segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O que você quer?

A partir do momento que uma ilusão morre, consequentemente nasce uma verdade. Uma verdade que não existia porque era incompatível com a ilusão que você criou e colocou na cadeira ao seu lado. A cadeira esvaziou ficou fácil pra Verdade se sentar à mesa.

Sou uma viajante, esta será minha profissão nos próximos meses, quem sabe anos.

Hoje no ponto de ônibus, enquanto esperava, eu me permiti perceber que posso sim andar mundo sem culpa por um bom tempo, afinal quais são meus sonhos?

Eu quero uma carreira de sucesso e um nome numa placa?
Não. Eu quero as coisas que um emprego bom pode trazer por ter um salário bom, mas reconhecimento internacional ou nacional em alguma área específica da minha profissão? Isso eu passo.

Eu quero uma família linda, rica e saudável?
Sim. Mas isso eu já tenho, minha família é e sempre será meus pais, meu irmão e quem mais for se agregando. Não quero me casar, não acredito nisso. Nem quero filhos, não teria jeito pra isso.

Eu quero me fixar num lugar e passar os meus próximos 50 anos?
Não. Eu não quero limitar minhas possibilidades de nenhum modo. Meu maior bem é minha liberdade, qualquer coisa que ponha isso em cheque eu abomino.

Então, o que é que eu quero?

Eu quero conhecer o máximo de pessoas e lugares possíveis , viver experiências inesquecíveis, fazer parte da minha família de uma forma construtiva, ser alguém que evolua cada dia como ser humano. Quero ajudar as pessoas que cruzarem meu caminho. Quero que meu trabalho me traga felicidade e não problemas, que ele me ajude a realizar meus sonhos e não os engula.

Quero poder sonhar, planejar e depois realizar.

domingo, 28 de setembro de 2014

Viajante

Sou uma viajante de mochila nas costas. Se alguém me perguntar qual é minha profissão eu respondo farmacêutica, se alguém me perguntar qual minha ocupação ou lazer eu digo que é viajar. Eu estou viajando, o mais engraçado é que alguns dias repetindo o mesmo teto e comecei a me iludir do contrário.
Hoje me perguntaram de onde eu era e eu não soube o que responder, porque eu costumava dizer: sou pernambucana, mas os últimos dias em Pernambuco me fez repensar este título.
Nasci no Pará, pouca gente sabe disso. Foi em uma das viagens dos meus pais e fiquei alguns poucos meses lá, depois seguimos pro Acre, Goiás, e lá meu irmão nasceu. Daí pra cá foram muitas cidades, a última delas com moradia fixa foi São Paulo, que me levou 10 anos de existência (2004 a 2014). Mas neste ínterim ponha na lista os estados de Pernambuco (algumas cidades), Piauí, Bahia, São Paulo (interior), Goiás (de novo, mas no interior) e o Distrito Federal.

Dentre todas as idas e vindas eu sempre tive Pernambuco como referencial, como um ponto que nós voltávamos sempre pra ver a família e por as ideias no lugar.

Este último período da minha vida, o final da faculdade, me deixou extremamente desgastada, com o lado emocional e psicológico abalados e eu me perguntava "Se não quero morar em SP pra onde eu vou então?!"

Acho que vir pra cá foi mais um reflexo da realidade que sempre tivemos do que qualquer outra coisa, pelo menos é o que eu tô achando agora. Eu via meus pais fazerem isso e sempre tentarem achar o caminho certo, acho que foi isso que eu fiz. O fato de me sentir perdida me fez agir como eles, só que eu inovei um pouco: não me enfiei na casa das minhas avós ou dos parentes, como eles faziam: eu me joguei no mundo.

Recife não é o Pernambuco dos meus pais.

Recife não é o meu Pernambuco das lembranças de infância. Somos do interior, sempre fomos. Então, o que danado eu vim fazer aqui?! Porque escolhi esta cidade louca e cativante?

Ainda não achei a resposta. Ainda estou procurando minha Parságada. 

Hoje me assumo na estrada. Não sou de Recife, tenho pertencido a este lugar. Hoje eu estou perdendo algumas ilusões.

Hoje tenho aberto melhor os olhos e tenho muito orgulho de ter conseguido isso no meu primeiro mês. Não suportaria viver uma vida inteira cheia de questionamentos sobre o que eu não fiz e poderia ter feito. Uma ilusão é a pior companhia que alguém como eu pode ter.

Não tenho mais muitas ilusões sobre Recife, que é uma cidade muito bonita, com momentos mágicos, mas que não tem praia nadável na capital, não tem faixas de pedestres suficientes, não tem aluguel que caiba no meu bolso e ainda é muito precária em saneamento básico e o mercado de trabalho farmacêutico ainda está muito restrito, ainda tem gente que te liga querendo que você "assine" a farmácia dele. Isso é o cúmulo em pleno século 21.

Espero muita evolução pra Recife, espero muito aprendizado pra mim, quero continuar crescendo, e sim, eu sei que ainda vai doer muito, mas agora que já comecei, vou até o fundo deste mundo maluco e selvagem chamado Planeta Terra.

Novas Resoluções

26 de setembro
É incrível o quão rápido a minha empolgação tem mudado de rumos. Depois das últimas conversas duvido muito que o Rafael Trad venha pra cá, de impulso ele teria chegado ontem, mas pensando bem... Não veio, e tenho 99% de certeza que não vem.

Caí na real ontem, ou antes disso, que comprometer metade do meu salário com aluguel de apartamento é ostentação demais pra mim. É colocar uma corda no pescoço todo mês e não ter dinheiro pra aproveitar nada. Não gosto de ficar dura, quem gosta?!

Não quero perder minha leveza de vida, como tenho perdido nestes últimos dias, por conta de dinheiro que não tenho no bolso.

Ontem fui até uns "quartinhos" perto do meu trabalho que o valor seria ideal pra mim, só 220 reais de aluguel, luz e água, mas só vendo que muquifo. #deusmelivreeguarde! #padimpadiciçomedefenda! Pior só um cortiço de verdade, lugar sem iluminação, tudo sujo, cheio de criança piolhenta e catarrenta, aremaria!

Saí frustrada. Não, dizer isso é pouco, saí desolada. Porque pensava eu: "Se onde estou, que já não é bom é um absurdo pagar 450 reais, imagine mudar pra um buraco desses?!", "Pra onde eu vou depois do dia 1º? O que vou fazer?"

Com este dilema na mente conversei um tempão com o pai no celular e chorei o caminho todo de volta pra casa no ônibus, acabei reencontrando um pouco de paz após tantas lágrimas.

Refletimos juntos e chegamos à conclusão de que não adianta eu querer alugar um apartamento agora pra colocar uma geladeira e um fogão dentro, fincar uma bandeira e chamar de lar. Eu estaria sendo precipitada e forçando uma situação que não é real ainda. Recife está sendo minha casa, não é minha casa ainda de verdade, não sei se um dia será.

Então, resolvi procurar um Hostel que me abrigue em troca de horas de trabalho. Já fiz 4 visitas hoje de manhã, estou com 2 Nãos e 2 Talvez na mão. Depois fiz mais buscas pelo Facebook e já tenho outro Talvez. Espero conseguir algum que me aloje nem que seja pro mês de outubro, como eu disse pro Peterson hoje (ele me ligou), tenho vivido um dia de cada vez. Não adianta querer sair de casa, da asas dos pais, sem herança e ter luxo e talz, é só ilusão, a vida real é dura e não se maquia, ou é ou não é, dinheiro vai e só volta com muito custo. 

Coloquei a mochila nas costas, não estou com o sentimento de missão cumprida, então o certo é continuar andando, continuar minha viagem, mesmo que na mesma cidade nos próximos dias. Não tem problema, a vida é em si uma viagem.

Numa Noite de Semana

Terça-feira 16 de setembro de 2014

Minha terceira semana iniciou-se e tem andado a passos de passeio. Ter um trabalho está me ajudando a ter uma rotina, depois de tanto tempo sem saber o que é isso.

Não que isso seja uma coisa ruim ou boa, é só mais um fato diferente nesses dias distintos.

Algumas outras coisas são parte de minha rotina: pensar no pai, na mãe, no Michel, na Arielo,ou seja, na família toda pela manhã.
Querer conversar com alguém no final da tarde.
Correr uma vez por dia pra extravasar a energia acumulada.
Sentir saudades do Rafa toda vez que tenho um pensamento idiota ou um comentário de sacanagem sobre alguma coisa que vi.

A falta e a saudade têm sido rotina.
A solidão está se dissolvendo na minha rotina.
Fazer planos para preencher meu tempo.
Tenho me acostumado comigo, com meus banhos gelados, com minha comida de geladeira, com a consequência das minhas escolhas. Eu sabia que seria difícil, mas é foda quando tá tudo borbulhando aqui na minha cabeça, nas minhas artérias, nos meus rins, nos meus pulmões, nos meus tendões e pupilas.

Eu moro dentro de mim, esta é minha casa, este é o meu universo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A aventura da solidão

Ontem levei minha amiga solidão pra dar uma volta depois do trabalho. Ela com aquela cara debochada dava risinhos sorrateiros da minha sede de uma companhia pra beber uma cerveja. Ela é incrédula, não acredita de jeito nenhum que eu vá conseguir beber uma com algum novo amigo hoje, talvez nem eu acredite.

Andei uma rua, fui até o final da outra. Pensei então em dar uma volta e depois sentar no bar e defender o direito da mulher beber sozinha, como qualquer bom cidadão brasileiro. Avisatei um bar bonitinho, interessante, mas de perto tinha cara de restaurante, fiquei na dúvida, parei pra perguntar pro segurança. Ele estava acompanhado do rapaz do estacionamento. Começamos a conversar e nem sei que horas a Dona Solidão foi pra casa me esperar. Só me toquei quando estava na terceira skol, "poxa, o que será que deu da Dona Solidão...?"

Talvez a gente não se fale mais, talvez amanhã a gente não se reconheça na rua, mas hoje, dividimos uma mesa de bar. Somos eternamente amigos que deixaram a solidão sozinha. Um brinde e um obrigada.

domingo, 14 de setembro de 2014

Outro voo

25.09.2014
Eu aqui no terceiro aeroporto, o penúltimo desta viagem incrível que iniciei a uns poucos dias e que nem dá vontade de lembrar como era a vida antes de tudo isso, Salvador. Amor à família será sempre um referencial, saudades dos amigos que deixei em algumas terras distantes é inegável, mas a rotina e a atmosfera que por tanto tempo me rodeou e me apavorou, roubando noites de vida e dias de sonho, não está em nada fazendo falta.

O sentimento de despedida não muda. Chegamos e conforme andamos lançamos sementes, em alguns solos férteis elas brotam, e então vamos embora e às vezes torcemos para que chova nestas sementes e que tornem-se belas samambaias, orquídeas, girassóis e margaridas. Quero continuar sonhando e vivendo deste delicioso perfume que exala das amizades antigas, dos amigos novos, dos colegas que podem tornar-se amigos, dos amigos que podem maturar em amores e os amores que guardamos para sempre.

Sentir falta dói, saudade traz nostalgia, mas é bom viver emoções variadas, de diversos horizontes e aromas para sermos cada dia mais humanos. Gente que se toca, que se compartilha, que deseja o bem, que quer crescer, amar, chorar, e que faz de cada despedida um dia de novas descobertas.

Quero hoje manter-me com os olhos e o peito aberto, se vim colocando as entranhas para dentro, vou deixando ausências e ansiedades para trás.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Dicas para algum louco que queira fazer o que estou fazendo [2].

Olha a gente aqui de novo, e não é que tivemos coragem de pegar o avião? E o pior, não é que sobrevivemos à primeira semana?

Pois é, estamos superando todas as expectativas, em uma questão de 5 dias eu consegui um lugarzinho pra morar (temporariamente), me inscrevi no Conselho e arranjei um emprego. Nada que temos na mão é o ideal, mas já está bom, o começo é assim mesmo. Fazendo um balanço de tudo que tem me ocorrido e pelas emoções que tenho sentido, vamos à segunda lista de dicas nesta segunda segunda-feira que passo aqui, chuvosa pra caramba, o primeiro dia da semana que se repete no mesmo lugar no último mês. Explico: Antes de vir, passei um período de "férias" no Rio de Janeiro e na Bahia, depois visitei minha família no interior, para poder vir pra cá de vez. Mas, deixemos de enrolação, vamos às dicas:

0. Pesquise direitinho sobre o seu campo de trabalho ou estudo na cidade nova. Se sua profissão tem um Conselho de classe, vá até lá e converse com outros profissionais e funcionários. Saiba sobre piso salarial e colocação no mercado, não vá atrás de simples boatos, consiga dados reais, sobre sua profissão. "Ouvi dizer que..." não ajuda ninguém que está entrando numa realidade nova.

1. Faça uma lista recente e atualizada dos possíveis locais que você pode alugar antes de chegar na cidade. Eu aconselho os sites básicos de busca, como o OLX, BOMNEGÓCIO, EASYQUARTO etc, assim você já vai ter uma noção prévia de preços e localização. Tome cuidado com as imobiliárias, muitos corretores quando notam que você é novo podem se sentir tentados a querer ganhar mais encima de você.

2. Se assim como eu você estiver se mudando para uma cidade que não conhece mesmo, dê preferência a passar o primeiro mês num hostel ou num lugar que não tem contrato obrigatório de semestre ou ano, assim, se você não gostar da vizinhança ou encontrar um lugar melhor depois, que se identifique mais, (o que quase sempre acontece!) você está livre para mudar sem pagar multas de contrato. Existem muitos hostels que se você faz pacote mensal eles te dão bons descontos.

3. Se assim como eu, de novo, você estiver se mudando só com uma mochila nas costas, pesquise direitinho sobre imóveis mobiliados, alguns a mobília é uma porcaria, fotos de internet enganam muito. Não pague nada adiantado, nem feche negócio sem conhecer pessoalmente o local e em hipótese alguma se iluda com anúncios milagrosos, seja desconfiado, mesmo não demonstrando para os proprietários, seja discreto e objetivo.

4. Evite realizar sua mudança em épocas festivas na sua nova cidade, principalmente se for uma cidade turística. Festividades deixam tudo mais caro, tanto aluguel como mercado, comida de rua etc. Além do fato de ter mais gente na cidade, o que pode te dar uma primeira impressão errônea, maquiando a realidade do cotidiano do ano todo, o que pode acabar alguma hora te decepcionando.

5. Procure a secretaria de turismo ou urbanização da cidade em busca de informações sobre como se locomover no transporte público, mapas, programas culturais para fazer. Você veio pra morar, mas até conhecer sua nova cidade você é turista. Passeie, ande pelas ruas a pé para aprender caminhos, não tenha medo de perguntar às pessoas, a seus vizinhos qual o melhor lugar para comprar tal item, ou qual o melhor horário para andar por tal rua. Aí vamos a próxima dica:

6. Os moradores locais são seus melhores guias, não banque o independente toda hora, nem seja arrogante, todo mundo pode te ajudar na sua adaptação. Mas também não ande em todo lugar com cara de turista gringo, para não virar alvo fácil de malandrinhos da rua. Seja humilde, esteja aberto a cultura nova que você está se inserindo, não se esqueça: Você é o estranho agora, não faça besteira logo de cara, não é hora de deixar "sua marca" no bairro, vá com calma.

7. Compre água mineral. Até o seu organismo se acostumar ao novo clima, à nova água, ao novo ambiente em si, evite mudanças drásticas demais. Evite dor de barriga ou diarreia, não que a água seja suja, mas com certeza possui uma microbiota diferente da que você estava acostumado, você pode não se adaptar tão rápido. Beba água mineral no mínimo no seu primeiro mês.

8. Esteja preparado para a solidão. Fazer novos amigos, ter novas companhias, leva um certo tempo. Se você estiver mudando-se para um lugar onde já tem amigos, ótimo, se não, pergunte a seus amigos quem conhece alguém no local que pode servir como "guia" na vida social da cidade, nem que seja só por caridade pra te iniciar na cidade.

9. Prepare-se para descobrir quais são suas reais preferências sobre tudo. A solidão te dá muito tempo consigo mesmo, isso é bom. Autoconhecimento, prática de hobies, descoberta de novos gostos, esta parte é bem legal, uma verdadeira aventura para dentro de si mesmo.

10. Permita-se conhecer um novo mundo todos os dias. Uma cidade nova, tudo é novo, dentro e fora de casa. Não adiante nada se fechar num casulo, você saiu para uma vida nova e ela só vai acontecer se você deixar. Se isso começar a te incomodar demais, se ter de abrir mão do conforto ou da comodidade de todos os dias for demais pra você, então não se mude, fique onde você está. Do contrário, ao invés de viver uma aventura fantástica, você vai entrar num pesadelo. Ninguém é obrigado a ser aventureiro, se no meio do caminho você descobrir que não é, volte pra casa, pra sua cidade, não como um derrotado, mas como uma pessoa corajosa que tentou, que deu o passo e descobriu que não era aquilo mesmo que queria. Respeito toda atitude realizada para a evolução e o amadurecimento!

Parabéns por ter saído até a calçada, o mundo é uma aventura todo dia!