sexta-feira, 17 de julho de 2015

O muro

Estou caminhando.
Abro meus olhos, estava dormindo e agora vivo num sonho.
Neste sonho minha pele é feita de escamas, elas não nasceram comigo, foram doadas por anjos.
Eu não voo.
Não tenho asas.
Estou caminhando.
Neste momento de olhos abertos eu caminho descalça sobre um muro. Este muro é longo, mas não muito largo. Tenho que caminhar, o movimento me permite o equilíbrio. Tenho certeza que se parar vou cair, mesmo que isso não tenha acontecido antes.
Por isso continuo caminhando.
Não posso correr, se correr gasto muita energia, me cansarei e posso querer parar para descansar e cair.
Este muro protege algo valioso para alguém, porque está todo crispado com cacos pontudos de vidro, isso me machuca.

Estou caminhando sobre o muro.
De um lado a vida das árvores, com suas raízes profundas. Nunca saem do lugar que nasceram. Segurança e confiança. Sabedoria do solo que as sustenta. Conhecimento adquirido da experiência da constância, do solo e seus nutrientes.
Do outro lado a vida das aves. Voadoras, livres, aventureiras. Cientistas viajam a descobrir novos ares, lugares, vidas. Conhecimento da ciência experimental, dos céus e seus gases.

Estou caminhando e sinto o vento nas minhas raízes fora da terra. Sinto o vento nas minhas costas, onde antes haviam asas dói com o frio.
O equilíbrio do muro faz sentido? Talvez uma hora o cansaço se torne exaustão e eu pare de caminhar por um instante. Só é preciso um momento... E então eu caia do muro. Mas qual lado? A qual lugar pertenço? Devo pertencer a algum lugar?

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