais ser forte,
fui apenas eu.

Chorona e sensível!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Melodia

"A nega lá em casa
Não quer trabalhar
Se a panela tá suja
Ela não quer lavar
Quer comer engordurado
Não quer cozinhar
Se a roupa tá lavada
Não quer engomar
E se o lixo tá no canto
Não quer apanhar
E prá varrer o barracão
Eu tenho que pagar
Se ela deita de um lado
Não quer se virar
A esteira que ela dorme
Não quer enrolar
Quer agora um cadilac
Para passear..."
(Riachão - Cássia Eller)

sábado, 29 de setembro de 2012

Amigas na semana

"Leve o mundo que eu vou já"
[E.C.T. - Cássia Eller]

Revi amigas especiais hoje, paguei dívidas e refiz outra.
Vivemos fazendo planos, mas o melhor mesmo é viver.
Das coisas que tinha pra hoje, das coisas que tinha pra toda a semana, o melhor foi dividir alguns minutos com amigas que não via a meses.

Eu sou um ser incompleto que precisa de muita vida "social", de abraço, de palavras trocadas e sentimento bom que flui sem pensarmos nisso.

Quando eu acho que tô fazendo a vida, vem os outros pra me lembrar que eu não sou ninguém sozinha!

Obrigada por todos os baldes de água fria e abraços calorosos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sistema

A palavra de ordem de hoje é "Educação".

Cena comum: ônibus/trem cheio, muitas conversas cruzadas e muitos assuntos indelicados e às vezes até cabeludos com termos de baixo calão como "comeu quem", "já deu pra ele", "vaca", "caral*o", e por aí vai a lista. Então meu ouvido dói, eu tento não prestar atenção, claro que às vezes a sensibilidade dos demais parece uma pedra e só eu me incomodo, mas eu não consigo disfarçar sempre e pensar em coisas alheias à situação. E mais uma vez olha eu escutando merda alheia gratuitamente e a contra gosto. Muitas vezes são gritos mesmo, bem ao lado, no celular ou com algum(a) colega presente.
Isso me fez pensar: "eu sempre fico me questionando que não há liberdade nesta vida, que a gente faz o que se deve e não o que se quer. O mundo não devia ser assim, só quero levantar às 14h e tomar banho com música. Não quero ver mendigo na rua, não quero ver amiga/irmã chorando de dor de amor." etc...[claro que tem que ter etc], mas como é que vai ficar, ôh nega? Se tudo fosse uma anarquia? Ia ter coisa pior que gente falando alto no trem/ônibus por aí rolando às tontas. A ordem/segurança pública é um dos objetivos do regime de governo democrático, hoje entendo que isso, além de um papo furado pra encher prova de concurso público, é também questão de sobrevivência. Acho que estou sendo engolida pelo sistema, e o pior é que...eu tô me deixando engolir.

Quem diria que um dia eu tomaria esta conciência e dormiria em paz.[?]

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Em dez minutos

Faço uma mala sem nada dentro.
Bebo um copo d'água cheio.
Penso na vida e continuo vivendo.
Leio uma poesia e encho os olhos.
Limpo os óculos e enxergo o mundo.
Estudo nada e descubro o que deveria saber.

Te escrevo um e-mail e espero resposta.

Minutos para daqui a pouco ser amanhã.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Fim de sossego tarde

Na segunda que vem eu volto a acordar cedo e dormir tarde. Dormir tarde eu já estava, mas as férias têm o luxo de acordar a hora que quer, com a volta às aulas (que foi ontem oficialmente) a vida de cão sem dono volta também.

Provavelmente vou emagrecer, passar boas horas de sono e fome, como se estivesse em guerra, num sentido conotativo até há um pouco de verdade.

Muitas vezes me pergunto se tudo isso vai dar uma vida melhor mesmo, se tudo não passa de um plano que "todo mundo" tenta seguir só pra ser socialmente aceito, mas se no final das contas o dinheiro encobre toda a moral, será que ser bandido não seria mais fácil?

Melhor nem pensar muito, se não me candidato este ano pra vereador e aí pronto, a vida tá ganha.

Duro é ser pobre e querer mudar de vida.

Duro é não ser conformado com a miséria ao redor que enche os olhos de barrigas vazias.

Duro mesmo é ser brasileiro

terça-feira, 31 de julho de 2012

Mais uma adorável escritora

Li Orgulho e Preconceito a duas semanas e me apaixonei pela Jane Austen.
Estava com uma vontade grande de ler um romance que tivesse ao mesmo tempo força e doçura. Não poderia ter escolhido um melhor. As palavras dela me encantaram de uma maneira tão profunda que não vou sossegar enquanto não ler outro romance dela. Ela teve uma vida tão restrita pela sociedade de sua época e tão curta, que hoje eu me sinto sortuda por, apesar de tudo, poder namorar quem eu quiser, poder escolher ter uma profissão e ter a oportunidade, mesmo que não igual, mas de correr atrás de sonhos, que julgamos hoje comuns, numa época atrás impossíveis.

Em nome de Jane que lutou pelo amor às palavras, hoje eu levanto minha taça em brinde.

"Saúde!"

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dois dias e três noites

Passei dois dias e três noites deste feriado em Campos do Jordão. Foi a primeira visita que fiz à cidade e espero que não tenha sido a única. A cidade é construída na serra, então toda vez que descíamos ao centro – Vila Capivari – eu ficava enjoada no carro, é um caminho tortuoso. Mas é lindo. Há muitas árvores e as casas são estilo europeu, parecidas com grandes chalés. Na maioria dá para ver as chaminés saindo a fumaça do que foi fogo para aquecer seus interiores, dizem que não fez frio este ano, na madrugada do sábado fez mais ou menos quatro graus. Isso pra mim é frio. Até durante os dias com dez graus pra mim é frio. Mas pra quem já visitou a cidade ou mora e em outros anos viu geada de grau negativo, isso não é frio. O meu namorado não sente frio em São Paulo, normalmente. Ele usou casco em Campos e disse que estava um tempo agradável, então no meu mundo estava muito frio, estava realmente muito, mas muito frio. 

Sobrevivi. 

O que mais senti falta foi do meu travesseiro. Engraçado como a gente acostuma com coisas simples e rotineiras. Quis tanto meu travesseiro esta noite, e estava tão frio que acordei tantas vezes durante a noite que estou com um mal estar agora. Sabe mal estar de noite mal dormida. Odeio desrespeitar o sono. Para mim sono é sagrado, é como fazer desfeita na casa de alguém que te considera muito e fez um jantar especialmente pra você, e então você simplesmente torce o nariz e diz que está sem apetite. Aquele rosto exausto do trabalho que teve com o jantar, mas radiante de expectativas pra te agradar de repente desmorona e enche-se de uma frustração descorada. Dá muito dó! E é por isso, e em nome de todos os meus amigos que reclamam que têm problema para dormir, que eu gosto de aproveitar minhas noites de sono. Não tenho problema para dormir, mas esta noite foi um fiasco. Sinto-me envergonhada por ter desperdiçado uma refeição tão deliciosa que devia estar. Desculpe-me universo. 

Acho que preciso mesmo é descansar. 

Ah, mas sim...gostei bastante da visita a Campos e tirando a parte que devo ter engordado mais um quilo, repetiria com certeza. [9 de julho]

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Guerra

Acordar é difícil. Às vezes o maior problema é o calor te absorvendo, absorvendo todo o suor do corpo quente, absorvendo sua vontade de encarar o dia que já está alto. A preguiça da temperatura que faz justiça a nossa fama de país tropical é crônica alguns meses do ano.

Sinto como se já fosse parte da alma, parte de um todo chamado enfado e canseira. Ainda não fiz nada hoje, mas pareço exausta. Penso num banho frio e já começo a viajar entre cachoeiras e piscinas. O banheiro parece tão longe e levantar tão pesado, meus músculo neste exato momento são feitos de ferro fundido, meu sangue perece ferver e minha saliva tem gosto de requentamento.

Preciso de uma faísca para que tudo exploda e após o big-bang que será eu posso começar um dia novo, porque este já tem cara de missão perdida.

Necessito de um empurrãozinho para a realidade e daquele falado banho. É só uma questão de decisão, se eu quiser eu levanto e pronto, o resto é mais fácil. Vou levantar, é só eu mover para o canto da cama, quando eu ver que vou cair mesmo, eu vou acabar levantando. Melhor, uma coisa tão simples, é só levantar. Agora. Calma, não pode ser tão brusco, posso ter hipotensão postural, melhor ir com calma. Vamos, assim, devagar. Não, não era pra mudar de posição, ai, que merda, essa tá tão boa. Só mais uns cinco minutos e então levanto, tenho um dia inteiro pela frente, cinco minutos não serão tão importantes.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Alguns, alguma.

O semestre na faculdade acabou.
Tive tempo de ler o que quis hoje, de sentir o cheiro da satisfação de minha roupa lavada no varal.
Engraçado como a muito tempo eu acho o fato de lavar minha própria roupa uma libertação.
É como se dissesse ao mundo "Hey, não fale desse jeito comigo, sou adulta, EU MESMA LAVO MINHA ROUPA".

A primeira semana de férias está chuvosa, meio fria, às vezes até demais...já vi alguns amigos, já bebi algumas cervejas pra comemorar, já dormi até tarde alguns dias.

Mas tá faltando alguma coisa.

Algo que tá no ar, não consigo pegar, talvez saiba o que é, talvez não queira saber.
O melhor é curtir os livros, os dias de chuva - que adoro ver caindo, o tempo que tenho pra fazer o que não dá tempo durante o semestre de aulas: VIVER!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Nelson, o Capacho.

Nelson era o cara parado no salão de festa, não dança, não bebe, não se incomoda em mudar de expressão facial ao cumprimentar conhecidos.

Conhecidos, isso era tudo que Nelson tinha. Conhecidos do boliche do pai, capitalista, conhecidos da igreja da mãe, beata, da vizinhança de ambos. Na vida de Nelson nada era realmente dele, talvez nem mesmo suas coisas fossem dele, tudo ganhado, de rifa a presente de natal. De uma coisa Nelson não podia se queixar, sempre foi um ganhador de primeira.

Na escola primária ganhava todos os sorteios de lápis de cor, massinha de modelar, lanche da cantina, entre outras coisas na época de junho. Cresceu e em outras festas juninas foi a vez de ganhar em joguinho de derrubar latinhas, acertar a casa do coelho e estas coisas que enchem os olhos das mocinhas de ninharias. Sempre deixa o presente na mão da moça que estivesse mais próxima, e quando esta vinha toda agradecida lhe dar outro presente...

Pronto, lá se foi o Nelson e sua mania de ser o cara sem expressão facial dos salões.

Alguns até se perguntavam se ele morreria virgem, mas que diferença faria?

Antes que pensem algo do Nelson, ele não levou pra outra vida a inocência que trouxe a este mundo.

Um dia Nelson foi parar num hospital, caiu ao chutar uma bola e ficou, digamos assim, um pouco mais calado que sempre. Não, ele não estava jogando bola, o jogo não era dele, como todo o resto, ele só estava devolvendo a bola que caiu no quintal da casa dos pais, para que não fiquem dúvidas.

O que importa é que internado ele ficou e uma enfermeira o conheceu, ele não a conhecia muito bem, mas não se sabe direito como, entre a saída do hospital e o término do colegial naquele mesmo ano, Nelson e a enfermeira estavam namorando.

Ela mais velha que ele usava de sua experiência para mostrar a Nelson como a vida podia ser diferente do mundinho que ele conhecia. E depois de algumas aventuras, uniu o interesse da moça, que por sinal se chamava Adelaide, ao ver o lucro e a segurança que um ponto de jogo de boliche podia trazer para uma mulher e o medo da mãe de ter que lavar as meias de Nelson até o fim da vida. Eles se casaram, abriram uma filial do jogo de boliche na cidade vizinha, construíram a casa da Adelaide e do Nelson na lateral do terreno e foram pro seu “felizes para sempre”.

Só teve um contratempo, Nelson não foi feliz.

Cumpria seu dever todos os dias abrindo e fechando o boliche.

Levava a carne do jantar. Às vezes salsicha, bisteca, hambúrguer, estas coisas que chamam por aí de mistura. Mas pobre do Nelson, a enfermeira resolveu que casamento era sinônimo de aposentadoria. Resolveu também que dinheiro era sinônimo de insuficiente. Ah! Sem falar no sinônimo de Nelson, Capacho.

Pobre do Nelson.

“Neeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeelson!”

“O que houve, Adelaide?”

“Minha chapinha está ultrapassada.”

“Neeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeelson!”

“An.”

“Minhas bolsas são todas ultrapassadas!”

“Neeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeelson!”

“.”

“Minhas roupas estão todas...”

“Ultrapassadas!”

“Viu? Até você já reparou, imagine as meninas do clube de tranca.”

Pobre Nelson. Ele não tem culpa de não ter sua própria vida. A única coisa que ele tem é um cartão de crédito!

domingo, 3 de junho de 2012

[Eu não quero perder nem um segundo..não vou nem piscar!]

Encaminho-me para mais um final de semestre, as provas finais já bateram à minha porta e como não pedem licença já entraram. Cada prova a mais que faço é uma disciplina a menos que tenho que cumprir em minha lista para o final do curso. E por mais que eu pense que ainda falta muito que quatro anos demoram, que cinco semestres são muita coisa, agora só faltam três e o desespero iniciou dentro de um pergunta. Uma simples dúvida paira no ar e me olha com tamanha profundidade e seriedade que chega a comover-me.

O que farás após a faculdade?

Quem serás quando tiveres tua liberdade nas mãos?

Primeiro a escola, era obrigação, pai que não tem filho na escola pode ser preso. Depois o ensino superior, “porque filha minha vai ter profissão, não criei mulher pra depender de homem”. Concordo pai, mas acho que tudo que me ensinastes e o que a vida programada de universitário me proporcionou de experiência não me prepararam para o que tenho em mente.

E é exatamente aí que a aventura começa.

Não vejo a hora de ver no que dá.

Alguém quer reservar um bilhete para o próximo capítulo?

domingo, 22 de abril de 2012

alguém que não está manda dizer

As palavras de quem está ausente são o vazio e a saudade.
É o silêncio.
Não são por assim dizer palavras, são atos não realizados, sorrisos não distribuídos, é uma conversa que nunca acontecerá.

O escuro é a ausência da luz.
É?
É o que dizem.
Ah!

A tristeza é a ausência da alegria.
A morte é a ausência da vida.
A guerra é a ausência da paz.
O medo é a ausência da esperança.

Tenho algo que não tem nome, é a ausência de quem não está.
Silêncio.

domingo, 1 de abril de 2012

Por um segundo melhor

O momento perfeito não existe.

O melhor momento que há é este, no qual encosto minha cabeça cansada e cheia no teu peito,
você fala que tá tudo bem só com um afago e com um olhar que conheço e mesmo assim ainda me surpreende, você sabe me fazer entender o sentido de todo o caos e acaba com todas as teorias que faço enquanto estou sozinha. Em vão.

Só precisa de um momento, e posso ter mais um dia de amanhãs até o próximo momento.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Feliz 14 de março

Que o agora seja palatável,
desfrutável e irresistível.

Que ao fechar os olhos eu não enxergue o escuro e a luz se decline sob o céu.

Queria saber, só por agora conhecer, o antes, o desconhecido e mais que isso:
o agora.

Querer tocar, cheirar e pensar agora, sem nenhuma rima solta, com todas as palavras a flutuar,
seu olhar, seu sorriso e sua nuca.

Nunca mais que hoje, sempre amanhã, jamais a um segundo.

Em um dia de poesia, poder me embalar com papel bolha e deixar por um momento de ser frágil.

Não chorar, nem secar.
Não chover, nem molhar.
Ser pedra, ser eterno, ser brisa.

Ser poeta!

terça-feira, 6 de março de 2012

?

A dúvida que corrói. Vou para um mais ou menos ou fico esperando o extraordinário de mãos vazias?!

ôh! e agora quem poderá nos defender?!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

desde o Éden

O que entendi ouvindo o verdadeiro teatro dos vampiros

[Salve todos os poetas que um dia sonharam com o “além de tudo isso!”, Salve Renato Russo]

Enquanto sonho e tomo sopa, alguns estão construindo a vida.

Construir a vida. A gente nasce sem ser perguntado se tava a fim de ter uma carinha fofa e amassada e já começamos a carregar um caminhão de expectativas alheias.

Isso é normal? Isso é justo? Não importa.

O que há de reflexão que eu poderia fazer sobre a vida já foi feita, mesmo assim eu faço. O que há de ideia para mudar o mundo, ou para mudarmos já foi publicado e os melhores planos nunca saíram do papel, um ser corruptível e quase sempre metodicamente acomodado.

Não, não estou falando da nossa geração, da nossa história, da nossa espécie. Estou me referindo a minha própria essência.

Esta maldição que ouço do Éden é quase um mito, ou é um mito, e mesmo assim parece que me persegue nos finais de tarde.

Arrependimento ou remorso?

Há diferença? Faria diferença?

Eu prefiro acreditar que estou errada, eu sou a peça fora do jogo. Eu, meu ceticismo e minha ignorância. Prefiro ser quem não sabe de nada do que ser quem continua sendo coagido. Não tenho escolhas, afinal a liberdade é uma utopia e as revoluções e grandes mudanças do modo de vida das antigas civilizações não foram assim como conta o teatro ou o cinema. Tudo fachada. Para quem se todos somos atores por trás das cortinas, quem estará assistindo?

Espero acordar um dia e não precisar me preocupar com o sono que não acabou ainda, com as contas que estarão pagas e com a comida que estará cozida.

Bom sono, boa comida e nenhum dinheiro a receber ou a pagar.

Isso sim é felicidade, se tentaram te vender alguma outra visão disso ou algum tipo novo de droga, meu caro, me perdoe a franqueza, mas faz tudo parte do show!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Flutua

Olhou mais uma vez pela janela.
Prédios, prédios, prédios.
E incrivelmente, o que sempre a incomodou foram os plurais.
Não basta um sorriso, só basta se forem todos.
Não me contento com um carro, dois, três, bolsas, sapatos, celulares, jantares, cumprimentos.
Um mundo plural no qual se encontrava sozinha.
E o plural de que tanto tentava se esconder, ali na janela.
Parece que do décimo sexto andar tudo parece flutuar lá embaixo.
Pensa em como pode flutuar também.
Lembra-se de como o algodão-doce da máquina do parque parecia flutuar no ar antes de ser capturado pelo homem de bigodes com seu palito.
Por que me deixei ser capturada?
Por que me deixei ser posta nesta torre?
Por que não joga toda a alma e o corpo ao invés de só as tranças, Rapunzel?
E no ímpeto de seu delírio consciente, ouve um choro de bebê que a chama a realidade.
Mais uma vez ela voltará a sua espera.
Ainda não foi desta vez.

São Paulo, 02 de fevereiro de 2010.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

luxo

Sou brasileira, posso me dar ao luxo da mesclagem sócio-cultural.

Posso sentar-me na minha poltrona em meu quarto pequeno iluminado por uma lâmpada ecologicamente correta - em tempos que nem as sacolinhas de plástico escaparam - e tomar minha Brahma gelada ouvindo o Frank - My way.

Posso me dar ao luxo de não saber ler em nenhuma outra língua que a minha mãe e ler romance russo, norueguês, tudo traduzido, porque sou brasileira e não se espera muito de um povo de clima quente e humor positivo.

Posso me dar ao luxo de passar a vida reclamado dos políticos ou do "GOVERNO", e continuar fazendo o mesmo nada dos demais, porque afinal de contas, sou brasileira, não se espera muito dos brasileiros na política.

Posso passar a vida à margem, os dias à míngua, algumas horas à toa. Ninguém vai ligar, não chamarão uma assistente social, um policial ou um padre, sou brasileira, posso me dar ao luxo da vagabundagem.

Quem sabe até sair do país pra ganhar mais, dançarina não é bailarina, e lá fora pagam bem, porque sou brasileira.

Posso me dar ao luxo de não ter luxo e mesmo assim passar todo um ano esperando fevereiro.

Porque sou brasileira, posso me dar ao luxo do carnaval.

Talvez me forme, consiga profissão, trabalhe pra uma multinacional, mas só assim pra ter status, porque empresa nacional? Ou tá falindo ou vai falir. Somos brasileiros, podemos nos dar ao luxo de não ter luxo.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ao caro Cronista

Tu que vês a vida com olhos castanhos de romântico discreto.

Tu que tens a mania dos otimistas irrepreensíveis e que mesmo após anos de luta conservam o vigor da juventude.

Cronista amado que delineia os dias com poesia e os simples detalhes de uma cidade alheia e distraída com devoção, esta me emudece e dilata minhas pupilas, eriça meus pelos do braço e da nuca, e eu meio atordoada continuo lendo para ter certeza que estás a falar mesmo tudo isso.

Caro Cronista, sei que possuis um dom raro e imenso, que não é tua culpa acreditar na vida apesar desta estar sendo destruída desde antes do dilúvio.

Sei também que não é culpa tua ouvir rouxinol durante o trânsito descomunal, mesmo quando te enfureces e entra junto na orquestra das buzinas.

Tu não és réu!

Eu sei que nem sempre a vida pode ser contada em versos de uma prosa curta e simples.

Mas, Graças a Deus, às vezes, mesmo que escassa e sendo quase mítica, a vida pode ser poesia.

Graças a Deus!

05 de janeiro de 2012 – Metrô

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Quinta-feira

Acordo com o despertador. Não acordo. Ele é insistente como criança mimada e continua chorando seu chamego meloso e irritante. Desligo, me aborreço no meu primeiro instante do dia e levanto. Vou até o banheiro, o pai de todo “despertar forçado” à base de água gelada na cara e depois dos rituais dos cremes e sabonetes faciais subo pra cozinha.

Isso mesmo, minha casa é assim, às avessas. Um sobrado que o quarto fica embaixo e a cozinha e a sala na parte superior, não me pergunte o porquê, ou então vai receber uma resposta clássica de Chicó: “Num sei, só sei que foi assim!”.

Sento à mesa e vejo minha mãe atarefada, como sempre está, como se não tivesse dormido e tivesse passado a noite e a madrugada todo realizando alguma tarefa. Vejo-a com a cara meio amassada e penso com alívio “ufa, ela dormiu!”.

Oi, mãe, faz um queijo quente pra mim?

Ela não responde, continua com sua companhia de pensamentos, fala alguma coisa sobre o que vou fazer hoje, se vou lavar minha roupa ou sair, eu não digo nada direto, estou acordando, saber o que vou fazer é uma responsabilidade que ainda não peguei na cota de hoje.

Como meu queijo quente, agradeço e chamo-a para ir ao mercado comigo porque não quero ir sozinha.

Começa a novela.

Antes tenho que usar o banheiro.

Antes tenho que trocar de roupa.

Antes tenho que ver o que vou comprar pro almoço.

Antes...

E nessa eu perco tanto tempo que me pergunto se não teria sido melhor ter ido sozinha...Não!

Ir com minha mãe ao mercado já faz parte da vida. Teve uma época que era minha terapia, andar com ela, quase nunca a gente fala coisa importante, isso é bom, sempre que falávamos coisas importantes era para tentar resolver alguma crise, ou problema grande. Problema pequeno a gente resolve sozinho. Melhor quando se fala de nada.

Então depois de um tempo esperando-a pego o livro e começo a ler minha crônica do dia. Geralmente leio no ônibus ou no metrô. São lugares onde o tempo é ocioso e tem bastante gente. Crônica me lembra gente. Eu gosto.

Depois do segundo parágrafo ela desce e diz “vamos?”, Ah! Tá de brincadeira eu penso, agora que tô lendo? Não vou nem me mexer, e continuo.

“Vai mais não?”

“Mãe, tô lendo!”

“Ah! Tá lendo o Braga?!” E faz uma cara de amiga que vai com a outra na festa e é trocada no meio do baile por um par de calças. E entra no meu quarto pra não ver nada e não fazer nada, volta pra sala e fica me rondando.

“Vai me atrapalhar mesmo?”

“Eu não, quem sou eu contra ele?!”

Termino a crônica e embarcamos para a terapia da ida ao mercado.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Metrô sentido bairro

Estilo é uma coisa engraçada.
Engraçada não, estranha.

Estilo é a palavra que muita gente usa pra definir “rótulo” mais adequado pra cada pessoa, baseando esta classificação no tipo de roupa que se usa, de música que se ouve, de lugar que frequenta, de opinião, de tudo que pode envolver profunda, mas ainda mais superficialmente um modo de vida e conduta.

Existem, deste modo, no que cabe a mim uma pessoa desconhecedora do assunto, algumas “tribos urbanas” bem difundidas, os Isqueitistas, os Surfistas, as Patricinhas, os Alternativos, os Nerds, os Roqueiros, as Periguetes, os Indie...meu santo, quantos...

Enfim, o que tudo isso tem de ver com esta quinta-feira quente, já tá tarde e eu do lado da cama pra escrever coisas inúteis no lugar de dormir? Não, chegaremos ao ponto da questão:

“Todos adoram uma patricinha!”

Estava eu voltando agora a pouco do centro, sentido bairro, no metrô e eis que vejo uma moça muito bem arrumada, loira, vestido preto, também subindo as escadas rolantes. Porém, como eu não tenho tempo de ficar admirando a paisagem, continuei subindo as escadas. Quando entrei no trem, porque pobre faz baldeação adoidado, depois de respirar uma vez, pois entrei com pressa—como se meu ritmo adianta-se o andar da carruagem—logo sinto um perfume doce e quando me viro quem me olha com olhos grandes pintados de sombra azul? A Patricinha, a tal. Não acreditei, como assim ela conseguiu chegar ao mesmo tempo em que eu? E nem tá ofegante? Caramba! Acho que agora acredito naquele lance de que o assassino que persegue alguém nunca corre ou se cansa, mas sempre alcança.

Deixando minha frustração de lado, tenho que contar-lhes que todos, exatamente todos os homens no vagão olhavam pra ela, ou pelo vestido, ou pelo perfume, ou pelo cabelo, que estava de um jeito meio enrolado por inteiro, como uma onda que se engoliu. Enfim, todos jogavam olhares desconfiados e ligeiros pra ela. Ah, antes que passe batido, as mulheres também [senão eu não estaria contando a história]. Contudo o que mais me chocou foi um cara, estava ao nosso lado, um sujeito que deve pertencer a classe dos alternativos da classe quase-média, aquele alternativo assumido, porém que ainda tá na etapa “tentativa”, só convence quem olha de relance, entende? Ele não estava a observando, estava a decorando, coisa de encabular e dar vergonha alheia. E ela? Xi, nem ligava, fingia que não era com ela, que era a coisa mais normal do mundo pegar trem no horário de volta pra casa, no qual todo mundo já tá fedendo e com cara e corpo de morto e ela com aquele ar de princesa que acabou de tomar banho no Nilo.

Começou a chover agora, delícia, vou dormir com chuva.

Pra finalizar, é claro que ela não desceu na estação final, gente desse “nível” nunca vai pro final. Depois de falar super-alto num celular enorme, porque agora quanto maior mais chique, com alguém confirmando o hotel que ela devia ir, desceu deixando pra trás só o resto de perfume e a dúvida, “hotel...querida? A esta hora? Estranho hein...hoje é quinta”.

15 de dezembro de 2011

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

MERCHANDISING!

Ontem, por um completo acaso, descobri um blog maravilhoso.
Não, o "maravilhoso" não vem do fato de encontrar um bom lugar de leituras e imagens, mas do fato que é do Bruno e eu o leio a algum tempo no outro blog dele, e nem se quer imaginava a existência deste outro...
Como pude?!

Então eu pensei, talvez algumas pessoas gostassem de conhecer meu outro lugar de palavras e imagens, que tenho como um lugar mais particular, quando entro, parece que ultrapassei por um véu.

Aqui é minha sala de visitas, mas lá...é quase meu quarto.

Então, para quem se interessar:

http://projeto-secundario.blogspot.com/2012/01/no-portao.html

Prometa tirar os sapatos antes, não quero sujar o chão com moléculas de rua, deixe seus preconceitos e julgamentos aqui, e sinta-se à vontade!

Um abraço e que seja bem-aventurada a tua visita!

Ps: o blog do Bruno que eu achei demais!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sina


“Porque a mulher que está esperando o homem recebe sempre a visita do Diabo, e conversa com ele. Pode não concordar com o que ele diz, mas conversa com ele.”
A mulher esperando o homem – Rubem Braga

O grande Rubem disse isso e muito mais sobre um assunto que não é muito comentado, afinal de contas assumir que espera alguém neste tipo de situação - que podem ser muitos os motivos, mas sempre o mesmo gosto amargo da esperança que ainda não morreu – é como por uma placa no pescoço:
“Eu levo bolos, constantemente”.
Esperar, mesmo que a pessoa apareça, depois de certo tempo considera-se um bolo, se você chegar a cochilar, não precisa nem dormir, só cochilar um pouquinho...Batata! Desculpe informar, mas você levou um bolo.
Contudo, falaremos de outro tipo de espera. Deixe-me contar sobre uma pessoa que conheço, ela tem seus vinte e poucos [diga-se de passagem: tantos] e está solteira. Está sozinha. E quando digo sozinha é literalmente porque com ela não existe aquele papo de “solteiro sim, sozinho nunca”, é moça séria, pra casar mesmo. Mas como te disse ela está só.
Agora vejamos, ela está esperando o homem? Ela não tem um marido que sai pra não se sabe onde na sexta depois do trabalho com não sei quem, ela também não tem um namorado que foi jogar e disse que depois passava na casa dela pra assistir ao filme que ela alugou e já são quase onze, a pipoca já murchou, a maquiagem já borrou e ele ainda não apareceu. Não, ela não tem nenhum homem para esperar, mas ela está isenta da espera?
Não.
Infelizmente.
Permita-me citar mais um mestre, o querido Machado escreveu, comparando mulher com fruta, que as boas mesmo estão no topo da árvore e só um homem realmente valente pode colhê-la. Tá bom, tudo bem, assumo que foi uma boa metáfora, mas vem cá e enquanto o bonitão do cavalo branco não aparece ela vai fazer o quê? Tricotar, bordar o enxoval, ouvir música com fone de ouvido, ler uma revista ou quem sabe...Esperar?

Sina de espera! De acordo com o Jorge a mulher rendeira não dá ponto sem nó, borda no linho toda a espera de um amor. Esperar é uma sina, um castigo, ou um destino. Quando quer ser mãe tem que esperar nove meses, pra ter uma casa...lá se vai anos, a faculdade é no mínimo quatro, tempo de experiência no trabalho: três meses sem um pingo de segurança, sem contar que tudo, mas pra tudo mesmo você tem que pegar fila, [ôh, inferno!].
Esperar não é um verbo, tornou-se um estilo de vida.
A mulher não espera mais o homem, espera o salário, as férias, o jantar na casa da amiga, o sapato que comprou no site novo, o cartão-postal daquele amigo que foi pro Canadá. E assim a vida pode ser contada no relógio, não em palavras como as minhas, que vêm e passam, como qualquer coisa que perde a importância quando quem chega não é bem aquela pessoa que você estava esperando, com aquele quase sorriso e a decepção no:
“Ah, é você?[...]”.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Surreal


Um dia acaba.
Outro começa.
Quando um segundo a mais passa para chamar o próximo que pertence à “zero hora” eu penso: como pode uma hora ser zero se depois de 24 vem 25? Não posso contar consecutivamente?
E a voz diz:
“Não, mocinha!”
Imagine se fosse assim desde o início dos séculos?
Mais fácil, contar até 24 e zerar.
Se fosse um coreógrafo que tivesse inventado seriam 8 horas por dia:
1,2,3,4...
5,6,7 e 8!
Ah! Graças a Deus que também não foi uma professora do ginásio, seriam 10 horas por dia.
E se fosse um pastor que ler muitos salmos, poderiam ser 150!
Talvez quem inventou as horas do dia era uma mulher casada que tinha 10 filhos e comprava dois bolinhos para todos em casa nos domingos, daí então eram 24.
24 bolinhos, 24 horas.
No último sábado fizemos uma contagem regressiva e um segundo a mais fez-nos despedir de um amontoado de 365 dias e recomeçamos a contar de novo.
Um segundo a mais e pronto:
Primeiro dia do ano, mais uma vez?
O que esperar? Nada além do que esperava um segundo atrás.
A vida!