quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ano que vem...

Eu vou.

Minha mãe acabou de correr com a minha calça na mão vinda do banheiro, “tem uma aranha, tem uma aranha nas roupas, ela é enorme, entrou no meio da tua calça”. Pronto foi o suficiente pra levantar o alvoroço na cozinha. Ela tentou espantar a aranha com água, mas ela se encolheu dentro do bolso. Meu pai foi acudir pra amiga aranha não morrer no processo de evacuação, “calma, calma, assim vai matar a coitada. Não precisa matar a aranha”, meu pai conseguiu tirar ela do bolso da minha calça, a pobre se fingiu de morta, mas ainda tava viva. Ele jogou a aranha do outro lado do muro onde tem muito mato pra ela fugir. Tomara que ela não volte porque eu tô dormindo no chão, “meu deus, será que ela já tava no quarto ontem à noite?”, durmi no colchão no chão ontem bem pertinho de onde ela apareceu, credo, tomara que nenhuma aranha tenha passeado perto de mim enquanto eu dormia, credo, credo.

Pelo menos sobrevivemos, a aranha e eu.

Um bicho aparece dentro de casa diferente do cachorro e a gente já se abala. Já começa a ficar assustado e com medo. Como a gente é besta. Tava aqui no sofá pensando na vida e uma aranhazinha abalou e tomou a cena por uns instantes. Tava pensando no que um amigo me falou uns dias atrás, “O que você vai fazer ano que vem? Vem pra cá trabalhar comigo!”, essa frase ficou ecoando dentro da minha caixa craniana como se houvesse um vazio lá dentro chamado “2016”. “O que você vai fazer ano que vem?”... “O que você vai fazer ano que vem?”... “O que você vai fazer ano que vem?”...

Fiz muito esforço durante bastante tempo para ignorar o fato de que pela primeira vez na minha vida eu não tenho uma dica de como vai ser meu ano vindouro, como diria minha vó.


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou estudar. Não sei onde nem o quê exatamente, mas sei que preciso colocar meu cérebro nas pistas novamente. Durante meu último ano da faculdade eu estava cansada demais e me prometi um ano de descanso. Agora já vou pra um ano e meio de pouca alimentação sináptica à custa exclusivamente da literatura, clássica e contemporânea. Foram boas as férias, mas sei que preciso de algo novo circulando nos corredores da minha mente.


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou viajar. Não só porque eu gosto e quero sempre, mas porque pelo menos os primeiros dias de janeiro eu vou estar em viagem, a única (quase) certeza do almejado 2016. Vou dentro de uma semana pra casa do meu atual namorado e o plano é ficar lá até a terceira semana de janeiro. Quais os outros destinos? Claro que eu não sei. Não sei se ainda vou rodar um pouco na Europa, se volto pra casa cedo, se vou dar um pulo onde meu amigo me chamou pra trabalhar um pouco e juntar uma grana (México). Ainda tem a viagem pra Argentina que tá programa é só falar “tô indo” pro Juan e ir. Se não houvesse o detalhe dinheiro eu tenho os meus dois destinos preferidos: Japão e Rússia, e de resto o mundo todo. Viajar podia ser uma profissão. Eu sei, eu sei, tem muita gente que consegue fazer disso uma fonte de renda sem ser vendendo miçanga ou tocando em estação de metrô, mas quantas pessoas você conhece que ganham a vida viajando? Pois é, eu não conheço ninguém, mas bem que eu podia dar um jeito. Quem sabe?


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou escrever mais. Descobri a bastante tempo que escrever me faz um bem danado. Já me curei de mal de amor e de tédio escrevendo. Já tive inúmeros diários, secretos e sem cadeado, já fiz alguns blogs, hoje alimento só um, muito mais ou menos. Não estou dizendo que vou escrever todo dia, nem que vou fabricar um livro ou publicar 300 postagens no meu blog. Mas eu vou escrever mais. Preciso manter meus pensamentos em dia comigo mesma e depois que fiz terapia percebi que escrevendo eu reflito bastante e consigo colocar muitos assuntos internos numa perspectiva com distância de observador. Isso ajuda muito, ainda mais em momentos que não tenho como procurar uma psicóloga boa como foi a Renata, ou por falta de tempo e dinheiro ou por preguiça mesmo. A reflexão é como editar um texto, você tem a chance de trocar algumas palavras mal usadas, reescrever expressões e realocar frases inteiras. Depois de refletir geralmente eu descubro pessoas com as quais fui injusta e não há outra saída do que ir resolver as coisas. É bom.


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou ficar “deboa”. Sou muito feliz hoje ao dizer que em agosto deste ano eu completei um ano de algo que eu, com bastante modismo, vou chamar de “deboismo”. Deboismo foi um título muito bem sacado que surgiu no facebook para denominar como uma nova religião fundamentada em viver “deboa” com todos e tudo. O que seria isso? É basicamente viver para plantar coisas boas e positivas, fugindo do que causa briga e confronto, não deixar coisas mal resolvidas, pessoas com sentimentos ruins por você se houver algo que se possa fazer. Sou assumidamente ateia e não ter religião às vezes incomoda algumas pessoas que me conhecem, brincar de ter uma religião é mais engraçado agora do que nunca. Vejo o humor derrubando de forma inteligente muitos tabus da nossa sociedade, quem sabe o Deboismo não tá aí pra confrontar algumas mentes? Desde agosto de 2014 que não alimento raiva, mágoa, rancor, tristeza, decepção nem qualquer outra coisa que possa me fazer mal ou a quem vive comigo. Isso não quer dizer que faço meditação ou que virei vegana, não, às vezes a gente cria estereótipos de como ser e fazer as coisas “por um mundo melhor”. Aprendi a criar minha própria filosofia de vida, ainda tô trabalhando nela, mas aos poucos, não tenho pressa. Admiro o Reggae criado pelo Bob, é uma ótima maneira de fazer a vida, um movimento com muito ritmo, pouca pressa, mas que não pára.


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou deixar meu cabelo crescer. Vou pintar mais as unhas de vermelho. Vou descobrir um artista novo todo mês. Vou me apaixonar por novas músicas e ouvi-las vinte vezes no dia. Vou tirar fotos em novas cidades diferentes. Fotos com amigos antigos. Vou tomar novas cervejas. Vou ler novos livros antigos. Vou ao cinema pra rir e ligar a tevê pra chorar.

Eu vou tomar sol usando filtro solar. Vou tomar menos refrigerante. Vou tomar mais o meu café sem açúcar. Vou comprar roupa nova. Vou passear de mãos dadas com alguém à tarde. Vou aprender a cozinhar alguma coisa diferente. Vou ligar pros meus pais com saudades.

Eu vou completar mais um aniversário e ficar mais perto dos trinta do que dos vinte. Vou comer sashimi como se fosse de novo a primeira vez. Vou beijar demorado e fechar meus olhos. Vou tomar chá pra curar ressaca. Vou dormir até meio dia pro tempo passar mais rápido. Vou dançar a madrugada toda como se ainda tivesse 17. Vou fazer amizade com alguém que não fala nenhuma língua que eu já ouvi na vida. Vou me perder pela quinta vez no mesmo lugar porque as ruas são todas parecidas.


“O que você vai fazer ano que vem?”
Eu vou recomeçar de novo. Se for preciso todo dia.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ela é de humanas

Quando estava no final do colégio e me encontrei no famoso dilema de escolher qual faculdade eu vou fazer, descartei de cara uma gama de opções com o seguinte pensamento "Não manjo física e matemática, nada de "Exatas" não quero morrer de estresse e ódio pela raça humana, nada de "Humanas". Simples assim.

Quem me conhecia na época apostava que eu ia fazer alguma coisa entre ciências sociais, letras ou história, mas não rolou. Minha experiência com as ciências humanas no colégio teve grande influência nesta decisão, eu poderia resumir três anos de estudos "Humanos" em uma palavra: decepção.

Sim, porque apesar de não gostar de Exatas quando eu me esforçava e tentava manter as linhas de raciocínio 2 ao quadrado era sempre 4 e sob as CNTP os gases têm comportamento previsível. A matemática não te decepciona, ela não vai te deixar frustrada, você pode frustrar-se consigo mesma por tirar dois na prova de vetores, mas a física tá lá, intocada (pelo menos nos níveis de conhecimento que tive a honra de ser apresentada). Já as Ciências Humanas... Ah!

Decepção é uma expressão forte, mas ao mesmo tempo parece não exprimir tudo. Porém, o que esperar de estudos que têm como ponto central o ser humano e suas atitudes? Somos um monte de merda fazendo sujeira e fedor por aí.

Escolhi farmácia, fiquei no muro entre a biologia e a química, a mais experimental das "ciências exatas", muita gente achou que não ia durar, mas cá estou eu comemorando um ano e meio de formada. Uhu!
Ah! An...

Fui pro lado da ciência experimental, protegida dentro de um laboratório e outro da espécie humana, de seus estudos e de suas decepções. Fiz uma escolha, preferi estudar como salvar o corpo fisiologicamente falando de um ser humano do que entender suas misérias, cada uma sabe de seus próprios limites. Escolhi não me envolver. Estou em paz, certo?

Hum, o que tenho a lhe dizer é que a vida é uma caixinha de surpresas completamente irônica.

Não fiz letras, porém continuo lendo e indo cada vez mais fundo no mundo da literatura. Não sou uma leitora que preza quantidade, mas a qualidade tem me guiado bravamente.

Não fiz história nem geografia, mas tenho viajado e aprendido os podres e as glórias de diferentes povos, suas desgraças e assunções são lindas de se ver e ouvir, principalmente banhado a cerveja.

Não fui cursar nenhuma ciência social, psicologia ou licenciatura, mas aprendi e aprendo todo dia com os outros espécimes iguais a mim o quanto somos limitados e devemos aprender com esses limites.

Tentei fugir de ser humana, mas a humanidade que buscava evitar esteve sempre dentro de mim. Como posso fechar os olhos e dizer "feminismo é mimimi" ao abrir a caixa de entrada e ver uma mensagem da minha prima dizendo que está na delegacia porque um "malandrão" não aceitou o não que ela e a amiga deram e avançou o sinal, assedio sem abuso físico é crime sim! Ou quando toda vez que vamos ao bar e meu namorado pede as bebidas eu tenho que trocar os copos porque a cerveja é pra mim e o Martini é pra ele.

Como posso ser neutra ao ver meu próprio irmão sofrendo discriminação no trabalho e na faculdade porque "homem trans não é homem, é mulher com transtorno mental". VSF!

Como posso ser omissa se ao sair com um colega do trabalho pra beber uma cerveja e ouvir uma música a gente não pode pegar o metrô sem que algum grupinho faça piadinha e risadinhas soltando de vez em quando um "viado!".

Dá pra ser passiva de opinião quando seu pai luta por uma licença saúde remunerada por conta da igreja na qual trabalhou mais de vinte anos, tem que além de provar que está doente, abrir sua vida pessoal e circunstâncias simplesmente porque não é um câncer, que acomete qualquer um... Não, é HIV, e só pessoas devassas têm HIV, pessoas idôneas, como um pastor deveria ser, não pegam essas coisas.

Tentei não me envolver porque sabia que não conseguiria fazer pela metade e sair ilesa... Mas como é que eu vou fugir das ciências humanas quando eu sou a própria humanidade?

sábado, 21 de novembro de 2015

Dia Útil II

O que é útil? O que transforma algo de natureza abstrata em funcional dentro do cotidiano?

Algo que traga auxílio para o decorrer dos dias, das semanas, ou mais importante ainda, das horas, porque só quem vive sua própria vida sabe o poder esmagador que o rolar dos ponteiros pode ter sobre as ideias.

Tenho descoberto a funcionalidade do amor.

Não vejo uma forma mais racional de calcular o valor de algo abstrato a não ser pela ação que isso constrói. O que está dentro de nós borbulhando em banho-maria todos os dias, as convicções, ideais, motivações, vontades, sonhos, desejos, isso tudo torna-se explícito em nossas ações. Não estamos o tempo todo pensando sobre, mas nos serve como limites e fagulhas para o que fazemos. Sendo isto posto, gostaria de comentar como o amor entrou num patamar elevado dentro de minha concepção de respeito.
Vejo pessoas se apaixonarem e desapaixonarem tão facilmente e passarem por processos tão dolorosos e autodestrutivos que a muito me pergunto, por quê? O amor não é a única nem mais importante coisa que alguém pode ter na vida, disso eu estou convencida. Aí você cresce e descobre o grande mundo do namoro, depois você conhece um maior ainda, o do sexo, e experiências nascem dentro de todos os universos em caos e colisão. Depois de um período, que dependendo da pessoa pode ser de meses ou anos, alguém vai te dizer que você precisa encontrar o amor. Mas, o que é o amor? Bom, na nossa sociedade ocidental americanizada (brasileira) não se define muito bem isso abstratamente, talvez algumas novelas ensine uns truques, mas amor pode ser um tabu tanto quanto sexo para muita gente. Por outro lado, podemos dizer que se concretiza com um casamento, uma casa cheia de bugigangas, um carro, ou com o IPI reduzido e taxa zero, dois caros, dois filhos (porque um só é judiação com a criança e três já é muito gasto) e um cachorro, talvez, é que hoje em dia ter um animal significa que você é confiável, se for vegano então, posso te dar o número da senha do cartão de crédito, o que você vai fazer? Tão bonzinho! Um casamento feliz é para muita gente sinônimo de amor. Mas eu não sou muita gente.

Sou contra o casamento? Bom, esta é outra conversa. Estamos aqui mais propriamente para tratarmos de como o amor subiu no meu conceito e é claro que isso tem tudo a ver com estar alerta e reabrindo discussões constantemente, como gostaria de ver Raul Seixas.

Nos últimos meses eu me (re)questionei muita coisa, isso porque me coloquei numa situação que nunca imaginei poder ser possível: um relacionamento a distância. Foram dias muito produtivos de solidão, pensei bastante sobre o que eu realmente prezo neste mundo, percebi o quanto minha família tem um papel fundamental na minha vida. Coloquei na balança a importância de um lugar ou de uma pessoa. Vivi dias de ver muitas amizades abrindo portas de novas fases, amigos que desempenhavam um papel secundário passando a ser mais e mais importantes no meu cotidiano e aos poucos eu me dei conta de como eu amo os seres humanos.
O amor que me peguei sentindo foi universal.

Eu amo a vida, o respeito à vida e todas as formas de experimentar sentir-se vivo (sem que isso interfira na vida do próximo). Viver para os seres humanos tem um sentido a mais que a simples sobrevivência animal, nós como "homo sapiens" procuramos razões e sensação e isso é lindo. O amor que sinto me faz ser uma pessoa melhor, aprendi trabalhando com pessoas que às vezes mais importante que solucionar o problema de alguém é fazer aquela pessoa sentir que você realmente se importa com o problema dela. A "empatia" tão aclamada pela personagem interessantíssima de Audrey Hepburn em Funny Face - 1957. O amor é importante quando você está no meio de uma conversa e alguém diz "deviam mesmo era fechar a fronteira de vez pra todos esses árabes, já trabalhei no sistema penitenciário, só tem árabe lá", aí você pergunta "todos os árabes são ladrões, ou os bons árabes estão em casa, em seus países cuidando das suas vidas e os poucos aventureiros que veem pra cá tentar algo a mais do que poderiam encontrar lá, aqui também não têm oportunidades?". O amor se faz fundamental quando precisamos lembrar que além de americanos, europeus, chineses ou brasileiros nós somos humanos, quando precisamos lembrar que antes de ser minha casa, minha cidade ou meus país, moramos todos no meu planeta, mas que não é só meu, é nosso. O amor é lindo e importante quando penso no futuro e mais do que uma mega conta no banco e uma carreira ilustríssima, eu quero pessoas, humanos para dividir meus dias, minhas horas e dividir isso com qualidade. Porque viver é lindo, e o amor é importante para sermos humanos. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Um breve ensaio sobre relação

A falta de confiança é um veneno. Conheço algumas pessoas ingênuas que confiam em tudo e em todos. Se assistir um comercial do cogumelo do sol num dia inspirado perde dinheiro. É impressionante, chega a parecer piada.

Eu não sou uma dessas pessoas.

Não nasci ontem, e apesar de também não ser velha, a gente acaba aprendendo uns truques. A escola é realmente "uma escola". Lá eu conheci várias formas de discriminação, por ser a "aluna nova", por ter "cabelo de bucha", por ser "alta", por ser "menininha", (aí bati nos meus colegas e...) por ser "machona", por ser "inteligente", por ser "crente do rabo quente", por ser "filhinha de papai" (quando a gente mal tinha dinheiro pro mercado). Muitos adjetivos que nunca fizeram sentido pra mim. Acho que o que menos fazia e o que mais me marcou foi o do cabelo crespo. O que eu não conseguia compreender é "por que eu sofro tiração de sarro com minha cara sobre algo que não posso escolher?". Além do que se aprende por tabela das experiências alheias, gordo, magro demais, preto, amarelo, com espinha, com muita maquiagem, corte de cabelo, língua presa, roupa sem marca, pai sem profissão, por não ter pai, viadinho, virgem. Mas é assim mesmo, a gente aprende que tem pessoas do seu lado que estão aí para construir e outras para destruir. Neste movimento de construção e desconstrução o mundo sobrevive e se transforma.

Confio em poucas pessoas, e geralmente é instintivo, sinto que posso confiar e confio. A partir do momento em que eu confio eu simplesmente tiro o dedo do botão de alerta. Sendo assim só existe uma pessoa que pode ligar este botão: a própria pessoa em que estou confiando, sim porque confiança é um estado, para mim, não uma qualidade, que se mantém dia após dia com a convivência.
Conviver não é sobreviver em comunidade, conviver é partilhar vida e vida requer um certo nível de qualidade, de prazer. Convívio para algumas pessoas é a única forma de construir a confiança. Para mim é a maneira que você mantém a que eu te dei.
 
Tenho que admitir que geralmente as pessoas "positivas" pagam o preço de viver num mundo cheio de outras "negativas". Explico. Usei estes termos porque acho mais apropriado para explicar opostos do que dizer "pessoas boas" e "pessoas más", o que é bom? o que é mau?
Se você tem uma experiência desagradável com uma pessoa, vamos chama-la de "negativa" isso vai lhe fazer na próxima experiência acreditar que deve se proteger porque a próxima pessoa pode ser "negativa" de novo, e se você cair no mesmo truque a culpa é sua porque não se precaveu. Então você se protege para evitar viver novamente a mesma experiência.
Porém, se esta nova experiência é com uma pessoa "positiva" e você trata-la, mesmo que por precaução, como uma "negativa", aquela paga pelo erro de outrem, e então ocorre a falta de oportunidade com igualdade. Tratamento sem preconceito, igualitário.
 
Dito isso eu lhe proponho dois questionamentos: Primeiro, é justo os "positivos" pagarem o preço da desconfiança por viverem num mundo misto de "positivos" e "negativos"?
Segundo, é justo para quem viveu a experiência desagradável ignorar totalmente o passado, como se nada houvesse ficado do ocorrido, simplesmente para que todos tenham sempre as mesmas oportunidades despretensiosamente iguais?
 
Talvez devêssemos olhar para as situações, muito além de olhar para as pessoas. Disse tudo isso como resultado de uma conversa que tive com meu namorado e alguns amigos sobre este tipo de assunto e no fundo não penso que o mundo está dividido em pessoas "positivas" e pessoas "negativas". Acho que a mesma pessoa que viveu algo com alguém e isso resultou numa experiência negativa, pode em outro momento sob outras circunstâncias viver uma experiência positiva. Já vi várias vezes uma estigmação de caráter "bons e maus", "positivos e negativos", para autopreservação ou para uma simples reprovação alheia por prazer. A algum tempo tenho me mantido alerta a minha maneira de julga os outros pelos seus atos passados conhecidos, não quero ser aquela pessoa que olha torto pros demais pelo que estas fizeram em outras fases da vida. 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Dia Útil I

Primeira vez que fiquei sozinha em casa. Quer dizer, eu e o B., o cachorro de guarda compartilhada do S. Ele é um amor, educado e calmo, o tipo de cachorro que eu teria. Passamos a manhã toda só registrando que um sabia da presença do outro, mas ninguém dava o primeiro passo pra uma maior interação. Eu tomei banho, confundi a embalagem do hidratante com a do sabonete líquido, então tomei outro banho. Tomei café, guardei a louça limpa, limpei a mesa do café e coloquei a louça suja na máquina. Guardei as roupas secas e arrumei a cama. Reguei as plantinhas de dentro de casa e comecei a fazer algo que estava pendente a dias: editar as fotos da viagem. Fomos a Berlim e Praga, as de Berlim eu editei praticamente todas lá, mas Praga foi tão rápido e intenso que não tive tempo, então parei de enrolar e mãos à obra. Quase 200 fotos, sem problema, rever é registrar o que realmente vivi na última semana, não foi um sonho, foi real, e eu tenho provas. Mas então alguém resolve sair do seu cantinho quente e confortável no sofá e me encarar: B., o cachorro fofo. Ele me encarou tão resoluto que eu tive que admitir, dava pra ler o seu pensamento canino me advertindo "Ou, humana, você não acha que tá na hora de me dá um pouco de atenção e me levar ao toilette?"

Lá fomos nós, ele animado e eu chacoalhando de frio. É impressionante como mesmo com sol faz um frio danado, não consigo entender. Na minha concepção tropical se não tá chovendo, ventando ou nublado não tem sentido algum fazer frio. Não chove, não venta e o sol tá aí, de onde vem esse frio danado. Meu Padim!

O B. é um cachorro educado, não sei se foi com adestrador ou em casa mesmo , mas ele é, só levei ele de coleira porque ele não me conhece e eu não quero cometer o crime de perder o cachorro de ninguém no meu primeiro dia sozinha, tô nem louca! Ele sabe os lugares onde marca seu território, dava pra ver que ele fazia o caminho muitas vezes percorrido, e numa certa altura ele simplesmente deu umas cheiradas e umas voltinhas e se preparou pro coco. Fez o coco, nem olhou pra mim e foi direto fazendo o caminho de volta pra casa. Eu só pensando "esse cachorro tá me levando pra passear, ou o quê?"

Nossa manhã terminou com a chegada do S. pro almoço. Depois de comer fomos à cidade pra resolver o primeiro passo pra minha socialização aqui meu "Bilhete Único Lausannês", não sei ainda como eles chamam aqui, ainda tenho que aprender a língua francesa, quanto mais palavras cotidianas, mas depois de correr atrás de uma máquina pra tirar foto e pegar uma filinha que não deu nem estresse (impressionante como andou rápido) eu tenho meu tíquete mensal de metrô e ônibus.

Dei uma volta na região do metrô central e fui encarar o desafio de voltar da cidade  pra casa sozinha no transporte público. Cheguei bem, só dei uma errada no primeiro metrô que peguei, o sentido tava errado e na hora de descer do ônibus eu fiquei tensa porque tinham três paradas com o nome "X", mas eu descobri que a minha era a segunda. Depois quase peguei a estrada errada pra fazer a pequena caminhada de 3 km pra casa, mas assim, nada que possa me impedir de dizer: cheguei bem em casa!

Acho que a tensão dessa aventura do transporte público me deu fome, porque tomei dois copos de leite. Hum, uma pausa pra comentar: Que leite! Menino, não é à toa a fama não, o leite é delicioso, tomei puro.
O resto foi só aproveitar a emoção de ter sucesso no meu primeiro dia.
Obrigada a todos pela torcida, ao aguardo das próximas aventuras.