quinta-feira, 9 de julho de 2015

A paisagem do quintal

Olha esse homem correndo assim pendendo pro lado, parece que vai cair, ha! me lembrei de Pingo. Nunca tive um animal de estimação, um bicho que eu colocasse nome e comida num prato e pensasse "é meu, minha propriedade" e reivindicasse a sua amizade. Pingo não era nosso cachorro, era o animal da casa. Ouvi dizer que ele veio com um pastor vindo de Brasília e quando a família foi embora deixou-o pra trás, como parte da paisagem do quintal junto com o pé de cajá-manga. 
Pingo pendia pra direita quando andava pela rua, não nos acompanhando, afinal antes de ser nossa, a rua já era dele. Pingo já foi atropelado. Dizem que nunca mais atravessou a rua sem olhar para os dois lados. Um cachorro com cicatrizes do passado.
Lembro-me que assim que chegamos ele nos deu as boas-vindas sendo um guia turístico local, quando aprendemos o caminho pro rio ele não nos acompanhava, só ia ao rio pelo mesmo caminho que nós na mesma hora e nos observava de longe, como um avô que nada diz mas mostra preocupação com uma presença silenciosa. Nunca o vi entrar na água doce e corrente do rio, mas se aventurava só ao ver nossa diversão.
Não tenho muitas lembranças daquela cidade perdida no nada do cerrado, entre o rio e o cajá-manga a presença de Pingo era o que nos fazia sentir em casa, mesmo sendo só mais uma casa, por somente mais uns meses.

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