sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Um breve ensaio sobre relação

A falta de confiança é um veneno. Conheço algumas pessoas ingênuas que confiam em tudo e em todos. Se assistir um comercial do cogumelo do sol num dia inspirado perde dinheiro. É impressionante, chega a parecer piada.

Eu não sou uma dessas pessoas.

Não nasci ontem, e apesar de também não ser velha, a gente acaba aprendendo uns truques. A escola é realmente "uma escola". Lá eu conheci várias formas de discriminação, por ser a "aluna nova", por ter "cabelo de bucha", por ser "alta", por ser "menininha", (aí bati nos meus colegas e...) por ser "machona", por ser "inteligente", por ser "crente do rabo quente", por ser "filhinha de papai" (quando a gente mal tinha dinheiro pro mercado). Muitos adjetivos que nunca fizeram sentido pra mim. Acho que o que menos fazia e o que mais me marcou foi o do cabelo crespo. O que eu não conseguia compreender é "por que eu sofro tiração de sarro com minha cara sobre algo que não posso escolher?". Além do que se aprende por tabela das experiências alheias, gordo, magro demais, preto, amarelo, com espinha, com muita maquiagem, corte de cabelo, língua presa, roupa sem marca, pai sem profissão, por não ter pai, viadinho, virgem. Mas é assim mesmo, a gente aprende que tem pessoas do seu lado que estão aí para construir e outras para destruir. Neste movimento de construção e desconstrução o mundo sobrevive e se transforma.

Confio em poucas pessoas, e geralmente é instintivo, sinto que posso confiar e confio. A partir do momento em que eu confio eu simplesmente tiro o dedo do botão de alerta. Sendo assim só existe uma pessoa que pode ligar este botão: a própria pessoa em que estou confiando, sim porque confiança é um estado, para mim, não uma qualidade, que se mantém dia após dia com a convivência.
Conviver não é sobreviver em comunidade, conviver é partilhar vida e vida requer um certo nível de qualidade, de prazer. Convívio para algumas pessoas é a única forma de construir a confiança. Para mim é a maneira que você mantém a que eu te dei.
 
Tenho que admitir que geralmente as pessoas "positivas" pagam o preço de viver num mundo cheio de outras "negativas". Explico. Usei estes termos porque acho mais apropriado para explicar opostos do que dizer "pessoas boas" e "pessoas más", o que é bom? o que é mau?
Se você tem uma experiência desagradável com uma pessoa, vamos chama-la de "negativa" isso vai lhe fazer na próxima experiência acreditar que deve se proteger porque a próxima pessoa pode ser "negativa" de novo, e se você cair no mesmo truque a culpa é sua porque não se precaveu. Então você se protege para evitar viver novamente a mesma experiência.
Porém, se esta nova experiência é com uma pessoa "positiva" e você trata-la, mesmo que por precaução, como uma "negativa", aquela paga pelo erro de outrem, e então ocorre a falta de oportunidade com igualdade. Tratamento sem preconceito, igualitário.
 
Dito isso eu lhe proponho dois questionamentos: Primeiro, é justo os "positivos" pagarem o preço da desconfiança por viverem num mundo misto de "positivos" e "negativos"?
Segundo, é justo para quem viveu a experiência desagradável ignorar totalmente o passado, como se nada houvesse ficado do ocorrido, simplesmente para que todos tenham sempre as mesmas oportunidades despretensiosamente iguais?
 
Talvez devêssemos olhar para as situações, muito além de olhar para as pessoas. Disse tudo isso como resultado de uma conversa que tive com meu namorado e alguns amigos sobre este tipo de assunto e no fundo não penso que o mundo está dividido em pessoas "positivas" e pessoas "negativas". Acho que a mesma pessoa que viveu algo com alguém e isso resultou numa experiência negativa, pode em outro momento sob outras circunstâncias viver uma experiência positiva. Já vi várias vezes uma estigmação de caráter "bons e maus", "positivos e negativos", para autopreservação ou para uma simples reprovação alheia por prazer. A algum tempo tenho me mantido alerta a minha maneira de julga os outros pelos seus atos passados conhecidos, não quero ser aquela pessoa que olha torto pros demais pelo que estas fizeram em outras fases da vida. 

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