quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ano que vem...

Eu vou.

Minha mãe acabou de correr com a minha calça na mão vinda do banheiro, “tem uma aranha, tem uma aranha nas roupas, ela é enorme, entrou no meio da tua calça”. Pronto foi o suficiente pra levantar o alvoroço na cozinha. Ela tentou espantar a aranha com água, mas ela se encolheu dentro do bolso. Meu pai foi acudir pra amiga aranha não morrer no processo de evacuação, “calma, calma, assim vai matar a coitada. Não precisa matar a aranha”, meu pai conseguiu tirar ela do bolso da minha calça, a pobre se fingiu de morta, mas ainda tava viva. Ele jogou a aranha do outro lado do muro onde tem muito mato pra ela fugir. Tomara que ela não volte porque eu tô dormindo no chão, “meu deus, será que ela já tava no quarto ontem à noite?”, durmi no colchão no chão ontem bem pertinho de onde ela apareceu, credo, tomara que nenhuma aranha tenha passeado perto de mim enquanto eu dormia, credo, credo.

Pelo menos sobrevivemos, a aranha e eu.

Um bicho aparece dentro de casa diferente do cachorro e a gente já se abala. Já começa a ficar assustado e com medo. Como a gente é besta. Tava aqui no sofá pensando na vida e uma aranhazinha abalou e tomou a cena por uns instantes. Tava pensando no que um amigo me falou uns dias atrás, “O que você vai fazer ano que vem? Vem pra cá trabalhar comigo!”, essa frase ficou ecoando dentro da minha caixa craniana como se houvesse um vazio lá dentro chamado “2016”. “O que você vai fazer ano que vem?”... “O que você vai fazer ano que vem?”... “O que você vai fazer ano que vem?”...

Fiz muito esforço durante bastante tempo para ignorar o fato de que pela primeira vez na minha vida eu não tenho uma dica de como vai ser meu ano vindouro, como diria minha vó.


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou estudar. Não sei onde nem o quê exatamente, mas sei que preciso colocar meu cérebro nas pistas novamente. Durante meu último ano da faculdade eu estava cansada demais e me prometi um ano de descanso. Agora já vou pra um ano e meio de pouca alimentação sináptica à custa exclusivamente da literatura, clássica e contemporânea. Foram boas as férias, mas sei que preciso de algo novo circulando nos corredores da minha mente.


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou viajar. Não só porque eu gosto e quero sempre, mas porque pelo menos os primeiros dias de janeiro eu vou estar em viagem, a única (quase) certeza do almejado 2016. Vou dentro de uma semana pra casa do meu atual namorado e o plano é ficar lá até a terceira semana de janeiro. Quais os outros destinos? Claro que eu não sei. Não sei se ainda vou rodar um pouco na Europa, se volto pra casa cedo, se vou dar um pulo onde meu amigo me chamou pra trabalhar um pouco e juntar uma grana (México). Ainda tem a viagem pra Argentina que tá programa é só falar “tô indo” pro Juan e ir. Se não houvesse o detalhe dinheiro eu tenho os meus dois destinos preferidos: Japão e Rússia, e de resto o mundo todo. Viajar podia ser uma profissão. Eu sei, eu sei, tem muita gente que consegue fazer disso uma fonte de renda sem ser vendendo miçanga ou tocando em estação de metrô, mas quantas pessoas você conhece que ganham a vida viajando? Pois é, eu não conheço ninguém, mas bem que eu podia dar um jeito. Quem sabe?


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou escrever mais. Descobri a bastante tempo que escrever me faz um bem danado. Já me curei de mal de amor e de tédio escrevendo. Já tive inúmeros diários, secretos e sem cadeado, já fiz alguns blogs, hoje alimento só um, muito mais ou menos. Não estou dizendo que vou escrever todo dia, nem que vou fabricar um livro ou publicar 300 postagens no meu blog. Mas eu vou escrever mais. Preciso manter meus pensamentos em dia comigo mesma e depois que fiz terapia percebi que escrevendo eu reflito bastante e consigo colocar muitos assuntos internos numa perspectiva com distância de observador. Isso ajuda muito, ainda mais em momentos que não tenho como procurar uma psicóloga boa como foi a Renata, ou por falta de tempo e dinheiro ou por preguiça mesmo. A reflexão é como editar um texto, você tem a chance de trocar algumas palavras mal usadas, reescrever expressões e realocar frases inteiras. Depois de refletir geralmente eu descubro pessoas com as quais fui injusta e não há outra saída do que ir resolver as coisas. É bom.


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou ficar “deboa”. Sou muito feliz hoje ao dizer que em agosto deste ano eu completei um ano de algo que eu, com bastante modismo, vou chamar de “deboismo”. Deboismo foi um título muito bem sacado que surgiu no facebook para denominar como uma nova religião fundamentada em viver “deboa” com todos e tudo. O que seria isso? É basicamente viver para plantar coisas boas e positivas, fugindo do que causa briga e confronto, não deixar coisas mal resolvidas, pessoas com sentimentos ruins por você se houver algo que se possa fazer. Sou assumidamente ateia e não ter religião às vezes incomoda algumas pessoas que me conhecem, brincar de ter uma religião é mais engraçado agora do que nunca. Vejo o humor derrubando de forma inteligente muitos tabus da nossa sociedade, quem sabe o Deboismo não tá aí pra confrontar algumas mentes? Desde agosto de 2014 que não alimento raiva, mágoa, rancor, tristeza, decepção nem qualquer outra coisa que possa me fazer mal ou a quem vive comigo. Isso não quer dizer que faço meditação ou que virei vegana, não, às vezes a gente cria estereótipos de como ser e fazer as coisas “por um mundo melhor”. Aprendi a criar minha própria filosofia de vida, ainda tô trabalhando nela, mas aos poucos, não tenho pressa. Admiro o Reggae criado pelo Bob, é uma ótima maneira de fazer a vida, um movimento com muito ritmo, pouca pressa, mas que não pára.


“O que você vai fazer ano que vem?”

Eu vou deixar meu cabelo crescer. Vou pintar mais as unhas de vermelho. Vou descobrir um artista novo todo mês. Vou me apaixonar por novas músicas e ouvi-las vinte vezes no dia. Vou tirar fotos em novas cidades diferentes. Fotos com amigos antigos. Vou tomar novas cervejas. Vou ler novos livros antigos. Vou ao cinema pra rir e ligar a tevê pra chorar.

Eu vou tomar sol usando filtro solar. Vou tomar menos refrigerante. Vou tomar mais o meu café sem açúcar. Vou comprar roupa nova. Vou passear de mãos dadas com alguém à tarde. Vou aprender a cozinhar alguma coisa diferente. Vou ligar pros meus pais com saudades.

Eu vou completar mais um aniversário e ficar mais perto dos trinta do que dos vinte. Vou comer sashimi como se fosse de novo a primeira vez. Vou beijar demorado e fechar meus olhos. Vou tomar chá pra curar ressaca. Vou dormir até meio dia pro tempo passar mais rápido. Vou dançar a madrugada toda como se ainda tivesse 17. Vou fazer amizade com alguém que não fala nenhuma língua que eu já ouvi na vida. Vou me perder pela quinta vez no mesmo lugar porque as ruas são todas parecidas.


“O que você vai fazer ano que vem?”
Eu vou recomeçar de novo. Se for preciso todo dia.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ela é de humanas

Quando estava no final do colégio e me encontrei no famoso dilema de escolher qual faculdade eu vou fazer, descartei de cara uma gama de opções com o seguinte pensamento "Não manjo física e matemática, nada de "Exatas" não quero morrer de estresse e ódio pela raça humana, nada de "Humanas". Simples assim.

Quem me conhecia na época apostava que eu ia fazer alguma coisa entre ciências sociais, letras ou história, mas não rolou. Minha experiência com as ciências humanas no colégio teve grande influência nesta decisão, eu poderia resumir três anos de estudos "Humanos" em uma palavra: decepção.

Sim, porque apesar de não gostar de Exatas quando eu me esforçava e tentava manter as linhas de raciocínio 2 ao quadrado era sempre 4 e sob as CNTP os gases têm comportamento previsível. A matemática não te decepciona, ela não vai te deixar frustrada, você pode frustrar-se consigo mesma por tirar dois na prova de vetores, mas a física tá lá, intocada (pelo menos nos níveis de conhecimento que tive a honra de ser apresentada). Já as Ciências Humanas... Ah!

Decepção é uma expressão forte, mas ao mesmo tempo parece não exprimir tudo. Porém, o que esperar de estudos que têm como ponto central o ser humano e suas atitudes? Somos um monte de merda fazendo sujeira e fedor por aí.

Escolhi farmácia, fiquei no muro entre a biologia e a química, a mais experimental das "ciências exatas", muita gente achou que não ia durar, mas cá estou eu comemorando um ano e meio de formada. Uhu!
Ah! An...

Fui pro lado da ciência experimental, protegida dentro de um laboratório e outro da espécie humana, de seus estudos e de suas decepções. Fiz uma escolha, preferi estudar como salvar o corpo fisiologicamente falando de um ser humano do que entender suas misérias, cada uma sabe de seus próprios limites. Escolhi não me envolver. Estou em paz, certo?

Hum, o que tenho a lhe dizer é que a vida é uma caixinha de surpresas completamente irônica.

Não fiz letras, porém continuo lendo e indo cada vez mais fundo no mundo da literatura. Não sou uma leitora que preza quantidade, mas a qualidade tem me guiado bravamente.

Não fiz história nem geografia, mas tenho viajado e aprendido os podres e as glórias de diferentes povos, suas desgraças e assunções são lindas de se ver e ouvir, principalmente banhado a cerveja.

Não fui cursar nenhuma ciência social, psicologia ou licenciatura, mas aprendi e aprendo todo dia com os outros espécimes iguais a mim o quanto somos limitados e devemos aprender com esses limites.

Tentei fugir de ser humana, mas a humanidade que buscava evitar esteve sempre dentro de mim. Como posso fechar os olhos e dizer "feminismo é mimimi" ao abrir a caixa de entrada e ver uma mensagem da minha prima dizendo que está na delegacia porque um "malandrão" não aceitou o não que ela e a amiga deram e avançou o sinal, assedio sem abuso físico é crime sim! Ou quando toda vez que vamos ao bar e meu namorado pede as bebidas eu tenho que trocar os copos porque a cerveja é pra mim e o Martini é pra ele.

Como posso ser neutra ao ver meu próprio irmão sofrendo discriminação no trabalho e na faculdade porque "homem trans não é homem, é mulher com transtorno mental". VSF!

Como posso ser omissa se ao sair com um colega do trabalho pra beber uma cerveja e ouvir uma música a gente não pode pegar o metrô sem que algum grupinho faça piadinha e risadinhas soltando de vez em quando um "viado!".

Dá pra ser passiva de opinião quando seu pai luta por uma licença saúde remunerada por conta da igreja na qual trabalhou mais de vinte anos, tem que além de provar que está doente, abrir sua vida pessoal e circunstâncias simplesmente porque não é um câncer, que acomete qualquer um... Não, é HIV, e só pessoas devassas têm HIV, pessoas idôneas, como um pastor deveria ser, não pegam essas coisas.

Tentei não me envolver porque sabia que não conseguiria fazer pela metade e sair ilesa... Mas como é que eu vou fugir das ciências humanas quando eu sou a própria humanidade?

sábado, 21 de novembro de 2015

Dia Útil II

O que é útil? O que transforma algo de natureza abstrata em funcional dentro do cotidiano?

Algo que traga auxílio para o decorrer dos dias, das semanas, ou mais importante ainda, das horas, porque só quem vive sua própria vida sabe o poder esmagador que o rolar dos ponteiros pode ter sobre as ideias.

Tenho descoberto a funcionalidade do amor.

Não vejo uma forma mais racional de calcular o valor de algo abstrato a não ser pela ação que isso constrói. O que está dentro de nós borbulhando em banho-maria todos os dias, as convicções, ideais, motivações, vontades, sonhos, desejos, isso tudo torna-se explícito em nossas ações. Não estamos o tempo todo pensando sobre, mas nos serve como limites e fagulhas para o que fazemos. Sendo isto posto, gostaria de comentar como o amor entrou num patamar elevado dentro de minha concepção de respeito.
Vejo pessoas se apaixonarem e desapaixonarem tão facilmente e passarem por processos tão dolorosos e autodestrutivos que a muito me pergunto, por quê? O amor não é a única nem mais importante coisa que alguém pode ter na vida, disso eu estou convencida. Aí você cresce e descobre o grande mundo do namoro, depois você conhece um maior ainda, o do sexo, e experiências nascem dentro de todos os universos em caos e colisão. Depois de um período, que dependendo da pessoa pode ser de meses ou anos, alguém vai te dizer que você precisa encontrar o amor. Mas, o que é o amor? Bom, na nossa sociedade ocidental americanizada (brasileira) não se define muito bem isso abstratamente, talvez algumas novelas ensine uns truques, mas amor pode ser um tabu tanto quanto sexo para muita gente. Por outro lado, podemos dizer que se concretiza com um casamento, uma casa cheia de bugigangas, um carro, ou com o IPI reduzido e taxa zero, dois caros, dois filhos (porque um só é judiação com a criança e três já é muito gasto) e um cachorro, talvez, é que hoje em dia ter um animal significa que você é confiável, se for vegano então, posso te dar o número da senha do cartão de crédito, o que você vai fazer? Tão bonzinho! Um casamento feliz é para muita gente sinônimo de amor. Mas eu não sou muita gente.

Sou contra o casamento? Bom, esta é outra conversa. Estamos aqui mais propriamente para tratarmos de como o amor subiu no meu conceito e é claro que isso tem tudo a ver com estar alerta e reabrindo discussões constantemente, como gostaria de ver Raul Seixas.

Nos últimos meses eu me (re)questionei muita coisa, isso porque me coloquei numa situação que nunca imaginei poder ser possível: um relacionamento a distância. Foram dias muito produtivos de solidão, pensei bastante sobre o que eu realmente prezo neste mundo, percebi o quanto minha família tem um papel fundamental na minha vida. Coloquei na balança a importância de um lugar ou de uma pessoa. Vivi dias de ver muitas amizades abrindo portas de novas fases, amigos que desempenhavam um papel secundário passando a ser mais e mais importantes no meu cotidiano e aos poucos eu me dei conta de como eu amo os seres humanos.
O amor que me peguei sentindo foi universal.

Eu amo a vida, o respeito à vida e todas as formas de experimentar sentir-se vivo (sem que isso interfira na vida do próximo). Viver para os seres humanos tem um sentido a mais que a simples sobrevivência animal, nós como "homo sapiens" procuramos razões e sensação e isso é lindo. O amor que sinto me faz ser uma pessoa melhor, aprendi trabalhando com pessoas que às vezes mais importante que solucionar o problema de alguém é fazer aquela pessoa sentir que você realmente se importa com o problema dela. A "empatia" tão aclamada pela personagem interessantíssima de Audrey Hepburn em Funny Face - 1957. O amor é importante quando você está no meio de uma conversa e alguém diz "deviam mesmo era fechar a fronteira de vez pra todos esses árabes, já trabalhei no sistema penitenciário, só tem árabe lá", aí você pergunta "todos os árabes são ladrões, ou os bons árabes estão em casa, em seus países cuidando das suas vidas e os poucos aventureiros que veem pra cá tentar algo a mais do que poderiam encontrar lá, aqui também não têm oportunidades?". O amor se faz fundamental quando precisamos lembrar que além de americanos, europeus, chineses ou brasileiros nós somos humanos, quando precisamos lembrar que antes de ser minha casa, minha cidade ou meus país, moramos todos no meu planeta, mas que não é só meu, é nosso. O amor é lindo e importante quando penso no futuro e mais do que uma mega conta no banco e uma carreira ilustríssima, eu quero pessoas, humanos para dividir meus dias, minhas horas e dividir isso com qualidade. Porque viver é lindo, e o amor é importante para sermos humanos. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Um breve ensaio sobre relação

A falta de confiança é um veneno. Conheço algumas pessoas ingênuas que confiam em tudo e em todos. Se assistir um comercial do cogumelo do sol num dia inspirado perde dinheiro. É impressionante, chega a parecer piada.

Eu não sou uma dessas pessoas.

Não nasci ontem, e apesar de também não ser velha, a gente acaba aprendendo uns truques. A escola é realmente "uma escola". Lá eu conheci várias formas de discriminação, por ser a "aluna nova", por ter "cabelo de bucha", por ser "alta", por ser "menininha", (aí bati nos meus colegas e...) por ser "machona", por ser "inteligente", por ser "crente do rabo quente", por ser "filhinha de papai" (quando a gente mal tinha dinheiro pro mercado). Muitos adjetivos que nunca fizeram sentido pra mim. Acho que o que menos fazia e o que mais me marcou foi o do cabelo crespo. O que eu não conseguia compreender é "por que eu sofro tiração de sarro com minha cara sobre algo que não posso escolher?". Além do que se aprende por tabela das experiências alheias, gordo, magro demais, preto, amarelo, com espinha, com muita maquiagem, corte de cabelo, língua presa, roupa sem marca, pai sem profissão, por não ter pai, viadinho, virgem. Mas é assim mesmo, a gente aprende que tem pessoas do seu lado que estão aí para construir e outras para destruir. Neste movimento de construção e desconstrução o mundo sobrevive e se transforma.

Confio em poucas pessoas, e geralmente é instintivo, sinto que posso confiar e confio. A partir do momento em que eu confio eu simplesmente tiro o dedo do botão de alerta. Sendo assim só existe uma pessoa que pode ligar este botão: a própria pessoa em que estou confiando, sim porque confiança é um estado, para mim, não uma qualidade, que se mantém dia após dia com a convivência.
Conviver não é sobreviver em comunidade, conviver é partilhar vida e vida requer um certo nível de qualidade, de prazer. Convívio para algumas pessoas é a única forma de construir a confiança. Para mim é a maneira que você mantém a que eu te dei.
 
Tenho que admitir que geralmente as pessoas "positivas" pagam o preço de viver num mundo cheio de outras "negativas". Explico. Usei estes termos porque acho mais apropriado para explicar opostos do que dizer "pessoas boas" e "pessoas más", o que é bom? o que é mau?
Se você tem uma experiência desagradável com uma pessoa, vamos chama-la de "negativa" isso vai lhe fazer na próxima experiência acreditar que deve se proteger porque a próxima pessoa pode ser "negativa" de novo, e se você cair no mesmo truque a culpa é sua porque não se precaveu. Então você se protege para evitar viver novamente a mesma experiência.
Porém, se esta nova experiência é com uma pessoa "positiva" e você trata-la, mesmo que por precaução, como uma "negativa", aquela paga pelo erro de outrem, e então ocorre a falta de oportunidade com igualdade. Tratamento sem preconceito, igualitário.
 
Dito isso eu lhe proponho dois questionamentos: Primeiro, é justo os "positivos" pagarem o preço da desconfiança por viverem num mundo misto de "positivos" e "negativos"?
Segundo, é justo para quem viveu a experiência desagradável ignorar totalmente o passado, como se nada houvesse ficado do ocorrido, simplesmente para que todos tenham sempre as mesmas oportunidades despretensiosamente iguais?
 
Talvez devêssemos olhar para as situações, muito além de olhar para as pessoas. Disse tudo isso como resultado de uma conversa que tive com meu namorado e alguns amigos sobre este tipo de assunto e no fundo não penso que o mundo está dividido em pessoas "positivas" e pessoas "negativas". Acho que a mesma pessoa que viveu algo com alguém e isso resultou numa experiência negativa, pode em outro momento sob outras circunstâncias viver uma experiência positiva. Já vi várias vezes uma estigmação de caráter "bons e maus", "positivos e negativos", para autopreservação ou para uma simples reprovação alheia por prazer. A algum tempo tenho me mantido alerta a minha maneira de julga os outros pelos seus atos passados conhecidos, não quero ser aquela pessoa que olha torto pros demais pelo que estas fizeram em outras fases da vida. 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Dia Útil I

Primeira vez que fiquei sozinha em casa. Quer dizer, eu e o B., o cachorro de guarda compartilhada do S. Ele é um amor, educado e calmo, o tipo de cachorro que eu teria. Passamos a manhã toda só registrando que um sabia da presença do outro, mas ninguém dava o primeiro passo pra uma maior interação. Eu tomei banho, confundi a embalagem do hidratante com a do sabonete líquido, então tomei outro banho. Tomei café, guardei a louça limpa, limpei a mesa do café e coloquei a louça suja na máquina. Guardei as roupas secas e arrumei a cama. Reguei as plantinhas de dentro de casa e comecei a fazer algo que estava pendente a dias: editar as fotos da viagem. Fomos a Berlim e Praga, as de Berlim eu editei praticamente todas lá, mas Praga foi tão rápido e intenso que não tive tempo, então parei de enrolar e mãos à obra. Quase 200 fotos, sem problema, rever é registrar o que realmente vivi na última semana, não foi um sonho, foi real, e eu tenho provas. Mas então alguém resolve sair do seu cantinho quente e confortável no sofá e me encarar: B., o cachorro fofo. Ele me encarou tão resoluto que eu tive que admitir, dava pra ler o seu pensamento canino me advertindo "Ou, humana, você não acha que tá na hora de me dá um pouco de atenção e me levar ao toilette?"

Lá fomos nós, ele animado e eu chacoalhando de frio. É impressionante como mesmo com sol faz um frio danado, não consigo entender. Na minha concepção tropical se não tá chovendo, ventando ou nublado não tem sentido algum fazer frio. Não chove, não venta e o sol tá aí, de onde vem esse frio danado. Meu Padim!

O B. é um cachorro educado, não sei se foi com adestrador ou em casa mesmo , mas ele é, só levei ele de coleira porque ele não me conhece e eu não quero cometer o crime de perder o cachorro de ninguém no meu primeiro dia sozinha, tô nem louca! Ele sabe os lugares onde marca seu território, dava pra ver que ele fazia o caminho muitas vezes percorrido, e numa certa altura ele simplesmente deu umas cheiradas e umas voltinhas e se preparou pro coco. Fez o coco, nem olhou pra mim e foi direto fazendo o caminho de volta pra casa. Eu só pensando "esse cachorro tá me levando pra passear, ou o quê?"

Nossa manhã terminou com a chegada do S. pro almoço. Depois de comer fomos à cidade pra resolver o primeiro passo pra minha socialização aqui meu "Bilhete Único Lausannês", não sei ainda como eles chamam aqui, ainda tenho que aprender a língua francesa, quanto mais palavras cotidianas, mas depois de correr atrás de uma máquina pra tirar foto e pegar uma filinha que não deu nem estresse (impressionante como andou rápido) eu tenho meu tíquete mensal de metrô e ônibus.

Dei uma volta na região do metrô central e fui encarar o desafio de voltar da cidade  pra casa sozinha no transporte público. Cheguei bem, só dei uma errada no primeiro metrô que peguei, o sentido tava errado e na hora de descer do ônibus eu fiquei tensa porque tinham três paradas com o nome "X", mas eu descobri que a minha era a segunda. Depois quase peguei a estrada errada pra fazer a pequena caminhada de 3 km pra casa, mas assim, nada que possa me impedir de dizer: cheguei bem em casa!

Acho que a tensão dessa aventura do transporte público me deu fome, porque tomei dois copos de leite. Hum, uma pausa pra comentar: Que leite! Menino, não é à toa a fama não, o leite é delicioso, tomei puro.
O resto foi só aproveitar a emoção de ter sucesso no meu primeiro dia.
Obrigada a todos pela torcida, ao aguardo das próximas aventuras.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Serenidade

Estou em paz, serena. A serenidade é algo lindo e profundo, tem a ver com consciência limpa, com sentir estar fazendo a coisa certa, determinação por um objetivo e saber que está ou fez o possível que podia para alcança-lo. Eu fiz. Trabalhei, no trabalho e na mente, estes últimos sete meses para estar aqui e os dias foram chegando.

Amigos de longe foram passando por casa e despedidas foram sendo realizadas. A família se reuniu no final de semana e outro adeus foi selado. Mas eu não estava triste, não sentia vontade de chorar, eu só estava com saudades. Já era saudade dentro do peito, talvez porque a falta que senti em Recife nunca vai ser preenchida, a nossa família nunca mais esteve sob o mesmo teto pra morar, desde que o meu pai foi pra Miracatu. Sinto falta do que a gente era e nunca mais vai ser, o Michel casou, o pai a mãe e Ana Lucia tão na praia e eu... eu tô bolando por aí, a sem teto com mais casas que São Paulo já conheceu. Tia Socorro, Tia Beth, Fernanda, Sarah, Rafael (duas, Berrini e Morumbi), Tia Raquel, e por aí vai... muitas casas para morar, mas nenhuma pra chamar de lar. Mas é isso, saber que a gente não vai mais estar sob o mesmo teto é uma encruzilhada que a gente passa, sente um vazio, mas este vazio traz paz, como a resignação que vem depois da morte. Nossa família junta, nossa reunião acabou, mas isso já criou mais uma raiz, a família que o Michel tá construindo e jogou outra semente no mundo, eu, que uma hora arranja solo fértil.

Tô com saudade? Sim, não há dúvidas. Sinto falta? Nossa, porra, demais. Incalculavelmente. Mas estou também feliz e curiosa pra ver nosso futuro. Daqui três, cinco, nove, dez anos, a gente junto no aniversário da mãe, comendo bolo e sentindo um quentinho no coração de saber que estar junto é uma dádiva do espaço e do tempo.

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Baixou a farmacêutica

Estou tomando antibióticos graças ao meu querido ciso, o último da saga "crie juízo". Este estimado apontou a anos, duas semanas atrás eu fui á dentista e ela disse "tudo ok", então, de repente, não mais que de repente, ele resolve se remexer na minha gengiva delicada de ladie. É pra matar de raiva.
Tudo bem, depois de achar que era um resfriado, porque doía a garganta e o ouvido, me toquei que era ele. Não tem jeito, vamos aos antibióticos.
Faz aproximadamente um ano que tomei antibiótico e não gosto. Dá dor de estômago no terceiro dia (amanhã) e acaba com meu intestino (razoavelmente regular normalmente). Mas isso é como paciente. Não se esqueçam que sou uma farmacêutica nas horas vagas, e como tal eu sei as angústias e mazelas que o uso indiscriminado de antimicrobianos pode causar, a médio e longo prazo, tanto pensando no indivíduo como na coletividade. Ainda acho que qualquer dia desse uma bactéria mega foda vai acabar com um terço da população do mundo só porque nós não temos antimicrobianos novos a toda hora e a população tá inchada dos antigos. Escreva o que estou dizendo, essa resistência bacteriana que a gente desenvolve toda vez que toma um antibiótico de maneira errada, seja por não terminar o tratamento, seja por erro de prescrição (tempo ou doses desajustados para o caso), erro de diagnóstico (medicamento para outra doença), erro de produção (dose sub terapêutica, fármaco mal produzido, falta de eficácia e segurança), enfim... qualquer que seja o motivo, a gente ainda acaba se matando.
Mas o ser humano é assim mesmo, autodestrutivo e imediatista. Eu mesma sabendo de tudo isso  tô pensando em "como vou sobreviver sem beber na minha folga sexta?"... pode uma coisa dessas?!
Eu sei que vou acabar fazendo certinho meu tratamento, dor de dente é terrível, mas nessas horas a gente se sente acima da lei, como um policial que está na rua para garantir a segurança da população e DO NADA avança o sinal vermelho porque, sei lá "estou com pressa". Isso não foi um desabafo nem um ataque pessoal.
Preciso cuidar da minha saúde. Não posso ficar doente. Sou uma péssima doente. Fico chata e irritada com tudo. Tenho certeza que estou doente quando só quero deitar no sofá com a tevê ligada (meu deus da literatura me perdoe), tomar uma sopa e ficar com a minha mãe.
Mas infelizmente não tô podendo realizar nem a vontade de sentar no metrô quando vou pro trabalho, imagine meus desejos de doente.
O jeito é isso, ir dormir pra recompor as energias e esquecer a dor de ouvido (é a que mais incomoda, mais que a do dente), e esperar que mês que vem posso ver minha mãe.
 
Ps: Resistência bacteriana, resumidamente para leigos, é quando uma família de bactérias é bombardeada com um remédio que mataria todas se fosse uma bomba nuclear, como a de Hiroshima, mas por qualquer erro, esta família de bactérias é bombardeada com pistolas. Como toda família, esta também tem membros mais fortes e outros mais fracos, alguns dos mais fortes vão acabar sobrevivendo. Depois eles se multiplicam e formam outros membros, assim como eles mais fortes. Depois de algum tempo, aquela família mais ou menos se torna uma família foda. Isso é resistência bacteriana. Ela resiste dentro de você. Ela se torna mais forte e dificilmente o tratamento utilizado anteriormente vai resolver seu caso filhote. Boa sorte.       
  

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Saudades perto

Saudade.
Nunca passou pela minha mente anos atrás que eu sentiria falta do convívio familiar. Agora tenho certeza que isso não vai voltar mais.
Meu irmão está morando com a namorada, aos finais de semana eles buscam os filhos dela, são uma nova família.
Meu pai e minha mãe não estão mais em São Paulo, para vê-los preciso pegar quatro horas de estrada. Não tenho esta disponibilidade de tempo agora.
Sinto saudade.
Sempre senti saudades. A gente mudava-se muito, eram novos amigos o tempo todo ficando para trás, porém quando penso no que passei eles sempre estiveram comigo. Minha família.
Agora vou mais uma vez seguir um caminho pelo qual eles estarão só na torcida, cada um está num jogo diferente. Isso me dá medo. Tê-los por perto é uma segurança forte e precisa, chego mesmo a conseguir tocá-la, mas não desta vez. Engraçado eu estar dizendo isso. Eu que sempre lutei por minha independência, eu que luto por me espaço. Mas é compreensível, não vou ser durona comigo. Nunca planejei encontrar o meu espaço tão longe, isso assusta mais.
Bom, vou lá que o dia tá só começando e isso tá virando um diário de novo.
Só pra constar com clareza, ainda não viajei, mas já sinto saudades.

Breve refletir

Interessante esta minha relação com o tempo.
Desde o dia 22 de março eu estou esperando o 20 de outubro. Não exatamente, mas praticamente. Isso dá um pouco mais de um semestre. O tempo parece andar bem devagar quando se tem pressa. Eu não tenho realmente pressa, mas passei por dias bem ansiosos, dias alterados, dias nervosos e já venci nestes meses umas nove crises, sei lá, ou mais. Crises que se resumir em uma palavra seria MEDO.
Um dia tem vinte e quatro horas. Uma hora, seja aqui em Mali ou Nairóbi, tem sessenta minutos. Isso é simples, qualquer um tem um celular para mostrar as horas. Mensurar o tempo é simples. É exato. O difícil é a sensação.

23h57 - estou no ponto de ônibus, tem mais quatro desconhecidos. A garoa cai fina, o vento parece suavemente fazer as gotículas dançarem. Está um frio suportável, mas sinto medo. Insegurança. Cada minuto parece se transformar em horas, e ao pegar o ônibus as 00h11 eu estou mais exausta da espera do quê da rotina diária da loja. Isso é loucura cara. Tenho medo de acontecer alguma coisa comigo do trajeto do trabalho pra casa. Fiz trajetos bem piores e frequentes quando tinha 17, 19, hoje com vinte e cinco perdi a invencibilidade da adolescência. Acho que foi assim que percebi que estava adulta. Ah, e quando percebi que ficava feliz com dias ensolarados depois de alguns chuvosos com o primeiro pensamento:"dia perfeito pra lavar roupa".

Sensação de tempo é incrível. Já comentei isso falando de quando descobri como transformar dias em meses. Assim como às vezes uma ocupação que você sente que te emburresse parece engolir seus dias inteiros como doses de cachaça. Uma ingrata esta danada da Dona Rotina. Cretina total. Não tem como levar uma vida baseada cem por cento em aventura, em diversão, até novidade toda hora vira Dona Rotina.
Meus dias oscilam. Assim como o um humor e minhas tendências. Tem hora que tendo a ver o copo meio vazio. Tem hora que tendo a esvaziar mesmo todo os copos. Diria que é basicamente uma fase pendular... ainda tem um  punhado de dias para manter o pêndulo. Mas enquanto tem algum movimento ainda há esperanças.

domingo, 9 de agosto de 2015

O homem do sorriso de caninos

Que bom nos encontrarmos de novo para conversar. Na minha idade toda companhia é bem-vinda, e, ou você gostou da nossa primeira história ou o chá estava bom e doce, espero que não esteja aqui por tédio. Não que eu abomine o tédio, como os pragmáticos, mas no fundo o tédio é como um dia nublado, não tem a graça de uma chuva sonora, nem o regalo de um sol fresco renovador das cores do mundo. É melhor estar triste ou feliz do que estar com tédio. Mas quem sabe?

Contudo, vamos a nossa história de hoje, a água já começa a ferver e eu começo a divagar. Como sempre. Quando o presente torna-se apenas um lago de águas cristalinas, sem muitos acontecimentos, cresce o perigo dele só refletir o passado, acho que tenho caído neste limbo em muitas tardes agradáveis e monótonas como esta. Lembro-me que em uma de minhas andanças pela minha toca do coelho eu peguei uma carona. Ele era essencialmente sorridente. Possuía olhos brilhantes, não qualquer olhar, antes aquele realçado por algum choro anterior, olhos lavados e quarados ao sol, tal qual o ato de tortura que se fazia com a roupa branca no tempo que água pra esse luxo só na cacimba, e meio de transporte era carro de boi.
Um olhar desses não se despreza, cria um magnetismo instantâneo e já se está fisgado como um peixe iludido num anzol exuberante. Mas aquele rosto não era uma tela que exibia dois olhos, não, antes de tudo, já lhe disse, ele era sorridente. Um sorriso largo e desmedido, como um rio que deságua em estuário. Ele me amou antes mesmo de eu conhecer este sentimento. Uma forma macia e envolvente, tão intensa que eu juro que dava para tocar no ar, assim como bolhas de sabão, que mesmo quando você desacredita que existiu confere a umidade nos dedos da mão curiosa. O amor é um dos poucos fenômenos da vida que silencia minha ciência. Posso colocar numa lista hormônios, fases da lua, a influência dos ventos litorâneos e as altas temperaturas do verão assim como as estreias do cinema naquela semana. Nada. Tudo. Explicação seria menos importante que a descrição. Aprecio detalhes em histórias assim como cada tempero de um bom prato. Um bom prato não se apura apenas com sal e alho.
Lembro-me de seu reflexo no retrovisor, de suas mãos gentis, de sua fala vulgar e sincera. Todo novo segundo inocente divido para "nós", não somente para "mim". Aquele sorriso marítimo. Seus sonhos e cicatrizes, desastres, ambições e aventuras. Idas à praia para aproveitarmos o nosso dia e cansarmos os corpos jovens que carregávamos cobertos com pouca roupa. Uma música de cantor vivo e tantas outras canções de falecidos na glória de seus talentos. Um sorriso brilhante. Uma nova visão de mundo com contornos mais acentuados e cores mais diversas, apesar de valorizarmos menos as classificações tradicionais e a maneira normal de nomear os objetivos e principalmente os indivíduos. E aquele sorriso, aquela fortaleza que cravou seus dentes caninos no músculo virgem e tenro do meu coração. Aquele sorriso é sozinho uma divindade. Vivia sem saber dias memoráveis com sabor de cajá, beijo e tapioca...
E assim nesta reticencias de texto que termina sem um "porém" mesmo quando o final feliz não é juntos até a eternidade, fica a maturidade de aprender um pouco de alegria em cada experiência, até mesmo as que terminaram morrendo afogadas em lágrimas de saudade.

sábado, 1 de agosto de 2015

Fruta da estação é "Típica"

Sou assim, meio brasileira típica.
O que esperas de uma brasileira típica?

Bunda grande, sorriso largo, sobrancelhas expressivas.
Charminho, jeitinho e carinho na hora certa.
Patada, pouco conhecimento e poucas atenções na mesma rede social que te vigia. Ciúme.

Sou quase, uma brasileira típica.
Já gostei de futebol. Hoje entendo o negócio e prefiro assistir a novela.
Já bebi muita vodca, saquê e whisky, hoje não troco uma skol gelada, uma cachaça, dia de luxo um chop bem servido com pouco colarinho, que não sou trouxa.

Esperas muito papo. Papo-furado. Muita perna, muito braço. Abraços. Esperas ginga, molejo e pouco recato.
Esperas muita prosa, palavrão, poesia e não pouco drama. Sem draminha.

Somos de andar rápido, olhar pouco pro lado, passar por cima de papelão e porcaria que tiver na frente.

O que é ser brasileira?

É ouvir samba, pagode, funk e sertanejo?
Ser brasileira é descer até o chão na sexta e ficar quente no sábado? É acender o fogo?
Ser brasileira é carregá homem nas costas? É fazer novos homens? É apanhar no lombo dos home?

O que é? O que foi? Como é que nasce uma brasileira?
Nasce pobre? Nasce com fome? ou nasce de olhos abertos?

O que é ser típica?
É tá na safra, no tempo, na estação?

Ser brasileira é ter vergonha de ser inteligente quando é mais favorável ser bonita. É esconder o livro e a opinião quando o assunto da semana é BBB ou dieta da lua.

Ser brasileira é aguentar calada passada de mão no metrô e encoxada no ônibus, é saber que discussão feminista tá na moda, mas respeito não.

Ser brasileira é gostar de arroz e feijão. Trabalhar de dia pra pagar a faculdade de noite. Ou o contrário. É ser convencida que cantada na rua é elogio, não insulto. É passar por cima de si mesma, é transformar-se em sua pior inimiga para não se surpreender com o tratamento do mundo ao sair da porta de casa.

Ser brasileira é viver a viração do cotidiano sorrindo pra não acabar a noite no copo chorando.
Ser brasileira é saber desde sempre que homem faz tudo mais rápido, ganha mais dinheiro, é mais forte, e...se a gente tiver sorte nessa vida arranja um pra cuidar a gente. Se não, reza pra nascer um na próxima.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Carência? é nada!

Quero escrever, terminar pelo menos um dos três textos que comecei semana passada, mas não consigo. Sempre que minha cabeça para um instante bate aquele down. Sabe, sentir saudade e normal, sempre senti saudade de alguém, mas saudade misturada a carência é foda.
juro que o que tô sentindo é tão concreto que às vezes confundo com fome.

Terminei meu namoro e pensei "vou ficar solteira até os trinta, esse lance de relacionamento é complicado".

Agora estou eu aqui contando dia no calendário porque resolvi que me apaixonar antes de um ano de novo era pouco, tinha que ser por alguém que moa em outra país. Outro continente. Ah! E depois eu ainda digo que não gosto de drama.

Que fique registrado que estou carente, me sentindo sem família, nem casa e que amanhã (hoje - sexta-feira) estou de folga, ou seja, muitos minutos para ocupar com alguma coisa divertida ou com esvaziamento de copos.

Ainda bem que esse blog é um diário e que ninguém lê, isso vai servir pra minha vergonha futura.

boa noite (madrugada)

Ah! Amanhã (hoje) é minha primeira aula de direção, tô muito animada!!! 

terça-feira, 21 de julho de 2015

Óculos

Minha mãe e meu pai não ousaram mudar de método anticoncepcional, mesmo depois da falha da tabelinha resultar na minha irmã mais velha, sendo assim menos de um ano depois eu já estava quentinho dentro de um útero e nada sabia e nada precisava saber. Mas a vida não é um útero, e resolvi sair de lá, não faço ideia porque, não sei explicar porque nasci, só sei que teve uma hora que eu chutei e sabia que alguma coisa ia acontecer, mesmo sem saber.

Nasci, uma criança branquinha e cabeluda, "coisa mar linda de tia"... Aqueles bebês que você não sabe se fica olhando "pros olhinhu bonito" ou se morde. Ainda bem que não me morderam. Cresci e apareci, desde pequeno fazia cena, não sei como eu sabia fazer, só sei que eu fazia e acertava muitas vezes em cheio, não sei explicar, algumas coisas só não faziam sentido. Por que meu pai quer que eu me vista igual a minha irmã? A gente é tão diferente, olha pra ela... Olha pra mim. Por que ele quer que eu faça isso e não aquilo? Brinque com isso e não com aquele brinquedo? Por que não posso, não posso e não posso? Descobri que as roupas que a gente usa vem de uma sacola, e que esta sacola vem da casa de uma mulher, uma casa esquisita que não tem cozinha nem quarto, só tem sala, e acho que ela gosta de visita mesmo, porque a sala tem uma porta enorme e o nome dela escrito encima, a gente nunca escreveu nosso nome encima da porta de casa, vai ver ela é doida. Mas a sacola vem de lá e eu descobri também que não tem só roupa rosa, laranja e amarela, tem roupa preta, verde e azul escuro, eu queria essa roupa, mas eu não posso ir lá buscar sozinho e meu pai já trouxe todas aquelas rosas, laranjas e amarelas. Não gosto desses rosas, laranjas e amarelas, tenho raiva deles. Mas eu não odeio todo o arco-íris que minha irmã usa, só odeio quando me obrigam a usa-lo.
Conheci a escola. Quando cheguei a professora viu que eu era diferente e riu de mim. Odeio a escola.
Conheci a igreja. Quando cheguei viram que eu era diferente e riram de mim. Odeio a igreja.
Conheci outras pessoas. Perceberam que eu era diferente. Percebi que também existem outras diferentes.
E se... E se talvez eu não seja tão diferente, só estão me olhando com os óculos errados? Eu descobri uma vez, não lembro se foi na escola ou na rua, que existem vários tipos de óculos que ajudam ou fazem alguém enxergar o mundo de um jeito ou de outro, às vezes chega mesmo a ser maneiras opostas, isso explica porque tem tanta gente se esbarrando no shopping, no trânsito, na tevê, na câmara... Um verdadeiro perigo! Não sei como o Ministério da Saúde ou da Educação não interferem nisso. Pois é, descobri então que estava me deixando ver pelos óculos errados, sendo assim resolvi tomar coragem de tentar limpar os óculos de algumas pessoas, muitas pessoas disseram que isso era um abuso, que todo mundo sabe que não se toca nos óculos alheios. Outros me agradeceram, estava realmente embaçado ou sujo. Minha irmã disse que nem tinha notado os óculos que usava, tá procurando até um novo pra comprar, acha que o antigo não serve mais. Mexer nos óculos alheios é, na maior parte dos casos, ferir a honra, teve épocas de isso levar à morte. Mas percebi que se não fizesse isso quem estava morrendo era eu. Então hoje eu tenho nome e sobrenome. Me chamem de O Homem que Limpa Óculos. Não tenho medo de governo, escola ou igreja. Não tenho medo do vento, da maré ou da moda. Se quiser posso, sem você perceber, primeiro te mostrar como seus óculos estão sujos, e quem sabe, assim, você mesmo não resolve limpar toda essa miséria e imundície que te precede? Já é um começo, não?

domingo, 19 de julho de 2015

Pequena Felicidade

A felicidade no cotidiano é pequena e infantil. No meio da semana sem nenhum motivo aparente eu me sinto livre e um sentimento estranho surge do lado esquerdo do fígado, mais para baixo do pulmão, próximo ao rim. É como uma piada antiga que quando você lembra no meio da rua, sem nenhum amigo para contar, você dá uma risadinha de canto e vê o mundo por cima das suas linhas ridículas e invisíveis pensando "eu sei a piada... Idiotas!".

A piada na realidade pouco importa, o fundamental é a sensação de saber de algo que a estatística da vida inútil nos diz que ninguém naquele logradouro tem ciência da sua lembrança. Passo por este momento me sentindo um ser humano de oito anos de idade, eu descobri algo novo, uma felicidade pequena, ela é minha, não quero dividir com mais ninguém. Então fecho os olhos, já no ponto de ônibus, devagar por um segundo, dois, três, quatro e abro, para verificar se o mundo continua com a mesma cor. Sim. Esta felicidade é tão intensa, apesar de pequena e frágil, como saúde de recém-nascido, que não me deixa lembrar de como o mundo estava antes dela, então sim, o mundo continua colorido como era a cinco segundos atrás quando me lembro de minha pequena felicidade.

Tenho vontade de mudar de caminho, não vou ao trabalho hoje, vou comemorar esta raridade no meio da semana. Tenho um impulso brusco e irresponsável de entrar no primeiro bar que cruzar. Pego o ônibus. Por que pensei num bar? "Ah! O que importa que esta hora todo mundo está trabalhando, este sentimento é meu, não preciso dividi-lo afinal."

O ônibus continua seu percurso, o caminho pelo qual passo todos os dias apresenta novos detalhes, "Eu nunca vi aquele grafite, que legal!", novas perspectivas, parece outro percurso, um novo horizonte a se abrir. "Vou dar sinal e descer por aqui, sei que é uma região boa de boemia". Esta pequena felicidade explode dentro da minha adrenal de uma forma tão forte que parece que vai subir pela corrente sanguínea e linfática até atingir todos os meus tecidos.

"Não vou perder este momento, sou jovem, tenho muito tempo para trabalhar na vida ainda, qual diferença vai fazer em trinta, quarenta anos, não é mesmo?"
E os pontos vão passando, o sol parece derreter até liga metálica, pessoas apressadas atravessam na faixa como se a qualquer momento os carros fossem dar partida, "Uma cervejinha agora seria um milagre", "Por que eu pensei em cerveja?", motos passam correndo pela lateral do ônibus buzinando, duas moças conversam na frente de uma clínica odontológica, "vou descer, pronto, tá decidido".

Desço, as minhas pernas já sabem o caminho, alguns minutos e chego ao meu destino. Troco a roupa, coloco o uniforme, cumprimento meus colegas com boas tardes e abro meu sorriso no balcão da loja. É tudo parte do sistema, o ônibus, as pessoas, as discussões, as crises, a tevê, o dinheiro, a falta de dinheiro, o vizinho. Está tudo planejado e alguma coisa ferve e me alegra. Aquilo que ninguém vê nem cheira. Não tem nome, chamei de pequena felicidade. Estou de pé no balcão a cinco segundos, fecho os meus olhos, seis segundos, sete, oito, abro e está tudo como sempre colorido. Nasce um sorriso no canto dos meus lábios e um pensamento fará hoje ser um dia sem igual "eu sei a piada... Idiotas!".

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O muro

Estou caminhando.
Abro meus olhos, estava dormindo e agora vivo num sonho.
Neste sonho minha pele é feita de escamas, elas não nasceram comigo, foram doadas por anjos.
Eu não voo.
Não tenho asas.
Estou caminhando.
Neste momento de olhos abertos eu caminho descalça sobre um muro. Este muro é longo, mas não muito largo. Tenho que caminhar, o movimento me permite o equilíbrio. Tenho certeza que se parar vou cair, mesmo que isso não tenha acontecido antes.
Por isso continuo caminhando.
Não posso correr, se correr gasto muita energia, me cansarei e posso querer parar para descansar e cair.
Este muro protege algo valioso para alguém, porque está todo crispado com cacos pontudos de vidro, isso me machuca.

Estou caminhando sobre o muro.
De um lado a vida das árvores, com suas raízes profundas. Nunca saem do lugar que nasceram. Segurança e confiança. Sabedoria do solo que as sustenta. Conhecimento adquirido da experiência da constância, do solo e seus nutrientes.
Do outro lado a vida das aves. Voadoras, livres, aventureiras. Cientistas viajam a descobrir novos ares, lugares, vidas. Conhecimento da ciência experimental, dos céus e seus gases.

Estou caminhando e sinto o vento nas minhas raízes fora da terra. Sinto o vento nas minhas costas, onde antes haviam asas dói com o frio.
O equilíbrio do muro faz sentido? Talvez uma hora o cansaço se torne exaustão e eu pare de caminhar por um instante. Só é preciso um momento... E então eu caia do muro. Mas qual lado? A qual lugar pertenço? Devo pertencer a algum lugar?

quinta-feira, 9 de julho de 2015

A paisagem do quintal

Olha esse homem correndo assim pendendo pro lado, parece que vai cair, ha! me lembrei de Pingo. Nunca tive um animal de estimação, um bicho que eu colocasse nome e comida num prato e pensasse "é meu, minha propriedade" e reivindicasse a sua amizade. Pingo não era nosso cachorro, era o animal da casa. Ouvi dizer que ele veio com um pastor vindo de Brasília e quando a família foi embora deixou-o pra trás, como parte da paisagem do quintal junto com o pé de cajá-manga. 
Pingo pendia pra direita quando andava pela rua, não nos acompanhando, afinal antes de ser nossa, a rua já era dele. Pingo já foi atropelado. Dizem que nunca mais atravessou a rua sem olhar para os dois lados. Um cachorro com cicatrizes do passado.
Lembro-me que assim que chegamos ele nos deu as boas-vindas sendo um guia turístico local, quando aprendemos o caminho pro rio ele não nos acompanhava, só ia ao rio pelo mesmo caminho que nós na mesma hora e nos observava de longe, como um avô que nada diz mas mostra preocupação com uma presença silenciosa. Nunca o vi entrar na água doce e corrente do rio, mas se aventurava só ao ver nossa diversão.
Não tenho muitas lembranças daquela cidade perdida no nada do cerrado, entre o rio e o cajá-manga a presença de Pingo era o que nos fazia sentir em casa, mesmo sendo só mais uma casa, por somente mais uns meses.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

O homem dos olhos semi-serrados

Você com certeza já ouviu falar da estória de Alice no país das maravilhas, pois bem, eu passei uma temporada lá num período de interlúdio na minha vida, tentativa de dois cursos diferentes de faculdades bem distintas, passei alguns meses lá naquela aura de sonho e fiz alguns amigos. O primeiro que vou apresentar-lhe é o homem dos olhos semi-serrados. De início pode parecer que ele está assim por conta do sorriso, um pensamento muito justo, afinal de contas esta característica de fechar os olhinhos quando se sorri não é exclusiva dos orientais ou iglus. Contudo, garanto a você que não é isso, perdão, iniciei nossa conversa tratando-lhe como você, espero que não tenha se ofendido, é que falaremos de assuntos muito pessoais, sendo assim, já lhe considero de casa. Continuando... os dias e os momentos foram passando; devo colocar aqui que um dia bom tem um, dois no máximo, o que vi raras vezes, três momentos, ou seja, necessita-se de tempo para a próxima suposta explicação para o olhar semi-serrado do homem de olhos semi-serrados de que fosse a claridade do sol, ou, se a noite, a claridade das luzes artificiais que o forçavam a manter esta face perante o mundo, uma vez que ele nasceu e mora onde o sol reina o ano inteiro. Já me encontrava feliz com esta resposta quando esta teoria caiu, num momento em que conversávamos no escuro, então ligeiramente pensei... Deve andar bêbado, só pode ser isso. Persegui os passos do homem de olhos semi-serrados para descobrir seus hábitos, suas maneiras formais e, principalmente, informais. Então veio o deslumbre de uma descoberta que muito aturdiu a minha busca pela resposta certa, ou pelo menos, mais coerente, que já é muito no mundo em que vivemos agora, o homem de olhos semi-serrados bebe café. Bebe muito café. Esta bebida é digerida quente, açucarada e fresca em época de vacas gordas ou em casa de pessoas generosas, quente e açucarada em trabalhos outrora e agora bem servidos, mas já foi consumida, e disso eu tenho provas irrefutáveis, das maneiras mais sórdidas possíveis, incluindo a vergonha de registrar nestas nossas linhas um lugar que o homem de olhos semi-serrados prestou seus ilustres serviços e lhe era dado em troca café frio, velho e sem açúcar. Porém, esta parte é tão horrenda que prefiro não a mencionar novamente.
Mas agora chega de enrolação, a hora avança e ainda não vivemos um momento hoje, vamos em busca de um, porém não sem antes dizer, que um dia descobri a razão de tudo, os olhos deste homem são continuamente semi-serrados porque a beleza e abundancia que fogem deste solo e deste mar contém tamanha luz e desassossego que lhe quase cega a visão, o homem de olhos semi-serrados na verdade não é um homem, é um menino, pois ainda possui os olhos curiosos de criança, não passou pela metamorfose da vida adulta, quando depois de nós trocarmos os dentes também trocamos os olhos. O homem de olhos semi-serrados precisa assim viver porque ainda possui olhos de leite. E... Agora vamos, continue andando, ainda temos algumas horas para viver um momento hoje, que é o pouco tudo que temos.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Droga

A literatura e a música criam para mim uma fenda no tempo e espaço reais, conseguem me colocar sob uma aura de sonho que permite eu não me tornar alcoólatra ou louca depressiva. Por que o que faz o viciado não é a droga e sim a necessidade de fugir da realidade. Minhas drogas são lícitas.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Ainda Bem que...

Geralmente fico muito triste quando encontro-me sozinha. Nunca fui dada à solidão física, para mim implica mais que ter alguém por perto, é o fato de poder comunicar-se, de interagir com outro intelecto. Por isso gosto de estar com pessoas, apesar de não gostar de multidões, não multidões comuns.
Uma multidão reunida por um propósito é interessante, é como vários cérebros querendo dizer a mesma coisa, mas multidões ocasionalmente são inúteis e estúpidas.
Gosto de encontros, de conversa, gosto de confraternização e festa. Porém de uns dias para cá eu não gosto tanto de festas sem propósito... onde não dá pra conversar... é, acho que estou envelhecendo e descobrindo outras formas de diversão, ainda bem, não iríamos muito longe com a vida que levávamos aos dezessete ou vinte e um.

terça-feira, 30 de junho de 2015

Bobagens COTIDIANAS IV

Escrevo-lhe com unhas e boca vermelhas, símbolo de minhas emoções afogueadas. Ando ouvindo samba, bebendo álcool e falando poemas.
Sua presenta obstina, sua ausência determina novos horizontes.
O que faremos com este amor em farelos? Distância atlântica para molhar as lembranças e enevoar os nos momentos.
Por que é mesmo que te amo?
Lavando roupa e arrumando prateleira pra te deixar de lado no pensamento. Impossível. Você é impossível.
Te amo hoje. Ainda. Já?!

Acordar para uma nova semana. Abrir os olhos, abrir possibilidades. Aceito esta inercia na esperança de que isso anestesie a fata que você faz. Sonhando com o passado para não colocar pressão nos dias que virão.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Bobagens COTIDIANAS (III)

Quem foi o maluco que disse que saudade é bom?

Só se for pra esvaziar as prateleiras de
Prozac®  e manter o eterno fluxo encher/esvaziar de copos.
Vivo morrendo de saudades.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O acaso que nos surpreende

Não acreditar em destino ou em um deus que rege nosso "destino" dá a liberdade de deslumbrar a constante beleza do acaso.

Uma vez uma frase escrita na bíblia fez todo sentido pra mim: "E conhecerás a verdade e a Verdade vos libertará"...
Uma vez livre da religião/fanatismo eu me vi livre de verdade. Pelo menos algo em um livro inteiro fez sentido, parece até uma charada dentro de tanta historietas. Irônico.

Paro pra pensar em todas as besteiras que a gente faz e um dia olha pra trás e pensa "caraca como eu fui boba". Tive uma infância rodeada de anjos e demônios, um dia algum professor de igreja disse que "estava tudo dentro do plano de deus". Pronto, foi o suficiente pra uma criança com menos de dez anos pirar, achava que deus sabia tudo e fazia tudo e que a gente era só umas marionetes. Isso me deixou muito triste, eu queria fazer o que eu achava que queria fazer. Não queria ninguém responsável pelo o que eu fazia ou deixava de fazer. Teve um belo dia que eu simplesmente desencanei, "tá bom, a nossa vida é um teatro? beleza, vamos ver o que vem a seguir", até que anos depois, muitos encontros e desencontros me mostraram que ninguém sabe o que vai acontecer... até que .. acontece. E pronto a partir daí é conhecido, antes disso não.

Amo saber que a nossa vida neste mundo é regida pelas nossas próprias mãos, se eu faço ou se eu deixo de fazer não tem uma força sobrenatural que vai corrigir o universo de acordo com um plano. Isso traz ação, responsabilidade, força de vontade, se eu não fizer não vai aparecer um anjo pra arranjar as coisas por aqui. Eu sou responsável pelo mundo ao meu redor. O acaso que cruza caminhos e o que fazemos com estes encontros são de nossa inteira responsabilidade. Se amigos ou não, é porque quisemos ou não.

O acaso, o caos de vidas se encontrando e se deixando encontrar, é lindo. Viva sua responsabilidade de escolha.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

bobagens COTIDIANAS (II)

Estava conversando com um amigo ontem e falávamos de trabalho/emprego, novas oportunidades na cidade dele que o turismo vem crescendo, a ideia de montar um hostel, satisfação profissional entre outros assuntos de gente grande. Percebi que a maioria dos meus amigos são bem normais ao ponto de não gostarem "muito" de trabalhar, com uma certa veia artística. Também sou um pouco assim, afinal se trabalho fosse realmente legal não era uma obrigação, você fazia só quando dava vontade, tipo uns três ou dois dias por semana, (com certeza não faria no domingo) mas nunca todo dia. 

Então comecei a imaginar " e se eu fosse artista?" O que eu faria? Qual seria minha arte? Gosto muito de ler, mas ler não é bem uma atividade remunerada e/ou arte, até existem críticos ou revisores etc, mas não é esse tipo de leitura que eu gosto de fazer. Eu gostaria de tocar saxofone, mas saxofonista só ganha dinheiro passando um chapeuzinho em calçadas, ou então tem que ser muito bom pra tocar com alguma banda. Podia ser artista plástica e colocar toda a minha loucura pessoal de forma universal em alguma tela com alguma técnica (que quando ninguém sabe o que é chamam de "técnica mista"). Talvez, quem sabe, eu podia escrever... Mas eu duvido que algum me pagaria algum trocado por um punhado de palavras.

Ser artista não é fácil, tem que se dedicar e encarar o mundo com um olhar único e diferenciado.

Não sei, talvez eu desenvolva algum lado artístico qualquer dia desses.. E saia por aí lendo, tocando sax com um pincel na mão e um lápis na outra. Vai que tem um gênio dentro de mim só esperando uma oportunidade de me surpreender.

Alguns momentos eu viajo... Fazer o quê?!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Bobagens COTIDIANAS (I)

Bom, apesar de passar séculos sem dar as caras, sem escrever uma palavra... vivendo muito e registrando pouco, apesar de tudo isso, isso aqui ainda é um diário, então vou registrar algumas bobagens cotidianas que podem, quem sabe com sorte, arrancar algumas risadas no futuro ou um "ai, como eu era ridícula". Isso é bem clássico. Quem nunca abriu uma caixa com recordações e depois ficou com vergonha se si mesmo e uma saudosa melancolia..."ai, como eu era ridícula!". Isso aconteceu comigo semana passada, fui à casa da minha tia pegar uma caixa que deixei com coisas guardadas quando fui para Recife. Nossa, era tanto passado ali dentro, de uma caixinha, tantas aventuras, festas, momentos mágicos que eu fiquei boba, tanta coisa que prova..."como eu já fui uma boba", um momento delicioso aquele.

Tô me desfazendo de muita coisa, muita coisa mesmo... Tô indo com uma mala de 23Kg em outubro pra tentar ter um vida com uma pessoa muito especial fora do país, e o desapego a objetos e "artefatos do passado" tem sido um processo. É muito difícil se desfazer de antigas cartas, canecas, abadas, alianças, bibelôs, roupas preferidas antigas... mas o que tenho aprendido é que as lembranças que realmente importam a gente sempre reencontra nas conversas com os amigos. As coisas não importam, as pessoas sim, e elas não pesam nada quando eu carrego no meu coração...pelo menos não pesa nada na alfândega do aeroporto. Se é que você me entende...

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O perigo de pertencer a alguém

A saudade é corrosiva e a dúvida é uma gotinha de ácido sulfúrico.

Meu eterno medo de dar meu coração para outra pessoa cuidar faz com que eu mantenha meus pés no degrau da segurança. Mas isso está aos poucos mudando. Aos poucos. Repito que o processo é vagaroso e pouco consciente. 

O perigo real de pertencer a outro alguém é a probabilidade certa de fracasso.

Real e certa de fracasso. Repito certamente será um fracasso.

Isso se dá pela desordem da mente humana e nem há adjetivo em nossa língua para explicar o caos dos sentimentos. Então acabamos gostando do que é proibido mais ainda se for proibido e escondido. Muito nos interessa o desconhecido e o que é misterioso é magicamente magnético aos olhos, boca, nariz, mãos todos os sentidos. 

Além disso, cuidar de outro alguém é muito difícil, uma vez que quem sente os outros sentimentos, quem vive os outros pensamentos, quem sente fome e sede de algo não somos nós. Como satisfazer um corpo que não me dá dicas fisiológicas marcantes?

Se vejo o outro corpo triste pode ser fome, sede, dor de cabeça, um machucado no pé, muitas coisas. Aí entra a comunicação, falar o que sente pro outro. Dizer estou com sede. Estou com fome. Estou carente.

Mas e quando o outro não sabe explicar o que está sentindo? E se for um sentimento novo e estranho? E se for algo que o outro não queira dizer? Por vergonha, medo ou porque ainda não é a hora certa...

O que acontece?
Você pode adivinhar. Tá doendo? Tá com fome? Tá apertado?
Quer ir no cinema? Quer um Ponstan®? Quer ir ver sua mãe?
Não adianta. A dor não é sua, ou a fome, ou o vazio sem nome. Adivinhar não vai funcionar.
Aí pode vir a fase de "Será que elx não confia em mim?", "Será que não me ama mais?", "Será que conheceu alguém que lhe completa mais que eu?", "Será que fiz algo errado?"...

E o outro corpo pode pensar "Por que não consigo explicar?", "Por que elx não me entende?", "Por que desistiu de me entender?"...
O primeiro corpo não se sente suficiente, o segundo não está satisfeito. Uma crise se instala porque esqueceram-se do princípio básico de que: quem sabe o que é melhor pra mim sou eu mesmo. O maior perigo de pertencer a alguém é não me pertencer mais. É acabar me perdendo...

Não pertencer a alguém, mas doar de mim um pouquinho todo dia é meu processo vagaroso e continuo, pequenas doses de uma parte boa e má. Do meu melhor e pior. De quem sou eu e assim o outro corpo vai me reconhecer em todos os meus dias. Serei um mistério todos os dias a ser desvendado nas próximas vinte e quatro horas. Vai se manter atualizado, por dentro de todos os cataclismos que ocorrem dentro de mim e eu não sei o nome. Um pedacinho do meu coração diariamente, até o dia que meu coração será nosso.

Ninguém melhor do que eu pra sabe o que é melhor pra mim, pra saber que transformar em nosso é ter quatro mãos cuidando antes de duas.