sexta-feira, 24 de julho de 2015

Carência? é nada!

Quero escrever, terminar pelo menos um dos três textos que comecei semana passada, mas não consigo. Sempre que minha cabeça para um instante bate aquele down. Sabe, sentir saudade e normal, sempre senti saudade de alguém, mas saudade misturada a carência é foda.
juro que o que tô sentindo é tão concreto que às vezes confundo com fome.

Terminei meu namoro e pensei "vou ficar solteira até os trinta, esse lance de relacionamento é complicado".

Agora estou eu aqui contando dia no calendário porque resolvi que me apaixonar antes de um ano de novo era pouco, tinha que ser por alguém que moa em outra país. Outro continente. Ah! E depois eu ainda digo que não gosto de drama.

Que fique registrado que estou carente, me sentindo sem família, nem casa e que amanhã (hoje - sexta-feira) estou de folga, ou seja, muitos minutos para ocupar com alguma coisa divertida ou com esvaziamento de copos.

Ainda bem que esse blog é um diário e que ninguém lê, isso vai servir pra minha vergonha futura.

boa noite (madrugada)

Ah! Amanhã (hoje) é minha primeira aula de direção, tô muito animada!!! 

terça-feira, 21 de julho de 2015

Óculos

Minha mãe e meu pai não ousaram mudar de método anticoncepcional, mesmo depois da falha da tabelinha resultar na minha irmã mais velha, sendo assim menos de um ano depois eu já estava quentinho dentro de um útero e nada sabia e nada precisava saber. Mas a vida não é um útero, e resolvi sair de lá, não faço ideia porque, não sei explicar porque nasci, só sei que teve uma hora que eu chutei e sabia que alguma coisa ia acontecer, mesmo sem saber.

Nasci, uma criança branquinha e cabeluda, "coisa mar linda de tia"... Aqueles bebês que você não sabe se fica olhando "pros olhinhu bonito" ou se morde. Ainda bem que não me morderam. Cresci e apareci, desde pequeno fazia cena, não sei como eu sabia fazer, só sei que eu fazia e acertava muitas vezes em cheio, não sei explicar, algumas coisas só não faziam sentido. Por que meu pai quer que eu me vista igual a minha irmã? A gente é tão diferente, olha pra ela... Olha pra mim. Por que ele quer que eu faça isso e não aquilo? Brinque com isso e não com aquele brinquedo? Por que não posso, não posso e não posso? Descobri que as roupas que a gente usa vem de uma sacola, e que esta sacola vem da casa de uma mulher, uma casa esquisita que não tem cozinha nem quarto, só tem sala, e acho que ela gosta de visita mesmo, porque a sala tem uma porta enorme e o nome dela escrito encima, a gente nunca escreveu nosso nome encima da porta de casa, vai ver ela é doida. Mas a sacola vem de lá e eu descobri também que não tem só roupa rosa, laranja e amarela, tem roupa preta, verde e azul escuro, eu queria essa roupa, mas eu não posso ir lá buscar sozinho e meu pai já trouxe todas aquelas rosas, laranjas e amarelas. Não gosto desses rosas, laranjas e amarelas, tenho raiva deles. Mas eu não odeio todo o arco-íris que minha irmã usa, só odeio quando me obrigam a usa-lo.
Conheci a escola. Quando cheguei a professora viu que eu era diferente e riu de mim. Odeio a escola.
Conheci a igreja. Quando cheguei viram que eu era diferente e riram de mim. Odeio a igreja.
Conheci outras pessoas. Perceberam que eu era diferente. Percebi que também existem outras diferentes.
E se... E se talvez eu não seja tão diferente, só estão me olhando com os óculos errados? Eu descobri uma vez, não lembro se foi na escola ou na rua, que existem vários tipos de óculos que ajudam ou fazem alguém enxergar o mundo de um jeito ou de outro, às vezes chega mesmo a ser maneiras opostas, isso explica porque tem tanta gente se esbarrando no shopping, no trânsito, na tevê, na câmara... Um verdadeiro perigo! Não sei como o Ministério da Saúde ou da Educação não interferem nisso. Pois é, descobri então que estava me deixando ver pelos óculos errados, sendo assim resolvi tomar coragem de tentar limpar os óculos de algumas pessoas, muitas pessoas disseram que isso era um abuso, que todo mundo sabe que não se toca nos óculos alheios. Outros me agradeceram, estava realmente embaçado ou sujo. Minha irmã disse que nem tinha notado os óculos que usava, tá procurando até um novo pra comprar, acha que o antigo não serve mais. Mexer nos óculos alheios é, na maior parte dos casos, ferir a honra, teve épocas de isso levar à morte. Mas percebi que se não fizesse isso quem estava morrendo era eu. Então hoje eu tenho nome e sobrenome. Me chamem de O Homem que Limpa Óculos. Não tenho medo de governo, escola ou igreja. Não tenho medo do vento, da maré ou da moda. Se quiser posso, sem você perceber, primeiro te mostrar como seus óculos estão sujos, e quem sabe, assim, você mesmo não resolve limpar toda essa miséria e imundície que te precede? Já é um começo, não?

domingo, 19 de julho de 2015

Pequena Felicidade

A felicidade no cotidiano é pequena e infantil. No meio da semana sem nenhum motivo aparente eu me sinto livre e um sentimento estranho surge do lado esquerdo do fígado, mais para baixo do pulmão, próximo ao rim. É como uma piada antiga que quando você lembra no meio da rua, sem nenhum amigo para contar, você dá uma risadinha de canto e vê o mundo por cima das suas linhas ridículas e invisíveis pensando "eu sei a piada... Idiotas!".

A piada na realidade pouco importa, o fundamental é a sensação de saber de algo que a estatística da vida inútil nos diz que ninguém naquele logradouro tem ciência da sua lembrança. Passo por este momento me sentindo um ser humano de oito anos de idade, eu descobri algo novo, uma felicidade pequena, ela é minha, não quero dividir com mais ninguém. Então fecho os olhos, já no ponto de ônibus, devagar por um segundo, dois, três, quatro e abro, para verificar se o mundo continua com a mesma cor. Sim. Esta felicidade é tão intensa, apesar de pequena e frágil, como saúde de recém-nascido, que não me deixa lembrar de como o mundo estava antes dela, então sim, o mundo continua colorido como era a cinco segundos atrás quando me lembro de minha pequena felicidade.

Tenho vontade de mudar de caminho, não vou ao trabalho hoje, vou comemorar esta raridade no meio da semana. Tenho um impulso brusco e irresponsável de entrar no primeiro bar que cruzar. Pego o ônibus. Por que pensei num bar? "Ah! O que importa que esta hora todo mundo está trabalhando, este sentimento é meu, não preciso dividi-lo afinal."

O ônibus continua seu percurso, o caminho pelo qual passo todos os dias apresenta novos detalhes, "Eu nunca vi aquele grafite, que legal!", novas perspectivas, parece outro percurso, um novo horizonte a se abrir. "Vou dar sinal e descer por aqui, sei que é uma região boa de boemia". Esta pequena felicidade explode dentro da minha adrenal de uma forma tão forte que parece que vai subir pela corrente sanguínea e linfática até atingir todos os meus tecidos.

"Não vou perder este momento, sou jovem, tenho muito tempo para trabalhar na vida ainda, qual diferença vai fazer em trinta, quarenta anos, não é mesmo?"
E os pontos vão passando, o sol parece derreter até liga metálica, pessoas apressadas atravessam na faixa como se a qualquer momento os carros fossem dar partida, "Uma cervejinha agora seria um milagre", "Por que eu pensei em cerveja?", motos passam correndo pela lateral do ônibus buzinando, duas moças conversam na frente de uma clínica odontológica, "vou descer, pronto, tá decidido".

Desço, as minhas pernas já sabem o caminho, alguns minutos e chego ao meu destino. Troco a roupa, coloco o uniforme, cumprimento meus colegas com boas tardes e abro meu sorriso no balcão da loja. É tudo parte do sistema, o ônibus, as pessoas, as discussões, as crises, a tevê, o dinheiro, a falta de dinheiro, o vizinho. Está tudo planejado e alguma coisa ferve e me alegra. Aquilo que ninguém vê nem cheira. Não tem nome, chamei de pequena felicidade. Estou de pé no balcão a cinco segundos, fecho os meus olhos, seis segundos, sete, oito, abro e está tudo como sempre colorido. Nasce um sorriso no canto dos meus lábios e um pensamento fará hoje ser um dia sem igual "eu sei a piada... Idiotas!".

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O muro

Estou caminhando.
Abro meus olhos, estava dormindo e agora vivo num sonho.
Neste sonho minha pele é feita de escamas, elas não nasceram comigo, foram doadas por anjos.
Eu não voo.
Não tenho asas.
Estou caminhando.
Neste momento de olhos abertos eu caminho descalça sobre um muro. Este muro é longo, mas não muito largo. Tenho que caminhar, o movimento me permite o equilíbrio. Tenho certeza que se parar vou cair, mesmo que isso não tenha acontecido antes.
Por isso continuo caminhando.
Não posso correr, se correr gasto muita energia, me cansarei e posso querer parar para descansar e cair.
Este muro protege algo valioso para alguém, porque está todo crispado com cacos pontudos de vidro, isso me machuca.

Estou caminhando sobre o muro.
De um lado a vida das árvores, com suas raízes profundas. Nunca saem do lugar que nasceram. Segurança e confiança. Sabedoria do solo que as sustenta. Conhecimento adquirido da experiência da constância, do solo e seus nutrientes.
Do outro lado a vida das aves. Voadoras, livres, aventureiras. Cientistas viajam a descobrir novos ares, lugares, vidas. Conhecimento da ciência experimental, dos céus e seus gases.

Estou caminhando e sinto o vento nas minhas raízes fora da terra. Sinto o vento nas minhas costas, onde antes haviam asas dói com o frio.
O equilíbrio do muro faz sentido? Talvez uma hora o cansaço se torne exaustão e eu pare de caminhar por um instante. Só é preciso um momento... E então eu caia do muro. Mas qual lado? A qual lugar pertenço? Devo pertencer a algum lugar?

quinta-feira, 9 de julho de 2015

A paisagem do quintal

Olha esse homem correndo assim pendendo pro lado, parece que vai cair, ha! me lembrei de Pingo. Nunca tive um animal de estimação, um bicho que eu colocasse nome e comida num prato e pensasse "é meu, minha propriedade" e reivindicasse a sua amizade. Pingo não era nosso cachorro, era o animal da casa. Ouvi dizer que ele veio com um pastor vindo de Brasília e quando a família foi embora deixou-o pra trás, como parte da paisagem do quintal junto com o pé de cajá-manga. 
Pingo pendia pra direita quando andava pela rua, não nos acompanhando, afinal antes de ser nossa, a rua já era dele. Pingo já foi atropelado. Dizem que nunca mais atravessou a rua sem olhar para os dois lados. Um cachorro com cicatrizes do passado.
Lembro-me que assim que chegamos ele nos deu as boas-vindas sendo um guia turístico local, quando aprendemos o caminho pro rio ele não nos acompanhava, só ia ao rio pelo mesmo caminho que nós na mesma hora e nos observava de longe, como um avô que nada diz mas mostra preocupação com uma presença silenciosa. Nunca o vi entrar na água doce e corrente do rio, mas se aventurava só ao ver nossa diversão.
Não tenho muitas lembranças daquela cidade perdida no nada do cerrado, entre o rio e o cajá-manga a presença de Pingo era o que nos fazia sentir em casa, mesmo sendo só mais uma casa, por somente mais uns meses.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

O homem dos olhos semi-serrados

Você com certeza já ouviu falar da estória de Alice no país das maravilhas, pois bem, eu passei uma temporada lá num período de interlúdio na minha vida, tentativa de dois cursos diferentes de faculdades bem distintas, passei alguns meses lá naquela aura de sonho e fiz alguns amigos. O primeiro que vou apresentar-lhe é o homem dos olhos semi-serrados. De início pode parecer que ele está assim por conta do sorriso, um pensamento muito justo, afinal de contas esta característica de fechar os olhinhos quando se sorri não é exclusiva dos orientais ou iglus. Contudo, garanto a você que não é isso, perdão, iniciei nossa conversa tratando-lhe como você, espero que não tenha se ofendido, é que falaremos de assuntos muito pessoais, sendo assim, já lhe considero de casa. Continuando... os dias e os momentos foram passando; devo colocar aqui que um dia bom tem um, dois no máximo, o que vi raras vezes, três momentos, ou seja, necessita-se de tempo para a próxima suposta explicação para o olhar semi-serrado do homem de olhos semi-serrados de que fosse a claridade do sol, ou, se a noite, a claridade das luzes artificiais que o forçavam a manter esta face perante o mundo, uma vez que ele nasceu e mora onde o sol reina o ano inteiro. Já me encontrava feliz com esta resposta quando esta teoria caiu, num momento em que conversávamos no escuro, então ligeiramente pensei... Deve andar bêbado, só pode ser isso. Persegui os passos do homem de olhos semi-serrados para descobrir seus hábitos, suas maneiras formais e, principalmente, informais. Então veio o deslumbre de uma descoberta que muito aturdiu a minha busca pela resposta certa, ou pelo menos, mais coerente, que já é muito no mundo em que vivemos agora, o homem de olhos semi-serrados bebe café. Bebe muito café. Esta bebida é digerida quente, açucarada e fresca em época de vacas gordas ou em casa de pessoas generosas, quente e açucarada em trabalhos outrora e agora bem servidos, mas já foi consumida, e disso eu tenho provas irrefutáveis, das maneiras mais sórdidas possíveis, incluindo a vergonha de registrar nestas nossas linhas um lugar que o homem de olhos semi-serrados prestou seus ilustres serviços e lhe era dado em troca café frio, velho e sem açúcar. Porém, esta parte é tão horrenda que prefiro não a mencionar novamente.
Mas agora chega de enrolação, a hora avança e ainda não vivemos um momento hoje, vamos em busca de um, porém não sem antes dizer, que um dia descobri a razão de tudo, os olhos deste homem são continuamente semi-serrados porque a beleza e abundancia que fogem deste solo e deste mar contém tamanha luz e desassossego que lhe quase cega a visão, o homem de olhos semi-serrados na verdade não é um homem, é um menino, pois ainda possui os olhos curiosos de criança, não passou pela metamorfose da vida adulta, quando depois de nós trocarmos os dentes também trocamos os olhos. O homem de olhos semi-serrados precisa assim viver porque ainda possui olhos de leite. E... Agora vamos, continue andando, ainda temos algumas horas para viver um momento hoje, que é o pouco tudo que temos.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Droga

A literatura e a música criam para mim uma fenda no tempo e espaço reais, conseguem me colocar sob uma aura de sonho que permite eu não me tornar alcoólatra ou louca depressiva. Por que o que faz o viciado não é a droga e sim a necessidade de fugir da realidade. Minhas drogas são lícitas.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Ainda Bem que...

Geralmente fico muito triste quando encontro-me sozinha. Nunca fui dada à solidão física, para mim implica mais que ter alguém por perto, é o fato de poder comunicar-se, de interagir com outro intelecto. Por isso gosto de estar com pessoas, apesar de não gostar de multidões, não multidões comuns.
Uma multidão reunida por um propósito é interessante, é como vários cérebros querendo dizer a mesma coisa, mas multidões ocasionalmente são inúteis e estúpidas.
Gosto de encontros, de conversa, gosto de confraternização e festa. Porém de uns dias para cá eu não gosto tanto de festas sem propósito... onde não dá pra conversar... é, acho que estou envelhecendo e descobrindo outras formas de diversão, ainda bem, não iríamos muito longe com a vida que levávamos aos dezessete ou vinte e um.