Olha esse homem correndo assim pendendo pro lado, parece que vai cair, ha! me lembrei de Pingo. Nunca tive um animal de estimação, um bicho que eu colocasse nome e comida num prato e pensasse "é meu, minha propriedade" e reivindicasse a sua amizade. Pingo não era nosso cachorro, era o animal da casa. Ouvi dizer que ele veio com um pastor vindo de Brasília e quando a família foi embora deixou-o pra trás, como parte da paisagem do quintal junto com o pé de cajá-manga.
Pingo pendia pra direita quando andava pela rua, não nos acompanhando, afinal antes de ser nossa, a rua já era dele. Pingo já foi atropelado. Dizem que nunca mais atravessou a rua sem olhar para os dois lados. Um cachorro com cicatrizes do passado.
Lembro-me que assim que chegamos ele nos deu as boas-vindas sendo um guia turístico local, quando aprendemos o caminho pro rio ele não nos acompanhava, só ia ao rio pelo mesmo caminho que nós na mesma hora e nos observava de longe, como um avô que nada diz mas mostra preocupação com uma presença silenciosa. Nunca o vi entrar na água doce e corrente do rio, mas se aventurava só ao ver nossa diversão.
Não tenho muitas lembranças daquela cidade perdida no nada do cerrado, entre o rio e o cajá-manga a presença de Pingo era o que nos fazia sentir em casa, mesmo sendo só mais uma casa, por somente mais uns meses.
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