segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Serenidade

Estou em paz, serena. A serenidade é algo lindo e profundo, tem a ver com consciência limpa, com sentir estar fazendo a coisa certa, determinação por um objetivo e saber que está ou fez o possível que podia para alcança-lo. Eu fiz. Trabalhei, no trabalho e na mente, estes últimos sete meses para estar aqui e os dias foram chegando.

Amigos de longe foram passando por casa e despedidas foram sendo realizadas. A família se reuniu no final de semana e outro adeus foi selado. Mas eu não estava triste, não sentia vontade de chorar, eu só estava com saudades. Já era saudade dentro do peito, talvez porque a falta que senti em Recife nunca vai ser preenchida, a nossa família nunca mais esteve sob o mesmo teto pra morar, desde que o meu pai foi pra Miracatu. Sinto falta do que a gente era e nunca mais vai ser, o Michel casou, o pai a mãe e Ana Lucia tão na praia e eu... eu tô bolando por aí, a sem teto com mais casas que São Paulo já conheceu. Tia Socorro, Tia Beth, Fernanda, Sarah, Rafael (duas, Berrini e Morumbi), Tia Raquel, e por aí vai... muitas casas para morar, mas nenhuma pra chamar de lar. Mas é isso, saber que a gente não vai mais estar sob o mesmo teto é uma encruzilhada que a gente passa, sente um vazio, mas este vazio traz paz, como a resignação que vem depois da morte. Nossa família junta, nossa reunião acabou, mas isso já criou mais uma raiz, a família que o Michel tá construindo e jogou outra semente no mundo, eu, que uma hora arranja solo fértil.

Tô com saudade? Sim, não há dúvidas. Sinto falta? Nossa, porra, demais. Incalculavelmente. Mas estou também feliz e curiosa pra ver nosso futuro. Daqui três, cinco, nove, dez anos, a gente junto no aniversário da mãe, comendo bolo e sentindo um quentinho no coração de saber que estar junto é uma dádiva do espaço e do tempo.