quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Anunciação de amor

Como as coisas mais importantes na vida não são explicáveis.
O amor não é diferente.

Não sei dizer se é um sentimento, um estado de espítiro, uma filosofia de vida, uma profissão, uma vocação, uma ação, uma palavra, um livro, uma pessoa, um lugar, um doce.

Não sei lhe explicar como acontece, como chega, como entra, como sai, como fica, como preenche, como cheira, como canta, como brilha, como voa.

Não sei te mostrar com poesia, com pinturas, com paisagens, com companhias, com ciência, com literatura e prosa, com magia e alquimia, com dinheiro, com internet, com anatomia.

Não sei de onde veio, para onde quer te levar, com quem vai se apresentar ou se parecer.

Só sei que assim como quem quer tudo e te dá o mundo, se anuncia de mansinho e um dia você só sabe que sabe, mas não sabe bem o que é que agora você sabe.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Anunciação de saudade

Aquele sentimento de nostalgia gostosa e melancólica.
Aquela dor na garganta sem motivo, muito menos aviso prévio.

Aquilo que dá um reboliço no peito em plena tarde ensolarada,
não pergunta onde você tá, com quem e muito menos fazendo o quê.

Quando uma lembrança toma conta da visão e parece se tornar tátil.
Quando um cheiro invade o ambiente sem fonte de origem.

A saudade é algo que se alimenta de ausências, me disse um sábio.

A saudade é vontade de viver mais um pouco do que já foi vivido,
sem ciúmes, sem inveja, sem ganância,

um sentimento tão puro quanto o de que o sorvete de chocolate não derreta tão rápido
em pleno verão nas mãos de uma criança sorridente.

Faz-se então presente o que está ausente e aí então, quem quer que seja eu,
não estou mais sozinho.

Não sou mais eu,
somos nós.

Somos todo!

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Anunciação de VIDA

Há algum tempo atrás eu me encontrava tão perdida e confusa que não sabia nem resumir a minha situação na época pra quem quer que fosse.

Tinha em minha mente a mistura do passado familiar e do presente de um relacionamento amoroso que me levavam a fazer escolhas continuamente de autotortura.

Resolvi buscar uma ajuda profissional no ápice do meu surto. Passei por cima dos meus preconceitos sobre a psicologia e sobre mim mesma, principalmente, e fui à primeira consulta que mais me decepcionou do que qualquer outra coisa.

Eu, naquela época, achava que tinha de controlar tudo ao meu redor para evitar perder o rumo das coisas. Quando comecei a terapia eu tentei controlar isso também. Às vezes eu pensava antes o que dizer e como deveria ser, e o que fazer nas consultas. Grandíssima bobagem.

Assim como na vida, a terapia não tinha um mapa de como seguir e não havia um manual de como fazer as coisas certas ou erradas. Nós só tínhamos que conversar sobre assuntos que eu não gostava de falar, passar por cima das minhas respostas prontas e encarar quem eu mais temia e quem mais me julgou toda a minha vida: eu mesma.

A psicóloga foi muito profissional e paciente. Acho que de cara ela percebeu que o meu maior problema de relacionamento não era com o meu namorado ou com meu pai, muito menos com o mundo. Meu maior desafio era o meu relacionamento comigo.

Nestes oito meses de terapia eu me descobri, me permite, terminei um relacionamento, comecei outros, recomecei muitos outros.

Viajei, vi gente, deixei que outras pessoas me vissem, descobri um mundo novo, sem mapas nem manuais, apenas o inesperado para nos surpreender.

O inesperado que eu não conhecia: a VIDA!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Anunciação de frio

Não preciso dizer que odeio frio.

Até porque não odeio.
Na verdade eu me odeio no frio.
Fico irritada com tudo, chata, antipática.
Um verdadeiro c*!

Não sei porque todas as minhas falanges, dos pés e das mãos, têm de doer tanto!
Deus, que inferno!!!

Não quero mais brincar de pequena européia na minha própria casa,
e o vento?
Pra quê tanto vento.
Odeio ouvir a rádio e a moça falar:
"Amanhã mínima de 4 graus na madrugada, mas sensação térmica de -1".
Po**a! Fala logo que vai estar insuportável e é pra todo mundo continuar na cama!

Inferno!
Com certeza o inferno queima a pele, porque é tão gelado, mas tão gelado que nem o cão quer!

Ai, céus!

Não preciso dizer que este texto sofreu alta coerção da minha irritabilidade sob o frio paulistano ridículo!
Ca*a**o!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Anunciação de morte

Tenho, por natureza, necessidade de vida.
Tenho ânsia por movimento, por sentimento, por história, por planos pro futuro.
A vida em todos os seus aspectos, bons e ruins me agrada.
Viver é meu objetivo.

A morte já passou na minha vida algumas vezes.
Não gosto de me lembrar.
É como algum sonho ruim e tenebroso que só de vir à memória a gente tem medo de virar realidade,
pena que era realmente realidade.

Odeio aquela frase que diz que a única certeza na vida é a morte.
Não concordo.

Acho que a única certeza da morte é que houve uma vida, sem a vida não haveria a morte.

Primeiro deve haver pra depois deixar-se de existir.

Leio livros que culminam em mortes, mas tento não me apegar aos finais e sim à vida e toda experiência que veio antes. Vejo filmes que terminam em mortes - alguns têm morte mesmo no início - e mais uma vez enrolo minha mente com outros pontos, outros fatos.

Infelizmente, mais frequente do que gostaria, não consigo ser bem sucedida nesta meta e choro.
Hoje meu choro foi como de neném quando já está cansado de chorar, foi quieto, nem alto nem baixinho.
Só chorei e me deixei chorar.
A morte era fictícia, mas assim como os quadros que estão expostos no Museu Paulista lá no Ipiranga são representativos da realidade passada, assim também esta morte fictícia pela qual chorei hoje representava uma morte real. E chorei por ambas.

Chorei em nome de toda ausência que fica pra preencher aquilo que já se chamou vida.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Anunciação de chuva

Mal o jornal anunciou de manhã que haverá pancadas de chuva à tarde, já se ouve praguejamentos – leiam-se palavrões chulos mesmo. Ninguém vive sem água, e todo mundo estuda na terceira série naquela matéria chamada na minha época “ciências”, o ciclo da água. Lembro que quando fiz a terceira série me achei muito crescida porque apresentei algo relacionado a isso na feira de ciências. Hoje fico imaginando como todos os adultos deviam passar e pensar “que fofinha”, ou talvez “tão pequenininha e tão espertinha”... e eu me achando demais adulta por ter falas tão inteligentes.

Mas superando meu ego infantil, hoje a moça do tempo acertou e tivemos momentos de chuva na cidade no final da tarde, moças do tempo adoram esta expressão “no final da tarde” e muita gente praguejou mais ainda.

Eu não sou daqui, de onde vim tudo depende do ciclo da água, e este mistura-se tão intrinsecamente com o ciclo da vida que anunciação de chuva é como alguém gritar em praça pública “Salve, Jesus tá voltando!” – guardadas as devidas proporções de outras religiões. Ou seja, fiquei muito feliz com a chuva.

Assim que a chuva caiu, literalmente, eu dei tchau pro pessoal do trabalho e caí na rua, não literalmente. Fui andando só pra ver este milagre que é sentir água caindo do céu. Não sei você, mas pra mim chuva é mágica, é como um tapa na minha cara dizendo “você se acha alguma coisa, explica isso então..” Eu estudei, já disse aqui, o ciclo da água, sei qual a lógica por trás, meu trabalho é ciência, eu estudo pra decifrar “porquês” e “comos”, mas mesmo assim, com tanta racionalização na minha cabeça, mesmo transformando em sinapses até os meus sentimentos, pra mim, a chuva é e sempre vai ser um mágico milagre.

terça-feira, 30 de abril de 2013

dia logo de madrugada

— Eu gosto muito de você.
— Não gosta, não, você não me conhece.
— Então eu te odeio.
— Também não odeia, não, você não me conhece, como pode me odiar?
— Ah, então só te quero.
— ...

Um sorriso abafado por beijos nervosos e quentes.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Regina Spektor - O show 10 de abril de 2013

Um encontro marcado, a ansiedade.
Esperança é o ato de esperar, esperei dias, depois horas, depois minutos.
Enfim, a ansiedade, a espera, a emoção, tudo era ela.
Linda e talentosa, com seu vestido recatado e sua voz suave.
Moveu as montanhas do meu racionalismo e por um momento,
por mais fulgás que tenha sido,
eu, a dona de tantas teorias e estratagemas contra mim mesma,
apertei minhas mãos, fiz as pazes comigo e nós duas,
eu e minha consciência fomos amigas.
Ontem eu era todo sentimento.
Ontem eu amava a todo o mundo de uma só força.
E ela me encantou com sua melodia e sua graça!

Se um dia você tiver a oportunidade de vê-la cantar, não pense duas vezes, vá correndo!
Regina Spektor fez o meu ano em um dia.
Inesquecível!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Verdade, a meu modo

Eu sempre fui uma pessoa que baseou escolhas e relacionamentos na verdade.

A verdade liberta.

Apesar de não ser cristã é esta a mensagem mais sábia que depreendi da Bíblia Sagrada:

 "E a VERDADE vos libertará". 

A verdade lhe tira falsas esperanças, impressões, emoções, sonhos, fantasias.
A verdade é metal frio na pele ferida, não é paliativa, ela cura e cicatriza, mas dói e corrói um futuro que não  vai mais existir, mesmo que ele nunca fosse mesmo ocorrer.
A verdade é certeza de algo que não existe (rá) e a possibilidade de novos acontecimentos incertos.

A verdade é a única coisa que tenho procurado, é uma busca infame e solitária.
É um suicídio e homicidamente justa e abrupta.
Hoje eu não tenho nada nas mãos, dedos vazios, sonhos maiores que meus braços para carregar,
uma vontade de abraçar o momento do agora e não deixar ele virar passado.
Hoje eu sou mais verdadeira comigo mesma, a pessoa mais dura e exigente que poderia existir pra mim, começo a me aceitar humana.
Hoje minha única veste é o sangue que escorre do meu corpo desfigurado e esfolado, para me despir de tudo que não é real e de tudo que eu tenho que me desfazer para encontrar a minha verdade. O que dentro de mim é verdade. O que dentro de mim pode não fazer sentido - ainda. Dói me procurar aqui neste corpo.

Tenho cometido erros, tenho me ferido, tenho dormido de olhos abertos para enxergar o mundo.
Tenho olhado pela janela, tenho tomado banho de água morna pra tentar aquecer meu corpo, tenho bebido litros para fechar os olhos e me enxergar aqui - dentro.

Amanhã? Não sei.

A verdade é que eu nunca conseguirei saber quando e onde a verdade pura e descosida da alma encontrei/encontrarei/encontro.
A verdade é que eu sempre vou procurar.
Não sei em que pé eu ando, mas posso imaginar em que nuvem minha cabeça voa.